O ensino de
ciências na educação básica: Os alunos dos anos iniciais em foco
Paulo Henrique Fernandes de Souza Dias
Luciano Tadeu Corrêa Medeiros
Sonia Maria Maia de Oliveira3
Universidade federal do Pará – UFPA (Brasil)
RESUMO
Este trabalho
trata do ensino de Ciências Naturais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O
objetivo é a reflexão teórica sobre os pontos fundamentais que embasam o ensino
de Ciências nessa etapa da Educação Básica. Trata-se de um trabalho com base em
uma abordagem qualitativa, que contou com o desenvolvimento de uma pesquisa de
revisão bibliográfica de autores, cujos textos versam sobre o ensino de
Ciências nos Anos Iniciais e a Formação de Professores com essa finalidade,
além de outros autores que tratam do tema Educação de forma mais ampla. Os
resultados indicam a necessidade de um ensino de Ciências humanizador, que
permita a aquisição dos saberes científicos historicamente constituídos, mas
que reconheça os saberes das crianças adquiridos através de suas
experimentações com o mundo, permitindo, dessa forma, que esses sujeitos se
tornem agentes ativos, transformadores de seu meio social e sua cultura.
Palavras-chave: Ensino de Ciências. Anos Iniciais. Educação
Básica.
Science
teaching in basic education: Students from early years in focus
ABSTRACT
This work
deals with the teaching of Natural Sciences in the Early Years of Elementary
Education. The objective is the theoretical reflection on the fundamental
points that base the teaching of Sciences in this stage of Basic Education. It
is a work based on a qualitative approach, which included the development of a
literature review research by authors, whose texts deal with Science teaching
in the Early Years and Teacher Training with this purpose, in addition to other
authors that deal with the theme of Education more broadly. The results
indicate the need for the teaching of humanizing Sciences, which allows the
acquisition of scientific knowledge historically constituted, but which
recognizes the knowledge of children acquired through their experiments with
the world, thus allowing these subjects to become active agents, transformers
of their social environment and culture.
Keywords: Science teaching. Early Years. Basic Education.
Artículo recibido: 03
nov. 2020
Aceptado para
publicación: 07 dic. 2020
Correspondencia luciano.medeiros@iced.ufpa.br
Conflictos de Interés: Ninguna que declarar
Compreende-se as Ciências como parte integrante da
cultura e importante elemento para a interpretação de fenômenos naturais,
portanto, o ensino de Ciências nos Anos Iniciais contribui com a formação dos
sujeitos e é essencial para o exercício da cidadania (SANTANA FILHO et al.
2011), pois possibilita aos alunos a compreensão do meio não apenas natural,
mas do meio social em que as crianças se encontram estabelecidas, por isso,
considera-se os saberes científicos primordiais para as crianças nessa etapa de
ensino da Educação Básica. Delizoicov e Angotti (1990, p. 56) consideram que
“para o exercício pleno da cidadania, um mínimo de formação básica em ciências
deve ser desenvolvido, de modo a fornecer instrumentos que possibilitem uma
melhor compreensão da sociedade em que vivemos”.
Cardoso e Nunes (2018), ao provocarem um debate em
torno do problema do ensino de Ciências Naturais nos Anos Iniciais do Ensino
fundamental, consideram algumas questões mais específicas relacionadas aos
professores dessa etapa de ensino, como a dificuldade enfrentada pelos mesmos
com as demandas apresentadas em sala de aula, assim, alertam sobre a grande
necessidade de uma melhor preparação dos professores para o ensino de Ciências
nessas séries. Para os autores, a Formação de professores – centrada no curso
de Pedagogia – não apresenta em seu projeto formativo uma preparação adequada
do professor para o exercício da docência. Além disso, não prepara o docente de
forma específica para o ensino de Ciências nessa etapa. Isso nos faz levantarmos
o seguinte questionamento: a formação do Pedagogo para o Ensino de Ciências nos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental tem garantido a efetivação de uma prática
docente eficiente no que se refere ao aprendizado desses saberes por parte dos
alunos dessa etapa de ensino da Educação Básica?
Diante disso, reconhecemos que o trabalho docente, em
qualquer nível de ensino, está cheio de desafios. Para Carvalho (2001, p. 146),
“[...] pesquisas realizadas até agora e uma análise rigorosa da prática do
ensino das Ciências indicam que, em nenhum nível de ensino, a dimensão
epistemológica tem estado presente de forma articulada e explicitamente
consciente por parte da maioria dos professores em sala de aula”. Imagina-se,
portanto, a grandeza desse desafio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
pois, alfabetizar em termos de código falado e escrito já demanda tempo,
paciência e capacitação (NASCIMENTO, 2012). Assim, aliar a isso uma construção
de conhecimentos social e científico aumenta a relevância e a necessidade de um
bom preparo de cada professor, especialmente do educador de ciências naturais
nos anos iniciais. Dessa forma, entende-se que “as experiências analisadas até
o momento permitem inferir que estes professores, durante suas experiências nos
cursos de formação inicial, não tiveram oportunidade de elaborar conceitos
relacionados com a natureza do conhecimento científico à luz de uma nova
filosofia da ciência (CARVALHO, 2001, p. 147).
Este trabalho trata-se de um ensaio que propõe uma
reflexão sobre o ensino de Ciências proporcionados por professores da Educação
Básica, em específico, os que irão desenvolver sua docência nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental. Foi realizado no segundo semestre do ano de 2020, entre
os meses de setembro e outubro. É um trabalho com base em uma abordagem
qualitativa, resultado de uma revisão Bibliográfica de autores que abordam em
seus textos, a Formação de Professores para o ensino de Ciências nos anos
Iniciais e também autores que tratam de temas relacionados a diversos segmentos
dentro da área da Educação. Diante disso, convém destacarmos que há diversos
estudiosos do ensino de Ciências Naturais nos Anos Iniciais e esses já nos
apresentam algumas questões formuladas, que convém pontuarmos na busca de
compreender qual a importância dos conhecimentos científicos para a vida dos
alunos e alunas dos Anos Iniciais e como esses educandos estão sendo ensinados
para compreender e utilizar o conhecimento científico em suas realidades
(SANTANA FILHO et al., 2011).
A pessoa humana não é um ser isolado dos demais seres
e elementos da natureza. Logo, para as crianças, a matéria de ciências pode ser
vista como algo muito interessante, atrativa e extremamente necessária e
essencial aos olhos dessas crianças (NASCIMENTO; 2012), afinal qual criança não
está disposta a novas descobertas, a novas experimentações? Por isso, o
professor pode usar técnicas as mais variadas para conquistar o aluno. Ele pode
e deve trabalhar, ao mesmo tempo, por exemplo, ciências naturais de forma
integrada com outras disciplinas, como forma de dialogar com as mesmas, na
proposição de que haja um melhor aprendizado, pois se trata de uma importante estratégia, e que, portanto, pode
ser capaz de produzir um impacto positivo na formação dos sujeitos (SANTANA
FILHO, et al. 2011), principalmente de crianças nessa etapa de
escolarização, porém compreendemos que o professor dos Anos Iniciais deve
também apresentar domínio do conhecimento científico e ainda, mostrar-se capaz
de adaptar o conteúdo de Ciências de acordo com cada faixa etária a ser
ensinada, buscando, de toda forma, romper com a sistematização e rigorosidade
da aplicação própria da ciência, na busca de aproximar esses saberes às
vivências e realidades dos alunos (NASCIMENTO; 2012).
2.
CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO BÁSICA: os Anos Iniciais em foco.
Ensinar Ciências no Ensino Fundamental, requer que se
invista prioritariamente no ensino desses saberes desde os primeiros momentos
de escolarização, no início dos Anos Iniciais, quando as crianças ainda se
encontram em processo de alfabetização, pois as habilidades de Ciências buscam
propiciar um contexto adequado para a ampliação das possibilidades de
letramento, também através de um processo de alfabetização científica “A
Alfabetização Científica vem se tornando cada vez mais um dos principais
objetivos dentro do ensino de Ciências” (NASCIMENTO, 2012, p. 44).
Delizoicov e
Angotti, (1990, p. 56), consideram que “Para o exercício pleno da cidadania, um
mínimo de formação básica em ciências deve ser desenvolvido, de modo a fornecer
instrumentos que possibilitem uma melhor compreensão da sociedade em que
vivemos”. Segundo Cardoso e Nunes (2018), em referência ao ensino de ciências
nos Anos Iniciais do ensino fundamental, afirmam que a importância do ensino de
Ciências é reconhecida por pesquisadores da área em todo o mundo, havendo uma
concordância relativa à inclusão de temas relacionados à Ciência e à Tecnologia
nas Séries Iniciais, entretanto, apesar da convergência de opiniões e de sua
incorporação pelas propostas curriculares e planejamentos escolares, ainda hoje
em dia a criança sai da escola com conhecimentos científicos insuficientes para
compreender o mundo que a cerca, sobre essa questão, podemos considerar que
Pretto (1995, p. 19), nos afirma que “O conhecimento científico é uma maneira
de se interpretar os fenômenos naturais; a ciência é parte integrante da
cultura; a ciência faz parte da história das diferentes formas de organização
da sociedade; e o desenvolvimento científico e tecnológico é cada vez mais
acentuado”.
Há uma preocupação por parte dos professores dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental sobre o ensino de Ciências nessa etapa de ensino
da Educação Básica, por isso se torna necessário apresentar algumas
considerações sobre como esses professores estão sendo formados para o ensino
desses saberes nos Anos Iniciais, e buscar apontar possíveis soluções dos
problemas apresentados (NASCIMENTO; 2012).
Contudo, Cardoso e Nunes (2018), indicam algumas
orientações que apresentam caminhada metodológica embasada em minuciosa revisão
de literatura com ancoragem bibliográfica adjacente a um livro específico, que
apresenta bastantes exemplos práticos acerca do que os docentes poderão fazer
para facilitar a tarefa de levar os alunos a construírem um conhecimento científico
com disposição e de forma prazerosa, todavia, os autores afirmam que há
preocupantes dúvidas dos professores, geralmente formados em Graduação em
Pedagogia, acerca do quê e de como ensinar ciências naturais nos
Anos Iniciais do ensino fundamental aos alunos dessas séries. Juliatto (2009),
nos assevera que
“A tarefa de educar contém enorme desafio espiritual.
Educar é fazer desabrochar o que há de melhor dentro de cada um dos nossos
alunos [...]. Educar é, portanto, ajudar a descobrir as potencialidades dos
alunos e fazê-las operativas. É fazê-los descobrir os próprios medos e aprender
a superá-los. E isso é tarefa altamente espiritual”. (JULIATTO, 2009 p. 49).
Portanto, é possível dizer que se mantém a ideia de
certo idealismo no que tange ao ensino escolar, mesmo àquilo que versa sobre a
Educação Científica. Importa destacar, que mesmo com essa afirmação, é
necessário considerar que os alunos são seres em formação, e, para descobrir
seus medos e superá-los, os alunos precisam conhecer como funciona seu corpo e
o ambiente em que está vivendo. Estas considerações se mantém a partir do que
está posto, no texto da Base Nacional Comum Curricular – BNCC –, que já
nos aponta a relação da criança com o conhecimento científico, desde antes dos
anos Iniciais, ainda quando essas se encontram na Educação infantil, pois a
base fundamenta:
“Antes de iniciar sua vida escolar, as crianças já
convivem com fenômenos, transformações e aparatos tecnológicos em seu dia a
dia. Além disso, na Educação Infantil, como proposto na BNCC, elas têm a
oportunidade de explorar ambientes e fenômenos e também a relação com seu
próprio corpo e bem-estar, em todos os campos de experiências”. (BRASIL, 2017,
p.331).
Logo, se desde a Educação Infantil, já há uma relação
da criança com os aspectos próprios dos fenômenos naturais e científicos, suscitamos,
portanto, outras provocações nesse sentido: Qual a necessidade do ensino de
ciências nos anos iniciais nas Escolas? Quais conhecimentos de ciências
naturais são necessários apresentar aos alunos nessa fase de escolarização? A
reflexão que propomos é uma afirmativa positiva, porém consideramos que isso
não deva ser feito de forma insuficiente, ou até mesmo ultrapassada. Então,
convém refletirmos em como desenvolver o ensino desses saberes nas aulas, tendo
em vista que o conhecimento científico também é parte das vivências e
experimentações desses sujeitos, estando desde sempre presente na realidade dos
alunos dos Anos Iniciais, pois estes encontram-se carregados de saberes
prévios, adquiridos por suas experimentações com o mundo. Segundo a BNCC, podemos
compreender que:
Assim, ao iniciar o Ensino Fundamental, os alunos
possuem vivências, saberes, interesses e curiosidades sobre o mundo natural e
tecnológico que devem ser valorizados e mobilizados. Esse deve ser o ponto de
partida de atividades que assegurem a eles construir conhecimentos
sistematizados de Ciências, oferecendo-lhes elementos para que compreendam
desde fenômenos de seu ambiente imediato até temáticas mais amplas. (BRASIL,
2017, p.331).
O texto da BNCC, em linhas gerais, sugere a relevância
do aprendizado do conhecimento científico, que deve ser considerado na
interpretação dos fenômenos naturais a serem reconhecidos pelas crianças, sem
desprezar os aprendizados adquiridos com suas vivências e experimentações, que
se encontram impregnados pela cultura experimentada por esses sujeitos. Assim,
a escola deve propor um envolvimento entre a criança e a ciência, na busca de
que se promova um aprendizado significativo em meio a esse envolvimento.
“Nesse sentido, não basta que os conhecimentos científicos
sejam apresentados aos alunos. É preciso oferecer oportunidades para que eles,
de fato, envolvem-se em processos de aprendizagem nos quais possam vivenciar
momentos de investigação que lhes possibilitem exercitar e ampliar sua
curiosidade, aperfeiçoar sua capacidade de observação, de raciocínio lógico e
de criação, desenvolver posturas mais colaborativas e sistematizar suas
primeiras explicações sobre o mundo natural e tecnológico, e sobre seu corpo,
sua saúde e seu bem-estar, tendo como referência os conhecimentos, as
linguagens e os procedimentos próprios das Ciências da Natureza”. (BRASIL,
2017, p. 331).
Considerando o que nos apresenta a BNCC, a importância
do ensino de ciências nos anos iniciais se refere às aprendizagens essenciais,
em que as pessoas aprendem a respeito de si mesmas, da diversidade e dos
processos de evolução e manutenção da vida, do mundo material – com os seus
recursos naturais, suas transformações e fontes de energia –, do nosso planeta
no Sistema Solar e no Universo, e da aplicação dos conhecimentos científicos
nas várias esferas da vida humana. Essas aprendizagens essenciais, entre
outras, possibilitam que os alunos compreendam, expliquem e intervenham no
mundo em que vivem, independentemente do nível de ensino e da modalidade da
Educação Básica em que se encontrem. Apesar da relevância temática, é fato que
ainda hoje a criança sai da escola com conhecimentos científicos insuficientes
para compreender o mundo que a cerca (NASCIMENTO, 2012).
Isso ocorre quando a escola não assume sua função
social de ser uma agente de transformação e constituição da cidadania
infanto-juvenil, em outras palavras, essa função requer que a escola seja um
espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve
necessariamente favorecer a inserção do aluno no mundo, tornando-se autônomo no
exercício de suas ações, no dia-a-dia das suas vivências que apresentam
questões sociais marcantes e em um universo cultural maior (SANTANA FILHO et
al., 2011). Por exemplo, as crianças que são filhas da classe trabalhadora,
que têm uma realidade na relação com o trabalho e na função social que ele
exerce no seu contexto, em que se percebe a realidade social, cultural e
econômica transformadas por essas relações. Contudo, essa tarefa de se ensinar ciências
naturais carece de formação de professores que dialogue com a
transdisciplinaridade, possibilitando a aquisição do suporte de outras
ciências, cujos desdobramentos culminem “para o exercício pleno da cidadania,
cujo mínimo de formação básica em ciências deve ser desenvolvido, de modo a
fornecer instrumentos que possibilitem uma melhor compreensão da sociedade em
que vivemos” (DELIZOICOV
& ANGOTTI, 1990, p. 56).
Muitos professores de Ciências centram o ensino na
fixação de conteúdos. Essa metodologia distancia o conhecimento científico da
realidade prática da criança. O professor, acima de tudo, precisa compreender
que a ciência, além de fazer parte da realidade dos alunos, de suas
experimentações dentro do seu universo cultural, também faz parte das
construções históricas do mundo. Pretto (1995, p. 19) nos afirma que “ao
considerar ciência como um elemento do universo cultural, deve-se considerar
que ela possui uma história”.
É necessário humanizar o ensino, conectar os alunos ao
que possa ser significativo em sua realidade e buscar aproximá-lo dessa forma a
natureza científica que se apresenta cotidianamente para esses sujeitos; evitar
aulas descomprometidas com a mera transmissão de conteúdo de Ciências, para uma
simples memorização por parte dos alunos. Assim, evidencia-se a importância do
incentivo à pesquisa pelas crianças, atividades que envolvam a realidade e a
natureza onde esses se encontram estabelecidos, como passeios em bosques,
museus e outros ambientes que tragam a ciência para essa realidade (NASCIMENTO;
2012).
Ao buscar uma função socializadora para seu fazer, o
professor propõe o desenvolvimento individual e coletivo dos educandos, pois,
induz cada um dos alunos às vivências em meio ao contexto social, cultural e
histórico. Isso torna o conhecimento científico mais próximo do aluno, pois, “a
produção do conhecimento científico está relacionada com os diversos momentos
históricos do seu surgimento, recebendo influências das instâncias econômicas,
sociais, políticas, religiosas, entre outras, e também sobre elas exercendo a
sua influência” (PRETTO, 1995, p. 20).
É nessa múltipla determinação que os indivíduos se
constroem como pessoas iguais dentro do coletivo, mas, reconhecendo ao mesmo
tempo as diferenças e as diversidades que permeiam seu meio e suas construções
históricas, pois compartilham com outras pessoas um conjunto de saberes e
formas de conhecimento que, por sua vez, só é possível graças ao que
individualmente se puder incorporar. Porém, não há desenvolvimento individual
possível à margem da sociedade, da cultura e da coletividade (CARVALHO, 1998). Os processos de
diferenciação na construção de uma identidade pessoal e os processos de
socialização que conduzem a padrões de identidade coletiva constituem, na
verdade, as duas faces de um mesmo processo (NASCIMENTO, 2012).
Sendo assim, a escola, na perspectiva de construção de
cidadania, precisa assumir a valorização da cultura de sua própria comunidade
e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças
pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz
respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no
âmbito nacional e regional como no que faz parte do patrimônio universal da
humanidade. Diante disso, é necessário refletir como deve ser trabalhado o
ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (NASCIMENTO, 2012;
SANTANA FILHO et al., 2011).
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ensinar Ciências nos Anos Iniciais proporciona a
integração dos sujeitos nessa etapa de ensino aos mais diversos campos dentro
de sua cultura, possibilitando compreensão dos meios com o qual ele interage no
mundo. Portanto, o ensino desses saberes científicos deve propiciar o
desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a
intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar aos
alunos usufruir dessas manifestações presentes no meio onde se encontram
estabelecidos.
O professor de ciências naturais deve levar seus
alunos não apenas a conhecer, mas conviver de forma mais direta com o ambiente,
para mostrar como funcionam as variadas formas de vida existentes no planeta e
qual a relação que está estabelecida entre elas, e principalmente qual suas
funções na relação com a natureza, saber que
plantas, animais e humanos fazem parte de um único mundo e todas essas
vidas necessitam de ar, água, solo, luz solar. A criança, na hora de se
alimentar, por exemplo, pode e deve saber que o alimento é provido pela
natureza – vegetais e animais – e que, em meio às relações humanas para a
produção de alimento, existe o fruto de um trabalho que foi executado por
alguém. Assim, o pequeno aluno já perceberá que o trabalho das pessoas adultas
visa prover o sustento de todos e que o trabalho é uma função que faz parte da
vida cidadã. A partir disso, a ação de aprender ciências naturais na infância
constrói a base para o futuro cidadão adulto viver culturalmente em uma
sociedade integrada como um todo.
A importância dada pela instituição escolar aos
conteúdos curriculares garantidos pela lei revela um compromisso da instituição
escolar em garantir o acesso aos saberes elaborados historicamente, pois esses
se constituem como instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o
exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de refutar ou
reformular as deformações dos conhecimentos já produzidos, as imposições
dogmáticas e a petrificação de valores. Os conteúdos escolares que são ensinados
devem, portanto, estar em consonância com as questões sociais que marcam cada
momento histórico, proporcionando ao sujeito uma formação que o permita ser
reflexivo, criando possibilidade e proporcionando condições para que todos os
alunos desenvolvam e exercitem suas capacidades e aprendam internalizem os
saberes apresentados através dos conteúdos disciplinares, necessários para
construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em
relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas,
condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma
sociedade democrática e não excludente.
O ensino de Ciências nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental é essencial na formação dos sujeitos nessa etapa de ensino. Esses
saberes devem ser apresentados às crianças e dialogados com sua realidade. Isso
contribui para a compreensão do mundo e sua natureza, ajuda a preparar a
criança para seu exercício de cidadania e a situá-los nas realidades sociais onde
se encontram envolvidos. Esses fatores são imprescindíveis no desenvolvimento
das crianças nessa fase de escolarização e a escola não pode sonegar esses
saberes à essas crianças, visto que o saber escolar tem como base, o ensino do
saber científico produzido historicamente pela humanidade.
4.REFERÊNCIAS
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em Ação. nº 65, volume 17, série 3.
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DELIZOICOV, D. & ANGOTTI, J. A. P. (1990) Metodologia do
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JULIATTO, C. I. (2009) O horizonte da educação: sabedoria,
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das ciências da natureza: pedagogia: módulo 5, volume 2 – EAD, / Elaboração de
conteúdo. EDITUS, Ilhéus.
PRETTO, N. L. (1995) A ciência nos livros didáticos. 2ª ed.
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SANTANA
FILHO, A. B; et al. (2011) O ensino de ciências naturais nas séries/anos
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