g. 4904
CARACTERÍSTICAS, RELAÇÃO COM O
PERFIL COGNITIVO E IMPACTOS DO
ATRASO DE LINGUAGEM EM PESSOAS COM
ALTO QI
CHARACTERISTICS, RELATIONSHIP WITH COGNITIVE
PROFILE AND IMPACTS OF LANGUAGE DELAY IN PEOPLE
WITH HIGH IQ
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Califórnia University FCE, Portugal
Luiz Felipe Chaves Carvalho
Logos University International, Estados Unidos
Júlia Lima do Espirito Santo
Pontificia Universidad Católica de Río Grande del Sur-PUCRS, Brasil
pág. 4905
DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v8i4.12718
Características, Relação com o Perfil Cognitivo e Impactos do Atraso de
Linguagem em Pessoas com Alto QI
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
1
deabreu.fabiano@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5487-5852
Pós-Phd em Neurociências - Califórnia
University FCE
Aveiro Portugal
Luiz Felipe Chaves Carvalho
cirurgiafelipe@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-3777-5910
Médico ortopedista especialista em cirurgia da
coluna vertebral e em tratamentos com célula
tronco
Logos University International
Estados Unidos
Júlia Lima do Espirito Santo
julialsp@yahoo.com.br
https://orcid.org/0009-0000-4550-9829
Mestrado em Neurociências-
Pontificia Universidad Católica de Río Grande
del Sur-PUCRS
RS - Brasil
RESUMO
O artigo aborda as características, a relação com o perfil cognitivo e os impactos do atraso de linguagem
em pessoas com alto QI. Explora as possíveis causas do atraso de linguagem, como problemas auditivos,
ambiente linguístico pobre, condições neurológicas e físicas, fatores genéticos, deficiência intelectual,
e problemas psiquiátricos. Também discute e investiga o desenvolvimento cerebral compensatório, as
particularidades e possíveis razões do atraso de linguagem em crianças superdotadas. O artigo destaca
a necessidade de uma análise detalhada para diferenciar entre causas como TEL, TEA e TDAH,
considerando a interação com a superdotação, introversão e o perfeccionismo.
Palavras-chave: atraso de linguagem, alto QI, superdotação, perfil cognitivo, transtorno do espectro
autista, transtorno específico de linguagem, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
1
Autor principal
Correspondencia: deabreu.fabiano@hotmail.com
pág. 4906
Characteristics, Relationship with Cognitive Profile and Impacts of
Language Delay in People with High IQ
ABSTRACT
The article looks at the characteristics, relationship to cognitive profile and impacts of language delay
in people with high IQ. It explores the possible causes of language delay, such as hearing problems,
poor linguistic environment, neurological and physical conditions, genetic factors, intellectual disability,
and psychiatric problems. It also discusses and investigates compensatory brain development, the
particularities and possible reasons for language delay in gifted children. The article highlights the need
for a detailed analysis to differentiate between causes such as SLD, ASD and ADHD, considering the
interaction with giftedness, introversion and perfectionism.
Keywords: language delay, high IQ, giftedness, cognitive profile, autism spectrum disorder, specific
language disorder, attention deficit hyperactivity disorder
Artículo recibido 05 junio 2024
Aceptado para publicación: 08 julio 2024
pág. 4907
Características, Relación con el Perfil Cognitivo e Impactos del Retraso del
Lenguaje en Personas con Alto Coeficiente Intelectual
RESUMEN
El artículo aborda las características, la relación con el perfil cognitivo y los impactos del retraso del
lenguaje en personas con alto coeficiente intelectual. Explora las posibles causas del retraso del lenguaje,
como problemas de audición, entorno de lenguaje deficiente, condiciones neurológicas y físicas, factores
genéticos, discapacidad intelectual y problemas psiquiátricos. También analiza e investiga el desarrollo
cerebral compensatorio, las particularidades y posibles razones del retraso del lenguaje en niños
superdotados. El artículo destaca la necesidad de un análisis detallado para diferenciar causas como
TEL, TEA y TDAH, considerando la interacción con la superdotación, la introversión y el
perfeccionismo.
Palabras clave: retraso del lenguaje, coeficiente intelectual alto, superdotación, perfil cognitivo,
trastorno del espectro autista, trastorno específico del lenguaje, trastorno por déficit de atención e
hiperactividad
pág. 4908
INTRODUÇÃO
O atraso na aquisição da linguagem em crianças é um fenômeno complexo, influenciado por diversas
condições dicas, neurológicas e ambientais. Este artigo visa explorar as principais razões e
comportamentos sintomáticos associados ao atraso de linguagem em pessoas com alto QI. Para entender
plenamente essas razões, é necessária uma análise objetiva e detalhada de diversos aspectos do
desenvolvimento.
Desenvolvimento- Razões para o Atraso de Linguagem: Uma Revisão Compreensiva
O atraso na aquisição da linguagem em crianças é um evento complexo que pode ser afetado por várias
condições dicas, neurológicas e ambientais. Este artigo discute as razões principais e os
comportamentos sintomáticos relacionados ao ratraso de linguagem em pessoas de alto QI e, para
definirmos as razões plausíveis, é necessário uma análise objetiva e resumida em diversos tipos de
desenvolvimento.
Atraso de Linguagem em Crianças: Causas, Condições e Fatores Contribuintes
O atraso de linguagem em crianças é um fenômeno complexo que pode ser causado por uma variedade
de condições e fatores. Este trecho revisa as principais causas e condições associadas ao atraso de
linguagem sem relação com o QI, baseando-se em evidências científicas para fornecer uma visão
abrangente e fundamentada sobre o tema.
Problemas Auditivos: Mesmo uma perda auditiva leve pode ter um impacto significativo na
habilidade de uma criança em adquirir linguagem. Crianças com dificuldades auditivas podem
enfrentar desafios para diferenciar os sons da fala, o que afeta a aquisição de novas palavras e
habilidades linguísticas. Estudos demonstram que a perda auditiva é um fator de risco prevalente para
atrasos na fala e na linguagem (MUYASSAROH et al., 2022).
Ambiente Linguístico Pobre: A falta de comunicação verbal e estímulos linguísticos pode
resultar em atrasos no desenvolvimento da linguagem. Crianças que não são expostas a um ambiente
comunicativo rico podem ter dificuldades em desenvolver suas habilidades linguísticas
adequadamente. A importância de um ambiente linguístico estimulante é destacada na literatura como
um fator importante para o desenvolvimento da linguagem (OTHMAN, 2021).
pág. 4909
Problemas Neurológicos: Condições neurológicas, como a paralisia cerebral e outras lesões
cerebrais, podem afetar as áreas do cérebro responsáveis pela linguagem, resultando em atrasos na
fala e na comunicação. Esses problemas neurológicos são frequentemente associados a dificuldades
significativas no desenvolvimento da linguagem (MUYASSAROH et al., 2022).
Problemas de Fala Físicos: Condições físicas que afetam os músculos envolvidos na fala,
como fissura labiopalatina, podem dificultar a produção de sons da fala, levando a atrasos na
linguagem (KIM; MOON; HAH, 1991).
Fatores Genéticos: evidências substanciais de que atrasos de linguagem podem ser
hereditários. A história familiar de dificuldades de linguagem aumenta o risco de uma criança
desenvolver problemas semelhantes. Estudos com gêmeos sugerem uma forte influência genética no
desenvolvimento de atrasos de linguagem (DALE et al., 1998).
Deficiência Intelectual: Crianças com deficiência intelectual frequentemente apresentam
atrasos na linguagem devido a dificuldades cognitivas que afetam a aprendizagem e o
desenvolvimento da fala. Essas crianças podem ter uma trajetória de desenvolvimento de linguagem
significativamente mais lenta comparada a seus pares (KIM; MOON; HAH, 1991).
Problemas Psiquiátricos: Transtornos psiquiátricos, como o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH), podem afetar a aquisição e o uso da linguagem. Dificuldades em
atenção e concentração, características do TDAH, resultam em atrasos na comunicação verbal,
influenciando negativamente o desenvolvimento da linguagem (MCLAUGHLIN, 2011). Dispraxia é
um transtorno do desenvolvimento motor que afeta a capacidade de planejar e executar movimentos
coordenados. Crianças com dispraxia podem ter dificuldades na fala, escrita, vestir-se e realizar outras
atividades que exigem coordenação motora fina. No entanto, sua inteligência e habilidades cognitivas
geralmente são normais. Transtorno específico da linguagem (TEL) é um transtorno do
neurodesenvolvimento que afeta a aquisição e o uso da linguagem. Crianças com TEL podem ter
dificuldades na compreensão e expressão verbal, gramática e vocabulário. A coordenação motora fina
também pode ser afetada em alguns casos, mas a inteligência geral é preservada. Apraxia de fala na
infância é um transtorno motor da fala que dificulta a programação e execução dos movimentos
necessários para produzir sons e palavras. As crianças com apraxia de fala podem ter dificuldades na
pág. 4910
articulação, fluência e prosódia da fala. A coordenação motora fina pode ser afetada em alguns casos,
mas a inteligência é normal. O Atraso Global do Desenvolvimento (AGD) é uma condição que se
manifesta na infância, caracterizada por um atraso significativo em duas ou mais áreas do
desenvolvimento, como a motricidade (fina e/ou grossa), linguagem, cognição e habilidades sociais.
Um estudo sugere que indivíduos com transtorno bipolar apresentam dificuldades de processamento
linguístico, especialmente em fluência verbal e memória verbal. Pacientes com transtorno bipolar têm
um desempenho moderadamente comprometido em tarefas de fluência verbal, indicando uma
perturbação na estrutura da linguagem (Raucher-Chéné et al., 2017). Além disso, pacientes com
transtorno bipolar, mesmo quando eutímicos, apresentam dificuldades linguísticas significativas,
afetando principalmente a compreensão sintática e lexical-semântica (Radanovic et al., 2013).
Distúrbios do Desenvolvimento
O atraso de linguagem é comumente relacionado aos Transtornos do Espectro Autista (TEA), incluindo
a Síndrome de Asperger. Crianças que têm Transtorno do Espectro Autista podem encontrar desafios
relevantes ao adquirir habilidades de interação social, levando a atrasos na fala e na comunicação.
Pessoas com autismo de alto funcionamento costumam mostrar uma diminuição nas habilidades de
comunicação verbal, associada à gravidade dos sintomas autistas (Kozunova et al., 2023). Além do mais,
a análise comparativa entre crianças com Síndrome de Asperger e autismo de alto funcionamento
demonstra que, mesmo que o QI verbal seja superior em crianças com Asperger, ambas as condições
apresentam desafios semelhantes em termos de habilidades motoras e de adaptação psicossocial
(Noterdaeme et al., 2010).
Transtorno Específico de Linguagem (TEL)
O Transtorno Específico de Linguagem (TEL) pode revelar mais do que dificuldades na gramática,
vocabulário e estrutura das frases. Estudos demonstram que crianças com TEL podem apresentar
dificuldades significativas na compreensão de palavras e frases, mesmo quando seu desenvolvimento
inicial da linguagem parece normal. Além disso, déficits motores também podem ser observados em
crianças com TEL, semelhante ao observado em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Bishop (2001) destaca que crianças com TEL frequentemente enfrentam desafios na compreensão da
linguagem receptiva, o que pode impactar sua capacidade de seguir instruções e entender o contexto em
pág. 4911
conversações. Além disso, Leonard (2014) aponta que déficits motores são comuns em crianças com
TEL, e essas dificuldades podem incluir problemas na coordenação motora fina e grossa, afetando tanto
atividades diárias quanto habilidades escolares.
Estudos longitudinais indicam que o TEL não se manifesta apenas na infância, podendo persistir na
adolescência e na idade adulta. Howlin et al. (2000) mencionam que, embora muitos indivíduos com
TEL apresentem melhora ao longo do tempo, dificuldades em habilidades de comunicação, ajuste social
e vida independente podem continuar na idade adulta. Estes estudos sublinham que o TEL pode abranger
um amplo espectro de dificuldades, incluindo problemas de linguagem receptiva, déficits motores e
desafios na adaptação psicossocial, que podem persistir ao longo da vida.
Diferenciar o Transtorno Específico de Linguagem (TEL) do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
pode ser desafiador, uma vez que ambos os distúrbios podem apresentar sintomas sobrepostos, como
dificuldades na comunicação e na linguagem. No entanto, existem diferenças chave que podem ajudar
na distinção entre esses dois transtornos:
Diferenças entre Transtorno Específico de Linguagem (TEL) e Transtorno do Espectro Autista
(TEA)
Diferenciar o Transtorno Específico de Linguagem (TEL) do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é
crucial para a implementação de intervenções apropriadas e eficazes, visto que ambos os transtornos
podem apresentar sintomas sobrepostos, mas têm características distintas.
Desenvolvimento Inicial da Linguagem
Crianças com TEL geralmente apresentam um atraso no desenvolvimento da linguagem desde cedo,
mas não exibem os comportamentos repetitivos e os interesses restritos característicos do TEA.
Enquanto crianças com TEA também podem ter atrasos na linguagem, esses atrasos estão
frequentemente acompanhados de dificuldades significativas na comunicação social e em
comportamentos repetitivos.
Habilidades Sociais
Uma diferença fundamental entre TEL e TEA é a qualidade das habilidades sociais. Crianças com TEL
normalmente possuem habilidades sociais adequadas para sua idade e conseguem participar de
interações sociais, ainda que tenham dificuldades na expressão verbal. Por outro lado, crianças com
pág. 4912
TEA frequentemente apresentam déficits marcantes na comunicação social, incluindo dificuldades em
fazer contato visual, interpretar expressões faciais e compreender normas sociais. Este déficit na
comunicação social é um dos principais critérios diagnósticos do TEA.
Problemas Específicos de Linguagem
O TEL é caracterizado por dificuldades específicas na gramática, vocabulário e estrutura das frases.
Crianças com TEL podem ter problemas tanto na compreensão quanto na produção de frases complexas,
mas essas dificuldades estão restritas à linguagem. Estudos como o de Noterdaeme et al. (2009) mostram
que crianças com TEL podem enfrentar desafios na compreensão de palavras e frases, mesmo que seu
desenvolvimento inicial da linguagem pareça normal. Em contraste, crianças com TEA podem ter uma
linguagem pedante ou ecolálica e frequentemente o utilizam a linguagem para interações sociais de
forma apropriada.
Comportamentos Repetitivos e Interesses Restritos
Uma das características distintivas do TEA é a presença de comportamentos repetitivos e interesses
restritos. Crianças com TEA podem demonstrar comportamentos como balançar o corpo, bater as mãos
ou insistir em rotinas específicas. Esses comportamentos são muito menos comuns em crianças com
TEL, que geralmente não exibem esses padrões repetitivos.
Déficits Motores
Déficits motores podem estar presentes tanto em crianças com TEL quanto em crianças com TEA.
Estudos como os de Leonard (2014) indicam que crianças com TEL podem ter dificuldades na
coordenação motora fina e grossa, afetando tanto atividades diárias quanto habilidades escolares.
Crianças com TEA também podem ter dificuldades motoras, mas essas não são a característica central
do transtorno, diferentemente das dificuldades na comunicação social e nos comportamentos repetitivos.
Persistência ao Longo da Vida
Enquanto o TEL pode melhorar com o tempo, estudos longitudinais, como o de Howlin et al. (2000),
indicam que as dificuldades em habilidades de comunicação, ajuste social e vida independente podem
persistir na idade adulta. Similarmente, indivíduos com TEA também podem continuar a enfrentar
desafios na comunicação e na adaptação social ao longo da vida, embora a natureza e a severidade desses
desafios possam variar.
pág. 4913
Informações relevantes a serem acrescentadas para aprofundar a compreensão das diferenças
entre TEL e TEA:
Aspectos Sensoriais: Crianças com Transtorno do Espectro Autista muitas vezes mostram alterações
sensoriais, como sensibilidade aumentada ou reduzida a estímulos como ruídos, brilhos, superfícies e
odores. Essas mudanças podem ter um grande impacto no comportamento e na comunicação da criança,
ao passo que no TEL, as alterações sensoriais não são uma parte essencial.
Interesses e Brincadeiras: Crianças com TEL geralmente demonstram interesses e atividades comuns
para a idade, ao passo que crianças com Transtorno do Espectro Autista podem mostrar interesses
limitados e repetitivos, como um foco intenso em um único objeto ou tema. Além disso, a brincadeira
simbólica e imaginativa pode ser prejudicada em crianças com TEA.
Comorbidades: O TEL pode coexistir com outras condições, como transtornos de aprendizagem,
transtornos de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos de ansiedade. No TEA, as comorbidades
também são comuns, incluindo epilepsia, deficiência intelectual e transtornos de ansiedade. É
importante considerar essas comorbidades no diagnóstico e tratamento de ambas as condições.
Resposta à Intervenção: Crianças com TEL geralmente respondem bem a intervenções
fonoaudiológicas, que podem incluir terapia da fala e linguagem, atividades para estimular o
desenvolvimento da linguagem e estratégias para melhorar a comunicação. No TEA, as intervenções
são mais abrangentes e podem incluir terapias comportamentais, como a Análise Aplicada do
Comportamento (ABA), além de terapias ocupacionais e outras abordagens para lidar com as
dificuldades sociais, comportamentais e sensoriais.
Diagnóstico Diferencial: Em alguns casos, pode ser difícil diferenciar o TEL do TEA, especialmente
em crianças pequenas. É fundamental que o diagnóstico seja realizado por uma equipe multidisciplinar,
incluindo fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais de saúde, para garantir uma avaliação
completa e precisa.
Desenvolvimento Cerebral Compensatório em Crianças com Atraso de Linguagem
Plasticidade Cerebral: O artigo de Kozunova et al. (2023) não apresenta evidências diretas que
comprovem a relação entre atraso de linguagem, desenvolvimento do lobo frontal e aumento do QI. No
entanto, o estudo sugere que a plasticidade cerebral pode desempenhar um papel na compensação de
pág. 4914
dificuldades linguísticas em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), permitindo o
desenvolvimento de outras áreas cognitivas. Essa observação levanta a possibilidade de que o lobo
frontal, associado a funções executivas como planejamento, controle inibitório e memória de trabalho,
possa estar envolvido nesse processo compensatório.
Funções Executivas e Região Frontal: Estudos indicam que crianças com atraso de linguagem podem
apresentar habilidades aprimoradas em áreas que dependem das funções executivas, que são mediadas
pela região frontal do cérebro. Por exemplo, uma pesquisa de Bishop (2001) sugere que, em algumas
crianças com transtornos específicos de linguagem, uma maior ativação em áreas cerebrais
responsáveis pelo processamento não-verbal e habilidades visuoespaciais.
Relação entre Atraso de Linguagem e QI: A relação entre atraso de linguagem e QI é complexa. O
QI é uma medida de várias capacidades cognitivas, e crianças com atraso de linguagem podem ter QIs
variáveis. Algumas podem ter QI normal ou acima da média, especialmente em áreas não verbais,
enquanto outras podem ter QI mais baixo se as dificuldades linguísticas forem parte de um perfil de
desenvolvimento mais amplo.
Compensação e Desenvolvimento Cognitivo: casos em que crianças com atraso de linguagem
desenvolvem habilidades cognitivas em outras áreas como uma forma de compensação. Um estudo por
Leonard (2014) observa que crianças com dificuldades linguísticas podem desenvolver habilidades
excepcionais em áreas que não dependem da linguagem, como raciocínio lógico ou habilidades
espaciais. Isso não necessariamente significa um aumento no QI global, mas pode refletir um perfil
cognitivo desequilibrado onde certas habilidades são significativamente mais desenvolvidas que outras.
O atraso de linguagem em indivíduos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) avaliados com
funcionamento cognitivo dentro da faixa média a acima da média, excluindo aqueles com deficiência
intelectual pode manifestar-se de maneira peculiar, com início tardio da fala e desenvolvimento mais
lento do vocabulário, mas com notável compreensão da linguagem. A relação entre o tipo de atraso de
linguagem e o perfil cognitivo nessas pessoas ainda é objeto de estudo, mas há indícios de que o atraso
expressivo possa estar associado a um perfil com habilidades visuoespaciais e lógico-matemáticas mais
desenvolvidas, enquanto o atraso misto (expressivo e receptivo) pode estar relacionado a um perfil
cognitivo mais heterogêneo. O atraso de linguagem pode impactar significativamente o
pág. 4915
desenvolvimento social e emocional, resultando em dificuldades sociais,isolamento, frustração,
ansiedade e baixa autoestima (Noterdaeme et al., 2010).
Razões para o Atraso de Linguagem em Pessoas de Alto QI
Quando crianças de alto QI apresentam atraso de linguagem, as causas podem ser mais específicas e
frequentemente relacionadas a características comportamentais e cognitivas particulares:
Superdotação e Perfeccionismo: Crianças superdotadas tendem a ser mais perfeccionistas e
introvertidas, características que podem ser confundidas com TEA. Este perfeccionismo pode levar a
um atraso na linguagem expressiva, pois a criança pode hesitar em falar até que possa se expressar de
forma perfeita.
Transtorno Específico de Linguagem (TEL): Crianças superdotadas com TEL, que afeta a
aquisição e uso da linguagem. TEL pode estar presente com ou sem Transtorno do Espectro Autista
(TEA) e TDAH. A relação entre TEL e habilidades cognitivas avançadas pode resultar em um perfil
onde a linguagem é uma área de dificuldade isolada.
Alta Habilidade/Superdotação (AH/SD) e Atraso de Linguagem: A combinação de alta
habilidade/superdotação com atraso de linguagem pode ocorrer devido a uma discrepância entre
habilidades verbais e não verbais. Crianças com habilidades excepcionais em áreas não verbais podem
ter dificuldades de linguagem que não são imediatamente aparentes devido ao seu alto QI geral.
As razões para o atraso de linguagem em pessoas de alto QI ainda o são totalmente compreendidas.
No entanto,acredita-se que a interação entre fatores genéticos, neurológicos e ambientais possa
desempenhar um papel importante.Algumas possíveis explicações incluem:
Diferenças no desenvolvimento cerebral: Estudos sugerem que o desenvolvimento cerebral
de pessoas com alto QI pode ser diferente, com algumas áreas se desenvolvendo mais rapidamente do
que outras. Isso pode levar a um desenvolvimento desigual das habilidades, incluindo a linguagem.
Processamento sensorial atípico: Algumas pessoas com alto QI podem ter um
processamento sensorial atípico, o que pode dificultar a integração das informações auditivas e visuais
necessárias para a aquisição da linguagem.
pág. 4916
Perfeccionismo e ansiedade: O perfeccionismo e a ansiedade, características comuns em
pessoas com alto QI, podem levar à inibição da fala e ao medo de errar, dificultando o
desenvolvimento da linguagem.
Maior Organização Perceptual e Menor Velocidade de Processamento podem ser fatores
que contribuem para o atraso de linguagem em pessoas com alto QI, mas não são a única explicação
possível. A maior organização perceptual e a menor velocidade de processamento podem contribuir
para o atraso, que a busca pela precisão e o medo de errar podem levar à hesitação na fala e a um
processamento mais lento das informações linguísticas. Além disso, o processamento sensorial atípico
pode afetar a percepção e interpretação da linguagem, resultando em dificuldades na comunicação.
Sahli et al. (2018) investigaram as habilidades de inteligência em crianças com atraso na fala,
comparando-as com um grupo controle sem atraso. O estudo envolveu 31 crianças com atraso na fala e
30 crianças sem atraso, com idades entre 3 e 6 anos. As habilidades de linguagem foram avaliadas com
a Escala de Linguagem Pré-Escolar Turca-5 (TPLS-5) e as habilidades de inteligência com o Teste de
Inteligência Stanford-Binet. Os resultados não mostraram diferenças significativas nas habilidades de
inteligência entre os dois grupos, mas revelaram diferenças em relação a fatores como o responsável
pelos cuidados da criança, tempo de exposição à televisão e inteligibilidade da fala. O estudo conclui
que a perda auditiva, o atraso no desenvolvimento cognitivo e a falta de estímulos psicossociais podem
causar atraso na fala, e que é essencial investigar as causas subjacentes antes de iniciar a terapia.
DISCUSSÃO
Análise das Possibilidades e Probabilidades do Atraso de Linguagem
Ao investigar as causas do atraso de linguagem e eliminarmos condições como problemas auditivos,
ambiente linguístico pobre, paralisia cerebral, lesões cerebrais, problemas físicos de fala e deficiências
intelectuais como síndromes. Após essa eliminação, é necessário dividir os fatores restantes com base
no comportamento e na evolução da criança. É fundamental observar os traços comportamentais, como
introversão ou extroversão, perfeccionismo, hiperatividade e suas possíveis causas, além do
desenvolvimento cognitivo e motor. Por exemplo, uma criança com atraso de linguagem que é
superdotada pode apresentar Transtorno Específico de Linguagem (TEL), com ou sem Transtorno do
Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Superdotados
pág. 4917
tendem a ser mais perfeccionistas e introvertidos, características que podem ser confundidas com TEA.
Além disso, pessoas com TEL podem ter TEA, e o TDAH pode ser confundido com pensamento
acelerado ou necessidade de chamar atenção para compensar o atraso de linguagem. Portanto, uma
criança pode apresentar combinações como TEL, TEA e Alta Habilidade/Superdotação (AH/SD); TEL
e AH/SD; TEA e AH/SD; ou até TEA, TEL, TDAH e AH/SD.
Ao investigar o atraso de linguagem em crianças de alto QI, é essencial considerar tanto as condições
gerais que podem afetar qualquer criança quanto as características específicas dessas crianças. A análise
comportamental e cognitiva detalhada é crucial para diferenciar entre causas como TEL, TEA e TDAH,
bem como para entender como esses fatores interagem com a superdotação e o perfeccionismo.
Prevalência e Diagnóstico de Atraso de Linguagem em Superdotados: Análise da Enquete Gifted
Debate
Introdução
Este artigo apresenta uma análise detalhada dos resultados de uma enquete realizada no grupo Gifted
debate, que buscou investigar a prevalência do atraso de linguagem em indivíduos superdotados e suas
possíveis associações com neurodivergências específicas.
Metodologia
A enquete foi composta por duas perguntas principais:
1. Você teve ou conhece um superdotado que teve atraso de linguagem?
-
Respostas possíveis: Sim ou o
-
Resultados: 20% responderam "Sim" e 80% responderam “Não".
2. As pessoas com atraso de linguagem e superdotação que conhecem, têm diagnóstico de
neurodivergência? Se sim, qual?
-
Resultados:
TDAH: 35%
TEA: 25%
TEL (considerado em todos os casos de atraso de linguagem): não contabilizado
Não: 10%
pág. 4918
Outro: 30%
Resultados: A análise dos dados revelou que, embora a maioria dos superdotados não apresente atraso
de linguagem, existe uma parcela significativa (20%) que experimenta ou conhece alguém com essa
condição. Entre os superdotados com atraso de linguagem, há uma alta prevalência de diagnósticos de
neurodivergências, especialmente TDAH e TEA.
Discussão dos Casos Reportados: Durante as entrevistas com os participantes da enquete, foram
relatados casos detalhados, destacando a diversidade de condições associadas ao atraso de linguagem
em superdotados:
1. Superdotação com Bipolaridade e Atraso de Linguagem: Um caso foi relatado,
sugerindo a complexidade das interações entre superdotação e condições psiquiátricas.
2. TDAH e Superdotação: Casos com diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) foram comuns, mostrando uma sobreposição significativa entre TDAH e
atraso de linguagem.
3. ndrome de Ehlers-Danlos e Outras Condições Neurológicas: Foram relatados dois
casos envolvendo a Síndrome de Ehlers-Danlos, ambos com múltiplas condições neurodivergentes,
incluindo TEL, TEAp (Transtorno Específico de Aprendizagem) e TDAH.
4. Superdotação com TEL e Altos Pontos de QI: Um caso notável incluiu um menino com
QI de 145 pontos que também apresentava TEL, destacando que mesmo indivíduos com alto
desempenho cognitivo podem enfrentar desafios significativos no desenvolvimento da linguagem.
Conclusão: Os resultados da enquete Gifted debate indicam que o atraso de linguagem em superdotados
é menos prevalente, mas está fortemente associado a diagnósticos de neurodivergências como TDAH e
TEA. Esses achados sublinham a necessidade de avaliações abrangentes e abordagens de suporte
específicas para atender às complexidades dos superdotados com atraso de linguagem.
Sobre o Projeto Gifted debate: O Gifted debate é um projeto destinado a reunir indivíduos de alto QI
de diversas sociedades, focando na interação, pesquisa, desenvolvimento de amizades e apoio mútuo,
além da busca por crescimento moral e intelectual. Atualmente, conta com mais de 500 membros
superdotados e realiza diversas publicações científicas.
pág. 4919
Referências: Os detalhes do estudo e dados adicionais podem ser encontrados no documento principal
"Características, Relação com o Perfil Cognitivo e Impactos do Atraso de Linguagem em Pessoas com
Alto QI”.
Exemplos Práticos
Nota: Abaixo, apresentamos um estudo de caso como exemplo. Decidimos não incluir mais estudos de
caso para não estender demais o artigo. No entanto, temos inúmeros estudos de caso disponíveis no
departamento de pesquisa do projeto Gifted debate.
Estudo de Caso Exemplar
Perfil do Indivíduo:
Nome fictício: João
Idade: 10 anos
QI: 145
Diagnósticos: Transtorno Específico de Linguagem (TEL) e superdotação
Manifestações do Atraso de Linguagem: João apresentou um atraso na fala desde a infância, com
dificuldades em articular palavras, formar frases completas e usar a gramática corretamente. Aos 3 anos,
foi identificado um atraso de linguagem em comparação com outras crianças da mesma idade pela
psicóloga da escola onde estuda.
Estratégias de Compensação: Apesar das dificuldades linguísticas, João demonstrou habilidades
cognitivas avançadas, como pensamento abstrato, criatividade e um interesse especial por números. Ele
também é independente e resolve problemas de forma autônoma, utilizando a comunicação não verbal
e a imitação para interagir com o mundo ao seu redor.
Impacto no Desenvolvimento: João demonstra preferência por brincar sozinho e interagir com pessoas
conhecidas, o que pode ser uma característica de introversão ou um reflexo das dificuldades de
linguagem. Ele apresenta um perfeccionismo acentuado, evitando situações em que não se sente
completamente seguro.
Intervenções Implementadas: João recebeu terapia fonoaudiológica para estimular o desenvolvimento
da linguagem e superar as dificuldades de comunicação. É importante que ele seja avaliado por uma
pág. 4920
equipe multidisciplinar para identificar suas potencialidades e necessidades, e receber o apoio adequado
para desenvolver todo o seu potencial.
Observações:
João apresenta um histórico familiar de superdotação
A avaliação neuropsicológica foi fundamental para confirmar a superdotação e o atraso de
linguagem, além de identificar outras possíveis características e necessidades.
É importante oferecer um ambiente rico em estímulos intelectuais e criativos, que respeite
seus interesses e seu ritmo de desenvolvimento.
O apoio emocional e a compreensão da família são essenciais para que se sinta seguro e
confiante em seu processo de desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante considerar que diversos estudos indicam que o atraso de linguagem pode levar a um menor
desenvolvimento cognitivo. Este estudo teve como objetivo identificar possíveis relações e explicações
para casos de superdotação acompanhados de atraso de linguagem. A compreensão do atraso de
linguagem em indivíduos de alto QI requer uma análise aprofundada dos fatores que podem influenciar
esse desenvolvimento, incluindo problemas auditivos, ambiente linguístico, condições neurológicas,
fatores genéticos, entre outros.
A enquete realizada no grupo Gifted debate revelou que 20% dos respondentes conhecem superdotados
que apresentaram atraso de linguagem, e que entre esses indivíduos, 35% foram diagnosticados com
TDAH, 25% com TEA, e 30% com outras condições neurodivergentes. Esses achados sugerem que,
embora menos prevalente, o atraso de linguagem está fortemente associado a diagnósticos de
neurodivergências entre superdotados.
A literatura sugere que o desenvolvimento desigual em crianças superdotadas pode estar relacionado a
diversos fatores, incluindo neuroplasticidade, onde o cérebro se adapta e fortalece outras funções em
resposta a áreas menos desenvolvidas. Fatores genéticos também desempenham um papel significativo,
com evidências apontando para a influência hereditária no desenvolvimento de habilidades cognitivas
não-verbais superiores.
pág. 4921
É essencial que profissionais de saúde e educadores adotem uma abordagem holística ao avaliar e
intervir em crianças com superdotação e atraso de linguagem. Entender as complexas interações entre
fatores genéticos, neurológicos e ambientais pode informar estratégias de intervenção mais eficazes e
personalizadas.
Declaração de contribuições: Rodrigues, F. A. A. foi o idealizador, dono e criador do conceito,
escreveu e revisou o manuscrito. Orientou a equipe na coleta de dados e revisou o manuscrito.
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