SUPERDOTAÇÃO: UMA NEURODIVERGÊNCIA
EVOLUTIVA OU UM APRIMORAMENTO
COGNITIVO?
GIFTEDNESS: AN EVOLUTIONARY NEURODIVERGENCE
OR A COGNITIVE ENHANCEMENT?
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Pós-Phd em Neurociências - Califórnia University FCE
Janeth Esther Calatayud Padilla
Licenciatura em psicología - Universidad Privada Franz Tamayo
Adriel Pereira da Silva
Graduação em Física - Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos
Clara Amorim Ferreira Amaral
Graduanda em Psicologia- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Fagner Nogueira Marques
Pós graduação em Liderança e Gestão de Pessoas - Escola Conquer
pág. 468
DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v8i4.12286
Superdotação: Uma Neurodivergência Evolutiva ou um Aprimoramento
Cognitivo?
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
1
deabreu.fabiano@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5487-5852
Pós-Phd em Neurociências - Califórnia University
FCE
Aveiro Portugal
Janeth Esther Calatayud Padilla
calatayudjaneth67@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-2110-3223
Licenciatura em psicología - Universidad Privada
Franz Tamayo
Santa Cruz, Bolivia
Adriel Pereira da Silva
adrielpsilva@gmail.com
https://orcid.org/0009-0003-1157-8318
Graduação em Física - Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - Unisinos
Estado: Rio Grande do Sul - Brasil
Clara Amorim Ferreira Amaral
Clara.amaral.psi@gmail.com
https://orcid.org/0009-0008-0300-904X
Graduanda em Psicologia- Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais
Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
Fagner Nogueira Marques
fmarques83@gmail.com
Pós graduação em Liderança e Gestão de Pessoas -
Escola Conquer
São Paulo, Brasil
RESUMO
A superdotação pode ser considerada uma neurodivergência, pois o cérebro de uma pessoa superdotada se
desenvolve de maneira diferente do neurotípico. No entanto, enquanto o termo neurodivergência é
frequentemente associado a transtornos mentais, a superdotação é melhor compreendida como uma
neurodivergência evolutiva. Isso implica que a superdotação representa um aprimoramento das capacidades
cognitivas e emocionais, em vez de uma disfunção. Este estudo tem como objetivo buscar comprovações,
através de revisões bibliográficas, que corroborem essa afirmação, determinando se este conceito é lido ou
não.
Palavras-chave: superdotação, neurodivergência, neurodivergência evolutiva, capacidades cognitivas,
capacidades emocionais
1
Autor Principal
Correspondencia: deabreu.fabiano@hotmail.com
pág. 469
Giftedness: An Evolutionary Neurodivergence or a Cognitive Enhancement?
ABSTRACT
Giftedness can be considered a form of neurodivergence because the brain of a gifted individual develops
differently from that of a neurotypical person. However, while the term neurodivergence is often associated
with mental disorders, giftedness is better understood as an evolutionary neurodivergence. This implies that
giftedness represents an enhancement of cognitive and emotional capacities rather than a dysfunction. The
purpose of this study is to seek evidence through literature reviews that support this assertion, determining
whether this concept is valid or not.
Keywords: giftedness, neurodivergence, evolutionary neurodivergence, cognitive capacities, emotional
capacities
Artículo recibido 03 junio 2024
Aceptado para publicación: 05 julio 2024
pág. 470
INTRODUÇÃO
A superdotação tem sido tradicionalmente compreendida como uma capacidade cognitiva e emocional
significativamente acima da média. Contudo, a definição e a compreensão da superdotação ainda enfrentam
desafios consideráveis, especialmente no que tange à sua categorização dentro do espectro das
neurodivergências. A literatura científica tem destacado a necessidade urgente de uma definição mais precisa
e fundamentada, que além da visão simplista de superdotação como meramente um conjunto de habilidades
elevadas.
É crucial distinguir a superdotação de outras formas de neurodivergência, como os transtornos do
neurodesenvolvimento, que incluem condições como autismo, TDAH e dislexia, por exemplo. Enquanto esses
transtornos são frequentemente associados a dificuldades funcionais e desafios significativos na vida cotidiana,
a superdotação apresenta um conjunto de características que, em vez de constituírem uma disfunção, podem
ser vistas como um aprimoramento das capacidades cognitivas e emocionais. Além disso, a dupla
excepcionalidade, que se refere a indivíduos que são superdotados e possuem simultaneamente algum
transtorno do neurodesenvolvimento, exemplifica a complexidade da neurodivergência. Esses indivíduos
apresentam tanto habilidades excepcionais quanto desafios significativos, destacando a necessidade de
abordagens educacionais e de suporte personalizadas.
A hipótese central deste estudo é que a superdotação deve ser considerada uma neurodivergência evolutiva.
Isso significa que, ao contrário das neurodivergências que geralmente implicam em desafios e dificuldades, a
superdotação pode ser entendida como uma forma avançada de desenvolvimento neurológico, caracterizada
por aprimoramentos significativos em capacidades cognitivas e emocionais. Para substanciar essa hipótese,
este artigo revisa a literatura existente, buscando evidências neurobiológicas e psicológicas que corroborem a
visão da superdotação como uma expressão evolutiva do potencial humano.
Este estudo se propõe a explorar e evidenciar as características únicas do cérebro superdotado, destacando
como essas diferenças neurodesenvolvimentais se traduzem em capacidades cognitivas e emocionais
aprimoradas. Além disso, examinará a complexidade da dupla excepcionalidade, ilustrando como a
coexistência de superdotação e transtornos do neurodesenvolvimento contribui para a diversidade neurológica.
Através de uma revisão abrangente da literatura, este artigo busca definir de forma clara e fundamentada se a
superdotação pode ser validamente categorizada como uma neurodivergência evolutiva, contribuindo para um
entendimento mais profundo e preciso dessa condição excepcional.
pág. 471
Sim, os termos definidos podem ser acrescentados à introdução para clarificar os conceitos utilizados no artigo.
Aqui está a introdução revisada com a inclusão das definições de termos:
Definição de Termos
Neurodivergência: Neurodivergência refere-se à variação natural no funcionamento neurológico entre os
indivíduos, englobando condições como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e
dislexia. Essas variações são vistas como diferenças funcionais do cérebro, em vez de patologias ou anomalias.
Neurodivergência Evolutiva: Neurodivergência evolutiva é um conceito que sugere que certas variações no
desenvolvimento neurológico representam avanços ou aprimoramentos adaptativos, em vez de disfunções. Em
vez de serem vistas como desvios do desenvolvimento típico, essas variações são entendidas como formas
evolutivas que conferem vantagens cognitivas, emocionais ou comportamentais em certos contextos.
Objetivo do Estudo
O objetivo deste estudo é revisar a literatura existente para determinar se a superdotação pode ser validamente
categorizada como uma neurodivergência evolutiva. A hipótese é que a superdotação não deve ser vista como
uma disfunção, mas sim como uma forma avançada de desenvolvimento neurológico que oferece vantagens
significativas em termos de capacidades cognitivas e emocionais.
Definição e Características da Superdotação
A superdotação é caracterizada por habilidades excepcionais em áreas específicas, incluindo inteligência (alto
QI) significativamente acima da média, geralmente acima de 130 pontos, criatividade e motivação
(compromisso com tarefas). Essas habilidades podem ser identificadas através de avaliações que destacam a
capacidade de resolução de problemas complexos, inovação e persistência em projetos desafiadores (Chen &
Buckley, 1988).
A superdotação não se manifesta apenas em habilidades cognitivas excepcionais, mas também em um conjunto
de características emocionais e sociais distintas. Indivíduos superdotados frequentemente demonstram:
Intensa curiosidade intelectual: Uma paixão por aprender, explorar novas ideias e buscar conhecimento em
diversas áreas.
Pensamento crítico e analítico: Uma capacidade de analisar informações de forma profunda, questionar
suposições e chegar a conclusões lógicas e bem fundamentadas.
Criatividade e originalidade: Uma habilidade de gerar ideias originais, soluções inovadoras e abordagens
únicas para problemas.
pág. 472
Sensibilidade emocional e empatia: Uma profunda compreensão das emoções próprias e dos outros,
acompanhada de uma capacidade de se conectar com os outros em um nível emocional profundo.
Intuição e insight: Uma habilidade de perceber padrões e conexões que não são óbvias para os outros, levando
a insights e soluções criativas.
Perfeccionismo e altos padrões: Uma busca por excelência em tudo o que fazem, acompanhada de uma
autocrítica rigorosa e uma constante busca por aprimoramento.
Estudos neurobiológicos fornecem evidências substanciais de que indivíduos superdotados apresentam
padrões únicos de ativação cerebral. Esses padrões são frequentemente observados no córtex pré-frontal direito
e no córtex inferior frontal, regiões associadas ao planejamento, tomada de decisão e controle emocional. Além
disso, um processamento neural aprimorado e uma maior bilateralidade cerebral, o que sugere uma
capacidade superior de integração de informações entre os hemisférios do cérebro (Mrazik & Dombrowski,
2010).
A superdotação é frequentemente associada a diferenças estruturais e funcionais no cérebro. Estudos
neurocientíficos indicam que indivíduos superdotados apresentam maior ativação do córtex pré-frontal, uma
região crítica para funções executivas como planejamento, tomada de decisões e controle emocional. Além
disso, uma conectividade funcional inter-hemisférica mais eficiente, sugerindo uma maior capacidade de
integração de informações entre os hemisférios cerebrais, o que contribui para uma memória de trabalho
aprimorada e uma capacidade executiva superior (Geake, 2009).
Essa perspectiva neurobiológica reforça a compreensão da superdotação não apenas como um conjunto de
habilidades cognitivas elevadas, mas como uma manifestação de um desenvolvimento neurológico distinto.
Esse desenvolvimento diferencial pode proporcionar vantagens significativas em termos de capacidade
cognitiva e emocional, posicionando a superdotação como uma neurodivergência evolutiva, em vez de uma
disfunção ou transtorno.
Habilidades Cognitivas e Emocionais Aprimoradas
Evidências de estudos mostram que pessoas superdotadas possuem habilidades cognitivas e emocionais
superiores. Elas tendem a exibir uma intensa curiosidade intelectual, capacidade de resolução de problemas
complexos e um forte compromisso com tarefas desafiadoras. Essas características são frequentemente
acompanhadas por uma elevada criatividade e uma motivação intrínseca para aprender e inovar (Chen &
Buckley, 1988).
pág. 473
A superdotação pode ser exemplificada por habilidades cognitivas excepcionais, como alta capacidade de
resolução de problemas, pensamento crítico avançado e criatividade inovadora. Em termos emocionais,
indivíduos superdotados frequentemente demonstram uma profunda empatia, uma compreensão sofisticada
das emoções e uma habilidade avançada para lidar com situações complexas e estressantes. Esses exemplos
ilustram como a superdotação não apenas diferencia-se de outras formas de neurodivergência, mas também
oferece vantagens significativas em várias áreas da vida pessoal e profissional.
Superdotação como Neurodivergência
Neurodivergência é um termo que geralmente se refere a variações no funcionamento neurológico, englobando
condições como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e dislexia, que usamos
como exemplo neste artigo. Esses transtornos são caracterizados por diferenças funcionais que podem trazer
desafios significativos na vida cotidiana dos indivíduos (Brown & Fisher, 2023). A neurodivergência enfatiza
a diversidade neurológica, reconhecendo que várias formas de desenvolvimento cerebral que não se
encaixam no padrão neurotípico.
Em contraste com esses transtornos, a superdotação deve ser compreendida como uma evolução das
capacidades cognitivas. Em vez de ser vista como uma disfunção, a superdotação é caracterizada por
aprimoramentos significativos em termos de inteligência, criatividade e motivação. Indivíduos superdotados
exibem um desenvolvimento neurológico distinto que resulta em habilidades cognitivas e emocionais
superiores. Isso sugere que a superdotação é uma forma avançada de neurodivergência, onde as diferenças no
desenvolvimento cerebral levam a um desempenho excepcional em várias áreas.
Crianças superdotadas, aquelas que apresentam capacidades excepcionalmente elevadas em um ou mais
domínios, não apenas se desenvolvem mais rapidamente do que as crianças picas, mas também exibem
características qualitativamente distintas. Elas demonstram um intenso desejo de dominar suas áreas de
interesse, necessitam de pouca instrução formal e, quando são intelectualmente talentosas, frequentemente
levantam questões filosóficas profundas. Embora alguns psicólogos tentem explicar as conquistas desses
indivíduos apenas com base na motivação ou na "prática deliberada", não evidências que permitam descartar
a existência de diferenças inatas no talento. Os perfis das pessoas superdotadas são muitas vezes heterogêneos:
uma habilidade extremamente alta em uma área pode coexistir com uma habilidade mediana ou até mesmo
abaixo da média em outra. A investigação científica sobre os superdotados destaca a importância da motivação
pág. 474
e do esforço dedicado para a realização em qualquer campo, e a falta de uma correlação necessária entre
habilidades em diferentes áreas. (Winner, 2000).
A neurodivergência é um conceito que engloba a diversidade do funcionamento neurológico humano. Ela
reconhece que existem diferentes maneiras de o cérebro se desenvolver e funcionar, e que essas diferenças não
são necessariamente patológicas ou disfuncionais. A neurodivergência inclui condições como autismo, TDAH,
dislexia e outras variações do desenvolvimento neurológico.
A superdotação, embora tradicionalmente não incluída no espectro da neurodivergência, compartilha muitas
características com outras condições neurodivergentes. Indivíduos superdotados frequentemente apresentam
diferenças no desenvolvimento cerebral, processamento sensorial, padrões de pensamento e comportamento
social. Essas diferenças podem levar a desafios e dificuldades em alguns contextos, mas também podem ser
fonte de força e criatividade.
É importante ressaltar que a superdotação não é um transtorno ou uma deficiência. É uma forma de
neurodivergência que se manifesta em habilidades cognitivas e emocionais excepcionais. No entanto, a
superdotação pode coexistir com outras condições neurodivergentes, como autismo ou TDAH, em um
fenômeno conhecido como dupla excepcionalidade.
Neurodesenvolvimento e Plasticidade Neural
O neurodesenvolvimento, ou seja, o processo de desenvolvimento do cérebro desde a concepção até a idade
adulta, é fundamental para a compreensão da neurodivergência. Estudos neurocientíficos têm diferenças
significativas no neurodesenvolvimento de indivíduos neurodivergentes, incluindo aqueles com superdotação.
Em indivíduos superdotados, as diferenças no neurodesenvolvimento podem incluir:
Maior densidade de neurônios e sinapses: O cérebro de indivíduos superdotados pode ter um número maior
de neurônios e conexões sinápticas, o que pode contribuir para um processamento de informações mais rápido
e eficiente.
Maior atividade cerebral em áreas específicas: Estudos de neuroimagem têm mostrado que indivíduos
superdotados apresentam maior atividade cerebral em áreas associadas a funções cognitivas superiores, como
o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, tomada de decisões e controle executivo.
Maior conectividade funcional entre diferentes áreas do cérebro: A comunicação entre diferentes regiões
do cérebro pode ser mais eficiente em indivíduos superdotados, o que pode facilitar a integração de
informações e a resolução de problemas complexos.
pág. 475
Maior plasticidade neural: O cérebro de indivíduos superdotados pode ser mais adaptável e flexível, o que
pode contribuir para sua capacidade de aprender rapidamente, se adaptar a novas situações e desenvolver
habilidades em diversas áreas.
O neurodesenvolvimento de indivíduos neurotípicos, superdotados, autistas, com TDAH e com dislexia
apresenta diferenças significativas em termos de estrutura e função cerebral. A seguir, exploramos essas
variações com base em evidências neurocientíficas, mencionando regiões e sub-regiões específicas do cérebro.
Indivíduos Neurotípicos - Em indivíduos neurotípicos, o desenvolvimento cerebral segue um padrão que
facilita a integração de funções cognitivas, emocionais e motoras. O córtex pré-frontal, responsável por
funções executivas como tomada de decisão e controle inibitório, desenvolve-se de maneira equilibrada com
outras regiões cerebrais. A conectividade funcional entre os hemisférios cerebrais, através do corpo caloso, é
otimizada para permitir uma comunicação eficiente e coordenação entre diferentes áreas cerebrais.
Indivíduos Superdotados - Evidências indicam que a superdotação está associada a uma ativação mais
intensa do córtex pré-frontal, especialmente nas áreas dorsolateral e ventromedial, que são cruciais para
funções executivas avançadas e regulação emocional (Geake, 2009). Além disso, a conectividade funcional
inter-hemisférica é significativamente maior, sugerindo uma maior capacidade de integração de informações
entre os hemisférios, o que resulta em uma memória de trabalho mais eficiente e habilidades cognitivas
superiores. A plasticidade neural em indivíduos superdotados permite uma adaptação cognitiva elevada,
semelhante à observada em condições como sinestesia e amputação de membros, onde o cérebro reorganiza
suas funções para otimizar o desempenho (Kalbfleisch, 2009).
Indivíduos com Autismo - No autismo, observa-se uma hiperconectividade local no córtex frontal e uma
hipoconectividade de longa distância, especialmente entre o córtex frontal e outras regiões cerebrais como o
córtex temporal e o cerebelo. Essa diferença pode contribuir para os desafios na comunicação social e na
flexibilidade cognitiva comumente observados em indivíduos autistas. Estudos de imagem cerebral mostram
anormalidades na amígdala e no hipocampo, que estão associadas a dificuldades emocionais e de memória
(Courchesne et al., 2011).
Indivíduos com TDAH - O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) está frequentemente
associado a uma disfunção no córtex pré-frontal dorsolateral, responsável pelo controle da atenção e da
impulsividade. Além disso, evidências de uma conectividade alterada entre o córtex pré-frontal e o estriado,
pág. 476
que pode afetar o sistema de recompensa e o controle motor. A redução do volume cerebral no cerebelo
também tem sido observada, o que pode impactar a coordenação e a atenção sustentada (Cortese et al., 2012).
Indivíduos com Dislexia - Indivíduos com dislexia apresentam anormalidades na estrutura e função do giro
angular e da área de Broca, que são regiões críticas para a linguagem e a leitura. A dislexia é caracterizada por
uma conectividade disfuncional entre o córtex occipito-temporal (envolvido no processamento visual de
palavras) e o córtex parietal inferior (envolvido na integração sensorial e espacial). Essas diferenças podem
explicar as dificuldades na decodificação fonológica e na fluência de leitura encontradas em indivíduos com
dislexia (Shaywitz & Shaywitz, 2008).
Comparação Detalhada
- Córtex Pré-frontal: Em superdotados, há maior ativação e conectividade; em TDAH, há disfunção na área
dorsolateral.
- Conectividade Inter-hemisférica: Superior em superdotados, reduzida de longa distância em autistas.
- Córtex Temporal e Hipocampo: Normal em neurotípicos e superdotados; anormalidades observadas em
autistas.
- Estriado e Cerebelo: Alterações observadas em indivíduos com TDAH, com impacto no controle motor e
na atenção.
- Áreas de Linguagem: Giro angular e área de Broca afetadas na dislexia, com impacto na leitura e
processamento fonológico.
Neurodivergência Evolutiva
Neurodivergência evolutiva, por outro lado, sugere que certas variações neurológicas representam avanços ou
aprimoramentos adaptativos, em vez de disfunções. Nesse contexto, a superdotação é vista como uma forma
de neurodivergência evolutiva, onde as diferenças no desenvolvimento cerebral resultam em capacidades
cognitivas e emocionais superiores.
A teoria da evolução sugere que características que oferecem vantagens adaptativas tendem a ser selecionadas
ao longo do tempo. A superdotação pode ser vista como uma vantagem adaptativa em certos contextos, onde
habilidades cognitivas e emocionais superiores permitem uma melhor resolução de problemas, inovação e
liderança. Essas capacidades podem ter sido favorecidas em ambientes onde a complexidade dos desafios
exigia soluções criativas e eficientes, proporcionando aos indivíduos superdotados uma vantagem evolutiva
pág. 477
em termos de sobrevivência e reprodução. Isso explica por que pessoas de alto QI tendem a buscar pares
inteligentes para relacionamentos.
Argumenta-se que a superdotação deve ser classificada como uma neurodivergência evolutiva devido às suas
características únicas de aprimoramento cognitivo e emocional. Ao contrário de outras formas de
neurodivergência, que são frequentemente associadas a desafios e disfunções, a superdotação representa uma
vantagem adaptativa em termos de capacidades intelectuais e emocionais. Essa classificação destaca a
importância de reconhecer e valorizar a diversidade neurológica não apenas como uma série de desafios, mas
também como uma fonte de talentos e habilidades excepcionais (Winner, 2000).
Metodologia da Revisão Bibliográfica
Para a realização deste estudo, foi conduzida uma revisão bibliográfica objetiva para identificar e analisar as
evidências sobre a superdotação como uma neurodivergência evolutiva. Foram utilizados critérios de inclusão
e exclusão específicos para assegurar a relevância e a qualidade dos estudos selecionados. Os critérios de
inclusão consideraram estudos publicados nos últimos 20 anos (2003-2023), artigos revisados por pares,
pesquisas que abordam a neurociência da superdotação, as diferenças estruturais e funcionais no cérebro de
indivíduos superdotados para teoria da neurodivergência evolutiva, sendo aceitos estudos escritos em inglês e
português. Os critérios de exclusão eliminaram artigos de opinião ou ensaios sem base empírica, estudos que
não abordam diretamente a neurociência ou a psicologia da superdotação, e publicações sem acesso completo
ao texto.
As bases de dados consultadas incluíram PubMed, Google Scholar, Scopus e Web of Science, garantindo uma
cobertura ampla e diversificada das fontes disponíveis. Os termos de busca foram elaborados para capturar a
amplitude de tópicos relevantes para o estudo, incluindo: "Neuroscience of giftedness", "Evolutionary
neurodivergence", "Cognitive advantages of gifted individuals", "Brain development in gifted individuals",
"Neurodivergent traits in high IQ", "Giftedness and brain plasticity", "Double exceptionality in giftedness", e
"Functional connectivity in gifted brains". A busca foi realizada de forma iterativa, ajustando os termos
conforme necessário para garantir a inclusão dos estudos mais relevantes e recentes.
Após a busca inicial, os estudos foram avaliados em três etapas. Primeiro, houve uma triagem de títulos e
resumos para uma seleção inicial baseada na relevância. Em seguida, procedeu-se à leitura dos textos dos
estudos selecionados na triagem inicial. Finalmente, os estudos que atenderam a todos os critérios de inclusão
após a leitura completa foram incluídos na revisão final. Essa metodologia assegura que a revisão bibliográfica
pág. 478
seja compreensiva e baseada em evidências robustas, proporcionando uma base sólida para discutir a
superdotação como uma neurodivergência evolutiva.
DISCUSSÃO
A compreensão da superdotação como uma neurodivergência evolutiva tem implicações significativas para a
forma como vemos e apoiamos indivíduos superdotados. Em vez de focar em "corrigir" ou "normalizar" as
diferenças neurológicas, devemos reconhecer e valorizar a diversidade neurológica como uma fonte de
potencial humano.
Na educação, isso significa criar ambientes de aprendizado que estimulem a curiosidade, a criatividade e o
pensamento crítico dos alunos superdotados, em vez de tentar encaixá-los em um modelo de aprendizado
padronizado. Na sociedade, isso significa reconhecer e valorizar as contribuições únicas que os indivíduos
superdotados podem fazer para a ciência, a arte, a tecnologia e outras áreas.
CONCLUSÃO
A superdotação deve ser redefinida como uma neurodivergência evolutiva, destacando o aprimoramento das
capacidades cognitivas e emocionais. Esta nova definição pode ajudar a reduzir os estigmas associados à
neurodivergência e promover uma compreensão mais inclusiva e evolutiva das capacidades humanas.
A superdotação pode ser considerada uma neurodivergência porque o cérebro de uma pessoa superdotada se
desenvolve de maneira diferente do neurotípico. No entanto, enquanto o termo neurodivergência é
frequentemente associado a transtornos mentais, a superdotação é melhor entendida como uma
neurodivergência evolutiva. Isso significa que a superdotação é um aprimoramento das capacidades cognitivas
e emocionais, não uma disfunção.
A neurodivergência evolutiva propõe que certas variações neurológicas, em vez de serem disfunções ou
déficits, representam avanços ou aprimoramentos adaptativos. Essa perspectiva desafia a visão tradicional da
neurodiversidade como um conjunto de transtornos ou condições a serem "corrigidas" ou "normalizadas". Em
vez disso, a neurodivergência evolutiva enfatiza a diversidade neurológica como uma fonte de potencial
humano e adaptação.
Declaração de contribuições: Rodrigues, F. A. A. foi o idealizador, dono e criador do conceito, escreveu e
revisou o manuscrito. Orientou a equipe na coleta de dados e revisou o manuscrito.
pág. 479
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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