g. 101
INTELIGÊNCIA E INTERSEÇÕES SOCIAIS:
COMPREENDENDO COMPORTAMENTOS
E EMPATIA EM SOCIEDADES DE ALTO QI
COM ÊNFASE NO ESPECTRO AUTISTA
INTELLIGENCE AND SOCIAL INTERSECTIONS:
UNDERSTANDING BEHAVIORS AND EMPATHY IN
HIGH IQ SOCIETIES WITH AN EMPHASIS ON THE
AUTISM SPECTRUM
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Califórnia University FCE, Portugal
Flávio Henrique dos Santos Nascimento
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) , UFPI, Brasil
Simone Costa Resende da Silva
UNICEUB, Brasil
Luiz Fellipe Gonçalves de Carvalho
Universidade de Chicago, Brasil
Bryne Tan Jin-Yon Bryne
Northwestern University, Singapura
pág. 102
DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v8i3.11180
Inteligência e Interseções Sociais: Compreendendo Comportamentos e
Empatia em Sociedades de Alto QI com Ênfase no Espectro Autista
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues1
deabreu.fabiano@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5487-5852
Pós-Phd em Neurociências - Califórnia
University FCE
Aveiro Portugal
Flávio Henrique dos Santos Nascimento
flaviodonascimento@hotmail.com
https://orcid.org/0009-0007-3760-2936
Bacharel em medicina pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), com
residência médica em psiquiatria pela UFPI
Piauí Brasil
Simone Costa Resende da Silva
siresende.resende@gmail.com
Formanda em Ciências Econômicas e Direito
pelo UNICEUB em Brasília.
Distrito Federal -Brasil
Bryne Tan Jin-Yon Bryne
https://orcid.org/0009-0000-0308-5183
Mestre em Ciências - Northwestern
University
Singapura
Luiz Fellipe Gonçalves de Carvalho
fellipecarvalho@hotmail.com
Mestre em Ciências Sociais pela
Universidade de Chicago
Estado Federal - Brasil
RESUMO
Este estudo aborda as difereas comportamentais em sociedades de alto quociente de inteligência
(QI), fundamentado em análises e depoimentos de membros dessas sociedades, relatos de vítimas
de bullying e contribuições de profissionais das áreas de neuropsicologia, neurociências,
psiquiatria, além dos insights do projeto RG-TEA, focado em estudos sobre o autismo. Observou-
se que no percentil 98 de sociedades de alto QI, uma maior incidência de comportamentos
agressivos, bullying e perseguição, em contraste com o percentil 99,9, onde esses
comportamentos são menos frequentes. A pesquisa revela que a inteligência emocional e social,
juntamente com a resiliência, desempenham um papel crucial nas dinâmicas comportamentais
desses grupos, além da mera inteligência cognitiva. A análise também destaca a significativa
presença de indivíduos autistas com altas habilidades e superdotação no percentil 98.
Contrariamente, observa-se uma menor representação de autistas no percentil acima de 99. Muitos
diagnósticos de superdotação em autistas estão relacionados à busca ativa por avaliações de QI,
frequentemente motivadas por diferenças notadas por pais e profissionais. Notavelmente, autistas
com QI acima de 145, frequentemente classificados como Asperger, apresentam uma maior
capacidade de sociabilização e controle emocional, sugerindo que a inteligência superior pode
compensar os déficits na inteligência emocional e social.
Palavras-chave: Alto QI, Comportamento, Bullying, Inteligência Emocional, Autismo,
Superdotação, Síndrome de Asperger, Neuropsicologia, Neurociências, Psiquiatria, Projeto RG-
TEA
1
Autor principal
Correspondencia: deabreu.fabiano@hotmail.com
pág. 103
Intelligence and Social Intersections: Understanding Behaviors and
Empathy in High IQ Societies with an Emphasis on the Autism
Spectrum
ABSTRACT
This study investigates behavioral differences in high-IQ societies, drawing insights from
analyses and testimonies of society members, accounts from bullying victims, and contributions
from professionals in neuropsychology, neuroscience, psychiatry, and the RG-TEA project
focused on autism research. A notable discrepancy in behavioral patterns is observed between the
98th and 99.9th percentiles of high-IQ societies. The 98th percentile shows a higher incidence of
aggressive behavior, bullying, and persecution. In contrast, such behaviors are markedly less
frequent in the 99.9th percentile. The study underscores the pivotal roles of emotional
intelligence, social intelligence, and resilience in shaping these behavioral dynamics.
Additionally, it highlights the significant presence of autistic individuals with high abilities in the
98th percentile, compared to a smaller representation in higher percentiles. Autistic individuals,
especially those above a 145 IQ threshold, often categorized as Aspergers, exhibit enhanced
social adaptability and emotional regulation, suggesting that superior cognitive intelligence may
compensate for deficits in emotional and social intelligence.
Keywords: High IQ Societies, Behavioral Patterns, Bullying, Emotional Intelligence, Autism,
Giftedness, Asperger’s Syndrome, Neuropsychology, Neuroscience, Psychiatry, RG-TEA Project
Artículo recibido 06 abril 2024
Aceptado para publicación: 09 mayo 2024
pág. 104
INTRODUÇÃO
Na análise da cognição em indivíduos com elevado quociente intelectual (QI), observa-se uma
dicotomia comportamental peculiar. Especificamente, há a manifestação de comportamentos que
se desviam daquilo que se espera de indivíduos com alta capacidade intelectual. Isto é,
incidências de comportamentos zombeteiros, agressivos e persecutórios. Tal fenômeno instiga a
questionar a presença de empatia e a ausência de senso de julgamento em tais indivíduos.
A presente discussão é fundamentada na premissa de que indivíduos autistas carecem de certos
filtros cognitivos e sociais, bem como da capacidade de interpretar e julgar situações sociais de
maneira convencional. A falta destes mecanismos pode ser atribuída a deficiências na integração
de componentes emocionais.
Indivíduos não autistas com alto QI tendem a exibir uma cognição mais reflexiva, permitindo-
lhes manipular seus comportamentos de maneira mais eficaz e exercer um julgamento social mais
afinado. Esta habilidade está intrinsecamente ligada a uma interpretação emocional mais
aprimorada e uma maior consideração das consequências sociais de suas ações.
Por outro lado, indivíduos autistas tendem a operar com base em aprendizados memorizados e
literalidade, com menor preocupação quanto à percepção social de suas ações. Essa característica
está associada a diferenças nas conexões cerebrais, impactando a inteligência emocional e social,
que, por sua vez, afeta a capacidade de comportar-se de maneira que é convencionalmente
considerada como lógica.
Esta análise sugere que a ausência de uma lógica orientada pela inteligência emocional e social
pode ser um fator determinante nas ações de indivíduos autistas, que podem ser percebidas como
ilógicas ou socialmente inapropriadas. A complexidade dessas dinâmicas cognitivas e sociais
continua a ser um tópico de extensiva pesquisa e discussão acadêmica.
Relação do autismo, superdotação e Inteligência emocional e social
No contexto do quociente intelectual elevado e suas implicações comportamentais, é pertinente
considerar as complexas interações entre inteligência, comportamento social e emoções.
Indivíduos com alto QI frequentemente demonstram uma capacidade impressionante de gerenciar
impressões de inteligência e influenciar positivamente a percepção de terceiros quanto a seus
pág. 105
níveis intelectuais (Murphy, 2007). Paralelamente, estudos revelam que habilidades em gerenciar
emoções estão positivamente correlacionadas com a qualidade das interações sociais, ressaltando
a validade preditiva da inteligência emocional (Lopes et al., 2004).
No que tange à neuroanatomia, diferenças significativas foram observadas entre indivíduos com
desordens autísticas de alto funcionamento e controles ao processarem expressões faciais
emocionais. Tais diferenças sugerem bases neurodesenvolvimentais para algumas das anomalias
comportamentais associadas ao autismo (Critchley et al., 2000). Além disso, um estudo
conduzido por Skuse et al. (2009) identificou um efeito de interação sexo-por-QI verbal na
competência em comunicação social, onde um QI verbal acima da média parecia conferir proteção
contra deficiências em comunicação social apenas em sujeitos do sexo feminino.
Na revisão do processamento cognitivo e emocional em indivíduos com transtornos do espectro
autista (TEA), diversas pesquisas destacam anomalias significativas. Estudos indicam
dificuldades na identificação e descrição de emoções, integrantes fundamentais do autismo (Hill,
Berthoz, & Frith, 2004). Além disso, observa-se ativação neural atípica em áreas cerebrais como
o córtex fusiforme, amígdala e ínsula anterior durante o processamento de expressões faciais
emocionais (Leung et al., 2018).
Em paralelo, análises neuroimagem demonstram discrepâncias funcionais em regiões como o giro
fusiforme e a amígdala em tarefas de percepção emocional (Abdi & Sharma, 2004). Estas regiões
cerebrais o críticas na codificação e interpretação de estímulos sociais e emocionais, indicando
uma base neurobiológica para as dificuldades de processamento social em indivíduos com TEA.
Investigações adicionais revelam que as capacidades cognitivas moderam a associação entre o
processamento sensorial atípico e problemas emocionais e comportamentais em indivíduos
autistas (Werkman et al., 2020). Isso sugere que as habilidades cognitivas devem ser consideradas
no cuidado de indivíduos com autismo.
Na literatura científica, a relação entre alto quociente intelectual (QI) e cognição social, bem como
a interpretação emocional, é abordada com uma riqueza de detalhes e complexidade. Estudos
demonstram que indivíduos com alto QI não necessariamente exibem melhor desempenho em
tarefas de inteligência emocional, mas apresentam características distintas na gestão de emoções
pág. 106
e julgamentos sociais (Ciarrochi, Chan, & Caputi, 2000). Por exemplo, altos níveis de inteligência
emocional predizem diferenças individuais no raciocínio de troca social, conforme indicado por
respostas hemodinâmicas em regiões cerebrais específicas durante o raciocínio social (Reis et al.,
2007).
Interessantemente, um estudo sobre crianças em idade pré-escolar com alto QI não encontrou
diferenças significativas em problemas de comportamento, emocionais ou sociais em comparação
com crianças de QI normal (Peyre et al., 2016). Além disso, a pesquisa sugere que o sucesso
acadêmico em estudantes do ensino médio está fortemente associado a rias dimensões da
inteligência emocional (Parker et al., 2004).
Esses estudos apontam para uma compreensão mais matizada do papel da inteligência emocional
em indivíduos com alto QI, sugerindo que a capacidade de interpretar e gerenciar emoções de
maneira eficaz, embora distintamente ligada ao alto QI, também é influenciada por uma variedade
de outros fatores, incluindo características da personalidade e ambiente social.
Indivíduos com transtornos do espectro autista (TEA) apresentam características de
processamento cognitivo e emocional que diferem significativamente das de indivíduos
neurotípicos, sendo estas diferenças atribuídas a alterações nas conexões cerebrais. Estudos
utilizando neuroimagem funcional têm indicado a existência de padrões atípicos de conectividade
cerebral no TEA, particularmente em regiões cerebrais envolvidas no processamento de emoções
e interações sociais.
Por exemplo, Wicker et al. (2008) identificaram anormalidades na conectividade efetiva,
particularmente com o córtex pré-frontal sendo um local chave de disfunção, em adultos com
TEA durante o processamento explícito de emoções. Este achado sugere que a conectividade
anormal de longo alcance entre estruturas do ‘cérebro social poderia explicar os problemas
socioemocionais característicos do TEA Wicker et al., 2008.
Outros estudos, como o de Gotts et al. (2012), reforçam essa visão, mostrando que os indivíduos
com TEA exibem redução na conectividade funcional entre regiões do cérebro social, indicando
uma fracionação’ dos circuitos cerebrais sociais nesses indivíduos Gotts et al., 2012.
pág. 107
A ausência de uma lógica orientada pela inteligência emocional e social em indivíduos com
transtornos do espectro autista (TEA) pode ser um fator determinante nas ações percebidas como
ilógicas ou socialmente inapropriadas. Estudos sugerem que, enquanto indivíduos com TEA
demonstram habilidades intelectuais cognitivas (CI) comparáveis às de seus pares, eles relatam
níveis inferiores de inteligência emocional (EI), devido aos desafios sociais e emocionais
enfrentados por eles (Brady et al., 2014).
A diferença na capacidade de processamento de expressões faciais emocionais também é notável.
Indivíduos com TEA não ativam regiões cerebrais específicas quando avaliam explicitamente
expressões, diferindo significativamente dos controles em regiões como o cerebelo, mesolímbico
e córtex temporal (Critchley et al., 2000).
Essas descobertas corroboram a noção de que as dificuldades em lidar com contextos sociais e
emocionais no TEA estão ligadas a diferenças neurobiológicas, ressaltando a complexidade das
dinâmicas cognitivas e sociais desses indivíduos e a necessidade contínua de investigações
aprofundadas para melhor compreender e abordar suas necessidades.
A empatia, um componente crítico da vida social humana, tem sido estudada extensivamente em
indivíduos com transtornos do espectro autista (TEA). Estudos indicam que as respostas
empáticas atípicas em indivíduos com TEA limitam significativamente a comunicação e as
interações sociais, com diferenças notadas devido a sexo, idade, inteligência e severidade do
transtorno (Harmsen, 2019).
Indivíduos com TEA muitas vezes enfrentam desafios no reconhecimento e descrição de emoções
em outros, o que pode resultar em dificuldades na expressão verbal de empatia (Koegel,
Ashbaugh, Navab, & Koegel, 2015). Pesquisas também revelaram que, embora indivíduos com
TEA apresentem dificuldades em empatia cognitiva, eles são capazes de se conectar com
experiências emocionais de outras pessoas, especialmente quando as emoções têm valência
positiva (Mazza, Pino, Mariano, Tempesta, Ferrara, de Berardis, Masedu, & Valenti, 2014).
Em conclusão, o entendimento da empatia em indivíduos com TEA sugere um perfil complexo,
com capacidades variáveis em diferentes componentes da empatia, abrangendo aspectos
cognitivos e emocionais. Este perfil tem implicações significativas para intervenções
pág. 108
educacionais e terapêuticas destinadas a melhorar a cognição social e o reconhecimento
emocional em pacientes com TEA.
Comportamento em sociedades de alto QI
A análise das diferenças comportamentais em sociedades de indivíduos de alto QI, especialmente
no contexto do transtorno do espectro autista (TEA), revela uma interação complexa entre
habilidades cognitivas e comportamentais.
Em estudos sobre TEA, observa-se que, apesar de alguns indivíduos apresentarem um QI normal
ou acima da média, eles exibem dificuldades em comunicação social e comportamento emocional
ao longo da vida (Critchley et al., 2000). Essas dificuldades estão ligadas a diferenças
neurobiológicas em regiões cerebrais responsáveis pelo processamento de emoções e interações
sociais.
Investigações sobre o espectro de inteligência no TEA revelam que um subconjunto de
indivíduos com TEA que possuem QI elevado, incluindo aqueles diagnosticados com Síndrome
de Asperger, que apresentam habilidades cognitivas intactas (Wang et al., 2013). No entanto,
apesar da alta capacidade intelectual, esses indivíduos ainda enfrentam desafios significativos em
termos de habilidades sociais e de comunicação.
Além disso, um estudo descobriu que as diferenças no QI estão associadas a variações nos
sintomas de autismo e nas habilidades adaptativas. Por exemplo, habilidades de comunicação
adaptativas estavam positivamente relacionadas ao QI, enquanto o funcionamento adaptativo
global estava negativamente associado à sintomatologia do autismo (Kenworthy et al., 2010).
Esses achados destacam que, embora um alto QI possa fornecer certas vantagens cognitivas, ele
não necessariamente atenua as dificuldades nas interações sociais e emocionais enfrentadas por
indivíduos com TEA. Portanto, é crucial levar em consideração o QI e as habilidades cognitivas
ao avaliar e planejar intervenções para indivíduos com TEA.
Estas descobertas destacam a importância de entender a conectividade cerebral no TEA, não
apenas para elucidar os mecanismos subjacentes aos sintomas comportamentais, mas também
para desenvolver intervenções mais eficazes.
pág. 109
DISCUSSÃO
A análise comportamental em sociedades de alto QI revela uma complexa interseção entre
inteligência cognitiva, habilidades sociais e emocionais. Observa-se uma dissonância
comportamental surpreendente, onde alguns membros com QI elevado frequentemente se
engajam em comportamentos que contradizem as expectativas associadas à alta inteligência,
como deboche, agressão e perseguição. Esta constatação leva à reflexão sobre a empatia e o
julgamento moral em indivíduos de alto QI. A discussão se aprofunda ao considerar as diferenças
entre pessoas autistas e não autistas dentro desses grupos.
Indivíduos autistas, algumas vezes inseridos em percentis de QI elevados, mostram-se desafiados
em termos de interpretação emocional e julgamento social. Esta característica parece resultar de
um processamento cerebral distinto, afetando a inteligência emocional e social. Em contraste,
indivíduos não autistas de alto QI demonstram maior capacidade de reflexão antes da ação,
manipulando comportamentos e emoções de maneira mais eficaz. O estudo também aponta para
a resiliência e alta inteligência emocional em pessoas do percentil 98, desafiando a ideia de que
maior inteligência leva a comportamentos sociais mais adequados.
Interessantemente, a pesquisa evidencia uma significante incidência de autistas com altas
habilidades e no percentil 98, comparativamente a um número menor no percentil acima de 99
baseado em relatos de membros destas sociedades. A análise sugere que os diagnósticos de
superdotação em autistas podem estar influenciados pela busca ativa por avaliações de QI por
pais e profissionais, levando a uma sobre-representação de autistas classificados como
superdotados ou de alta habilidade.
A discussão se aprofunda com a observação de que autistas com QI acima de 145, muitas vezes
classificados como Asperger, exibem uma maior sociabilidade e controle emocional que os
autistas nível 1 de suporte com QI na faixa de 130 ou com altas habilidades e QI de 115 a 129.
Esta constatação sugere que a inteligência superior pode ser um fator compensatório para os
déficits na inteligência emocional e social.
As conclusões deste estudo foram embasadas em análises e depoimentos de membros de
sociedades de alto QI, relatos de vítimas de bullying, e contribuições de profissionais em
pág. 110
neuropsicologia, neurociências, psiquiatria, e do projeto RG-TEA, focado em autismo. Este
amplo espectro de perspectivas reforça a necessidade de uma abordagem multidimensional para
compreender as dinâmicas comportamentais em sociedades de alto QI, especialmente no que se
refere à interseção entre inteligência cognitiva, habilidades emocionais e sociais, e autismo.
Acreditamos que uma dificuldade na inteligência g, quando não acompanhada de inteligência
emocional, reside na incapacidade de captar e expressar, de forma não literal, as nuances
complexas da sociedade.
Tomemos, por exemplo, o raciocínio lógico que leva alguém a se considerar inteligente,
equiparando-se aos grandes nomes da história. Isso desemboca na criação de uma narrativa
fictícia, alimentada pela imaginação. Contudo, compreender a subjetividade do ser humano
implica reconhecer que ser inteligente não necessariamente se traduz em descobrir uma nova
fórmula ou alcançar grandes feitos. Essa conscientização, proporcionada pela inteligência
emocional, ajusta nossas perspectivas, colocando-nos num patamar social mais realista e
comparativo.
A propensão a construir e acreditar em ficções é um fenômeno ideológico, enquanto a
subjetividade emocional nos posiciona mais precisamente na realidade. Vivemos em uma era
onde as estátuas não se erguem mais e qualquer descoberta é vista como uma mera ação sem
grande relevância para o público em geral. Neste tempo, a inteligência frequentemente leva ao
isolamento, pois, mesmo diante da incompreensão, ao invés de buscar entender, as pessoas
tendem a julgar.
Considerações Finais
Este estudo revelou a complexidade das interações comportamentais em sociedades de alto QI,
destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar para compreender tais dinâmicas.
A dissonância entre a alta inteligência cognitiva e os comportamentos observados ressalta a
necessidade de uma compreensão mais profunda das habilidades sociais e emocionais nesses
contextos. A percepção de que o alto QI não garante automaticamente uma maior maturidade
emocional ou comportamentos socialmente adaptativos é crucial para desmistificar estereótipos
associados à inteligência.
pág. 111
Para indivíduos autistas, particularmente aqueles com altas habilidades e superdotação, o estudo
enfatiza a complexidade de seus desafios e a variabilidade nas manifestações de suas habilidades
sociais e emocionais. O fato de autistas com QI acima de 145 demonstrarem maior sociabilidade
e controle emocional sugere caminhos potenciais para intervenções e suporte, ressaltando a
importância de abordagens personalizadas que levem em conta as especificidades de cada
indivíduo.
Além disso, a pesquisa aponta para a influência de fatores externos, como expectativas sociais e
familiares, na identificação de altas habilidades e superdotação em indivíduos autistas. Este
achado reforça a necessidade de cautela e precisão nos diagnósticos e na avaliação de habilidades
cognitivas e emocionais, evitando conclusões apressadas ou estereotipadas.
Em suma, este estudo contribui para uma compreensão mais rica e matizada das interações sociais
e emocionais em sociedades de alto QI, com implicações significativas para a pesquisa futura,
diagnóstico e intervenções clínicas. Ressalta-se a importância de considerar tanto os aspectos
cognitivos quanto emocionais e sociais na avaliação e apoio a indivíduos nestas sociedades,
particularmente aqueles no espectro autista.
Declaração de contribuições: Rodrigues, F. A. A. foi o idealizador, dono e criador do conceito,
escreveu e revisou o manuscrito. Orientou a equipe na coleta de dados e revisou o manuscrito.
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