Pessoas muito inteligentes são uma ameaça

 

 

Prof. Dr. Fabiano de Abreu Rodrigues[1]

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RESUMO

Dizemos que um indivíduo possui inteligência quando ele possui as habilidades de: lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento, comunicação, aprendizado, controle emocional, planejamento e resolução de problemas, devido ao seu nível de conhecimento em diversas áreas, o que faz com que  consiga argumentar em qualquer situação ou com qualquer pessoa. As pessoas inteligentes, são consideradas uma ameaça e o objetivo desse artigo é buscar a compreensão desse fenômeno por meio de uma revisão bibliográfica desenvolvida nas bases de dados PubMed e Scielo e Cinahl.

 

Palavras-chave: inteligência; neurociência; cérebro; cortéx pré-frontal; argumentos; persuasão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Very smart people are a threat

 

 

ABSTRACT

We say that an individual has intelligence when he has the skills of logic, abstraction, memorization, understanding, self-knowledge, communication, learning, emotional control, planning, and problem solving, due to his level of knowledge in several areas, what he does with who can argue in any situation or with anyone. Smart people are considered a threat and the aim of this article is to seek an understanding of this phenomenon through a literature review developed in the PubMed and Scielo and Cinahl databases.

 

Keywords:  intelligence ; neuroscience ; brain, prefrontal cortex ; arguments ; persuasion.

 

 

 

Artículo recibido:  10 Setiembre. 2021

Aceptado para publicación: 15 Octubre. 2021

Correspondencia: [email protected]

Conflictos de Interés: Ninguna que declarar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

1.1 Inteligência

O termo Inteligência surgiu do latim intelligentĭa.  O conceito foi estudado pela primeira vez com o psicólogo inglês chamado Charles Spearmen no início do século XX.  Ele cunhou o termo ‘Inteligência Geral’ ou ‘g’ que se baseou na medida do desempenho das pessoas em uma variedade de testes mentais. A origem etimológica é referente a quem sabe escolher as melhores opções na hora de solucionar alguma questão (Hajisabbagh, 2020).

A psicologia acredita em dois tipos de inteligência que, juntas, constituem o G de Spearman: inteligência cristalizada e fluida. A primeira está associada ao conhecimento e experiência anteriores e reflete a cognição verbal influenciada pela estrutura e espessura cortical em áreas laterais dos lobos temporais. A inteligência fluida requer raciocínio adaptativo em diversas situações.  (Gainotti, 2006; Rodrigues, 2021).

O córtex frontal lateral e o lobo parietal estão relacionado ao raciocínio, atenção, memória, sendo relacionada a inteligência fluida. Em um estudo sobre inteligência fluida usando Matrizes Progressivas Avançadas de Raven comprovou a ativação de diversas áreas no hemisfério esquerdo, em particular o córtex posterior. Pessoas que apresentam uma inteligência fluídica maior, possuem atividade neural nas regiões pré-frontal e parietal lateral (Gray, 2005).

Para Webb et al. (2014), as medidas do volume da substância cinzenta de duas áreas frontais, órbito-frontal (OFC) e córtices cingulados anteriores rostrais (rACC), foram complementadas pela conectividade da substância branca entre essas regiões. Junto a isso, o volume da substância cinzenta esquerda e da conectividade da substância branca entre a órbito-frontal posterior esquerda e o rACC demonstraram até 50% da variância na inteligência geral, principalmente no córtex pré-frontal em relação a sua estrutura, função e conectividade e isso, está relacionado à inteligência geral, especificamente à capacidade de raciocínio e à memória.

1.2 Quociente de inteligência (Q.I.)

O QI é uma escala que auxilia na avaliação e comparação das habilidades de diversos indivíduos nas áreas do pensamento, como por exemplo, na matemática básica, raciocínio ou lógica. Tal valor, é gerado por meio da realização de testes que avaliam uma ou várias áreas. Isso significa que o valor do QI deve ser usado apenas para avaliar as mesmas áreas do conhecimento (Mohamed, 2020; Rodrigues, 2021).

Sendo a principal vantagem a do indivíduo aprender coisas novas ou para aprimorar uma determinada função, indivíduos com um QI mais alto na maioria das vezes, precisam de menos informação para aprender algo novo ou são mais adequados para desempenhar determinada função, enquanto pessoas com um QI menor precisam de mais tempo e de informação mais detalhada (Gardner, 2020).

Gardner (2020) apresenta as classificações de QI:

Tabela 1. Classificações de QI

Superior a 140

Inteligência Genial

De 120 à 140

Inteligência muito superior

De 110 à 120

Inteligência superior

De 90 à 110

Inteligência Normal ou Média

De 80 à 90

Menifesta torpeza, raramente qualificada como debilidade mental

De 70 à 80

Denota debilidade mental fronteiriça

Abaixo de 70

Debilidade Mental definida

                                                         (Fonte: Autor, 2020)

 

1.3 Neurociência e inteligência

Os lados esquerdo e direito do córtex pré-frontal ou lobo frontal são ligados por um feixe grosso de fibras nervosas chamado de corpo caloso. Tais fibras são de cor branca (conjunto de axônios e dendritos) e responsáveis pela troca de informações entre as distintas áreas do córtex cerebral (Focus, 2020).

Em mamíferos superiores (como seres humanos, primatas e cetáceos), o cérebro possuí uma superfície irregular, cheia de áreas mais protuberantes (giros), intercalas com pequenos vales (sulcos), que geram aspecto de enrugamento no cérebro. Já o cérebro de mamíferos menores, como camundongos e ratos, possui poucos giros e sulcos e sua superfície é mais lisa (Focus, 2020).

Existe uma variação de 6,7% na inteligência de um indivíduo em relação ao tamanho de seu cérebro. A frequência da atividade, no lado esquerdo do córtex pré-frontal, corresponde a uma variação de 10% ao desempenho intelectual (Focus, 2020).

 

 

 

Figura 1 – Córtex pré-frontal

Imagem 9

Fonte: Adaptado de Folha et. al. 2013

 

2. OBJETIVO

§  Compreender o porquê de as pessoas inteligentes serem consideradas uma ameaça. 

3. METODOLOGIA

O presente estudo, trata-se de uma revisão bibliográfica desenvolvida em nas bases de dados PubMed e Scielo e Cinahl utilizando os seguintes termos em português: inteligência, cérebro, cortéx pré-frontal, argumentos, persuasão e em inglês: intelligence, brain, prefrontal cortex, arguments, persuasion.

4. RESULTADOS

4.1 Pessoas inteligentes e seus fortes argumentos de convencimento.

A maioria dos indivíduos inteligentes são persuasivos, isso significa que possuem o poder de convencer outras pessoas de que o seu ponto de vista está correto. Ser persuasivo é diferente de ser manipulador, pois o primeiro apresenta fatos verídicos (Turjamaa, 2019).

O indivíduo persuasivo, devido à sua inteligência, consegue se comunicar de maneira mais adequada, pois, seus  conhecimentos variados, permitem-no argumentar em diversas situações. A principal característica desses indivíduos é o otimismo advindo da ciência do próprio conhecimento o que traz a si e aos outros,  conforto e segurança.

Eles também possuem autoconfiança. A necessidade de persuadir sem agressividade, impulsiona sua autoestima. São autênticos e conseguem criar uma conexão emocional sem forçar as pessoas à sua volta. São conscientes, característica importante no convencimento do outro. Apreciam o silêncio, pois sabem que indivíduos que falam muito, perdem.  (Bergren, 2018).

Pessoas inteligentes geralmente têm formação acadêmica e muito conhecimento pela personalidade curiosa, em alguns casos utilizam grandes teóricos para embasar seus pensamentos, lançam mão de seu arcabouço teórico para provar suas ideias, possuem repertório de fala, velocidade no processamento de dados, argumentação clara e convincente (Bergren, 2018).

Fato, é que discutir ou debater com pessoas inteligentes, requer criatividade a serviço da inteligência, pois, há a necessidade de articular o pensamento para expressar conhecimento e assim, encontrar diversidade de defesa. Nessas divergências não cabem agressões nem violência, pois não são pessoas contra pessoas e sim ideias contraponto ideias. O diálogo se torna uma conversa mental desafiadora, enriquecendo quem fala e quem escuta e no final, vence o mais inteligente (Bergren, 2018).

4.2 Pessoas muito inteligentes são uma ameaça

Devido ao fato de indivíduos muito inteligentes terem conhecimento nas mais diversas áreas, consequentemente conseguirão argumentar melhor com outros indivíduos. Sendo assim, quando o outro perde uma disputa, seja física ou intelectual, ocorre um momento de decepção consigo mesmo, que na maioria das vezes é levado a um processo de raiva , cuja reação pode ter o outro como alvo.(Majumder, 2017). O perdedor não contente em ser vencido, pode acabar sentido que seu oponente é uma ameaça, levando a achar que o indivíduo é arrogante e prepotente (Cho, 2020).

Um grande exemplo de líder com alto QI, que foi amado, porém muito mais odiado devido as consequências das atrocidades cometidas e considerado uma grande ameaça, foi o político alemão Adolf Hitler, líder do partido Nazista, conhecido também por seus poderes de persuasão e convencimento (Rodriguez2, 2021).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados apresentados é possível compreender o porquê, de indivíduos inteligentes serem considerados uma ameaça, devido aos seus níveis de conhecimento em diversas áreas, possibilitando que consigam argumentar em qualquer situação ou com qualquer pessoa, causando aos que com ele convivem, sentimentos contraditórios.

Os menos favorecidos intelectualmente sentem-se atraídos, envolvidos e seduzidos e admiram-no pela sua competência em envolver o ouvinte com argumentos lógicos, interessantes, sendo competentes em sua explanação e formando seguidores. Ao mesmo tempo, podem apresentar temor, por serem destaques sempre com sua lucidez e facilidade de liderança, ou sentem aversão, constrangimento, timidez por não estarem à altura de uma conversa em que possam contra-argumentar de forma a fazer frente às ideias destes sujeitos. A característica da mente brilhante gera no outro em via de regra, sentimentos opostos, atração ou aversão. Pessoas com alto QI podem ter problemas de relacionamentos por estarem sempre à frente em sua leitura de mundo e terem uma interpretação mais assertiva e criativa para soluções de questões de ordem prática do cotidiano.

6. REFERÊNCIAS

BERGREN, M.D. Persuasive Presentations: How to Speak So People Will Listen. NASN Sch Nurse. n. 33, v. 4, págs. 220-221, 2018 doi: 10.1177/1942602X18778238

CHO J., Lee HE. Post-adoption beliefs and continuance intention of smart device use among people with physical disabilities. Disabil Health J. 2020 Apr;13(2):100878. doi: 10.1016/j.dhjo.2019.100878. Epub 2019 Dec 5. PMID: 31859232.

FOCUS F.B. Neuroscience methods. Nat Neurosci. n. 23, v. 12, págs. 1455, 2020 doi: 10.1038/s41593-020-00750-z.

FOLHA, O.A.A.C., Junior, P.A. Bahia, C.P. Efeitos do ambiente sobre o período crítico de plasticidade do córtex pré-frontal de ratos adolescentes. Dissertação do PPG em neurociências e biologia celular da Universidade Federal do Pará, Belém, 2013

GAINOTTI, G. Anatomical functional and cognitive determinants of semantic memory disorders. Neurosci. Biobehav. Rev. n. 30, págs. 577–594, 2006 doi: 10.1016/j.neubiorev.2005.11.001

GARDNER, R.M., Dalman, C., Rai, D., Lee, B.K., Karlsson, H. The Association of Paternal IQ With Autism Spectrum Disorders and Its Comorbidities: A Population-Based Cohort Study. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. n. 59, v. 3, págs. 410-421, 2020 doi: 10.1016/j.jaac.2019.04.004.

GRAY, J.R., Chabris, C.F., e Braver, T.S. Neural mechanisms of general fluid intelligence. Nat. Neurosci. v. 6, págs. 316–322, 2003 doi: 10.1038/nn1014

HAIER, R.J., Jung, R.E., Yeo, R.A., Head, K., Alkire, M.T. The neuroanatomy of general intelligence: sex matters. Neuroimage n. 25, págs. 320–327, 2005 doi: 10.1016/j.neuroimage.2004.11.019

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TURJAMAA, R., Pehkonen, A., Kangasniemi, M. How smart homes are used to support older people: An integrative review. Int J Older People Nurs. n. 14, v. 4, e12260, 2019 doi: 10.1111/opn.12260.

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[1] PhD, neurocientista, mestre psicanalista, biólogo, historiador, antropólogo, com formações também em neuropsicologia, psicologia, neurolinguística, neuroplasticidade, inteligência artificial, neurociência aplicada à aprendizagem, filosofia, jornalismo e formação profissional em nutrição clínica - Diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Chefe do Departamento de Ciências da Logos University; Membro da Federação Européia de Neurociências e da Sociedade Brasileira e Portuguesa de Neurociências. Universidades em destaque: Logos University, Nova de Lisboa, Faveni, edX Harvard, Universidad de Madrid.