A INFLUÊNCIA DO NOME NAS DECISÕES E NA
CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE

THE INFLUENCE OF NAMES ON DECISIONS AND THE

CONSTRUCTION OF PERSONALITY

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica - Brasil
pág. 8948
DOI:
https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i1.16520
A
Influência do Nome nas Decisões e na Construção da Personalidade
Dr.
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues1
contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0000
-0002-5487-5852
Centro
de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento
de Neurociências e Genômica
Brasil
& Portugal
RESUMO

Este
estudo investiga o impacto que o nome de um indivíduo pode exercer na formação de sua
personalidade,
utilizando uma abordagem integrada entre biologia, neurociência e genômica. Através
de
uma revisão da literatura, analisamos como o nome, um fator ambiental com forte carga simbólica,
interage
com predisposições genéticas e redes neurais que modulam comportamentos e traços de
personalidade.
Argumentamos que, embora a genética estabeleça uma base para o desenvolvimento da
personalidade,
o nome atua como um modulador ambiental, afetando a plasticidade cerebral e a
expressão
de genes envolvidos na regulação emocional e interação social. Dessa forma, o nome não
apenas
influencia a percepção social, mas também impacta a estrutura neurobiológica subjacente à
personalidade.

Palavras
-chave: nome, personalidade, genética, neurociência, epigenética
1
Autor principal
Correspondencia:
contato@cpah.com.br
pág. 8949
The
Influence of Names on Decisions and the Construction of Personality
ABSTRACT

This
study examines the influence an individual's name can have on personality development, using an
integrated
approach combining biology, neuroscience, and genomics. Through a literature review, we
analyze
how a name, a symbolic environmental factor, interacts with genetic predispositions and neural
networks
that shape behaviors and personality traits. We argue that, while genetics establish the
foundation
for personality development, the name acts as an environmental modulator, affecting brain
plasticity
and the expression of genes involved in emotional regulation and social interaction. Thus, the
name
not only influences social perception but also impacts the neurobiological structures underlying
personality.

Keywords
: name, personality, genetics, neuroscience, epigenetics
Artículo
recibido 05 diciembre 2024
Aceptado
para publicación: 25 enero 2025
pág. 8950
INTRODU
ÇÃO
O
desenvolvimento da personalidade humana é um fenômeno multifatorial que envolve a interação entre
predisposi
ções genéticas e influências ambientais. Nos últimos anos, a neurociência e a genômica têm
avan
çado no entendimento de como essas forças se entrelaçam, moldando comportamentos e traços de
personalidade
ao longo da vida. No entanto, um fator muitas vezes subestimado nesse processo é o nome
do
indivíduo. Embora o nome seja amplamente considerado um aspecto sociocultural, evidências
crescentes
sugerem que ele desempenha um papel mais profundo, funcionando como um modulador
ambiental
que interage com predisposições biológicas.
A
epigenética, campo que estuda como o ambiente pode alterar a expressão de genes sem modificar a
sequ
ência de DNA, permite entender como o nome pode influenciar a maneira como traços de
personalidade
se manifestam. Além disso, a neurociência oferece insights sobre como o cérebro
responde
a estímulos associados ao nome, afetando circuitos neurais responsáveis pela autorregulação
e
percepção social. A plasticidade neural, ou a capacidade do cérebro de se reorganizar em resposta a
experi
ências, é um mecanismo crucial pelo qual o nome pode afetar a personalidade de forma duradoura.
Diante
dessas considerações, este estudo busca explorar como o nome interage com fatores genéticos e
neurol
ógicos, modulando o desenvolvimento da personalidade. Através de uma revisão abrangente da
literatura
científica, nosso objetivo é fornecer uma visão detalhada de como o nome pode influenciar
tanto
a percepção social quanto a estrutura neurobiológica que sustenta a personalidade.
DESENVOLVIMENTO

Desde
os primórdios da humanidade, o nome sempre foi muito mais do que um simples conjunto de
sons
ou letras; ele carrega consigo uma herança cultural, uma carga simbólica que atravessa gerações.
Nas
civilizações antigas, o ato de nomear uma criança era revestido de um profundo significado,
ancorado
em crenças espirituais e em costumes transmitidos pela ancestralidade. Em religiões como o
Cristianismo
e o Judaísmo, os nomes não eram escolhidos ao acaso, mas surgiam como um reflexo de
b
ênçãos divinas e da missão espiritual que o recém-nascido carregaria ao longo de sua vida. Isaac, por
exemplo,
não foi apenas um nome, mas uma risada cósmica. Abraão e Sara, surpreendidos pela
promessa
divina de um filho, deram-lhe esse nome, que significa Deus ri, sintetizando o milagre e o
regozijo
de sua concepção (Araújo, 2021).
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No
contexto judaico, os nomes ecoavam as circunstâncias em que a criança vinha ao mundo. Não eram
simplesmente
palavras, mas cápsulas temporais que continham narrativas, esperanças e, em certos casos,
press
ágios. Nomear um filho, naquela época, era quase como esculpir seu destino no vento, deixando-o
flutuar
para que todos soubessem quem ele era, de onde vinha e o que o esperava. Nessa tradição, o
nome
transcendia a identidade individual, sendo uma espécie de legado, uma bússola cultural que
orientava
tanto a vida da criança quanto a memória coletiva da comunidade (Pereira, 2022).
Nas
religiões abraâmicas, os nomes eram mais do que um rótulo social; eles carregavam a poeira estelar
de
uma relação íntima com o divino. Para os hebreus, o nome de uma criança não era uma escolha
arbitr
ária, mas um reflexo de uma promessa celestial, um selo de proteção e guia espiritual. Era uma
conexã
o invisível, quase mágica, que unia a pessoa ao universo. Essa prática de nomeação, tão arraigada
na
tradição, ressoava não apenas nas famílias, mas em toda a sociedade, perpetuando a ideia de que o
nome
não apenas refletia quem você era, mas quem você deveria se tornar (Oliveira, 2021).
Ainda
hoje, em várias culturas, essa crença persiste. A escolha de nomes inspirados em figuras religiosas
continua
a ser vista como um gesto poderoso, quase místico, que pode atrair bênçãos para a criança. Os
pais,
ao darem aos filhos nomes como Natália ou Natanael, o estão apenas celebrando o nascimento
em
datas religiosas, como o Natal, mas também invocando a espiritualidade que esses nomes carregam.
Em
muitas famílias, esse ato de nomear continua sendo uma tradição espiritual, uma forma de assegurar
um
caminho abençoado para seus descendentes (Silva, 2020).
O
impacto psicológico dos nomes na formação da personalidade é um fenômeno fascinante. O nome de
algu
ém pode moldar sua visão de mundo, sua autoestima e até mesmo as expectativas que carrega. Um
exemplo
intrigante é o relato de uma psicóloga que percebeu como o significado de seu próprio nome
Milena, que evoca delicadeza, e Teresa, que sugere força influenciou diretamente sua percepção
de
si mesma e como interagia com o mundo. Essa fusão de significados no nome mostra o quanto ele
pode
ser um espelho emocional, refletindo a maneira como a pessoa se vê e é vista pelos outros (Araújo,
2021).

No
processo de adoção, por exemplo, o ato de escolher um nome para a criança ganha contornos
simb
ólicos ainda mais profundos. Para muitos pais adotivos, dar um novo nome ao filho é como oferecer
uma
segunda chance, um recomeço que apaga as cicatrizes de um passado de dor. Nesse contexto, o
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nome
se transforma em um novo mapa de identidade, um portal para um futuro diferente. o é apenas
um
gesto formal, mas um momento de transformação emocional e espiritual, tanto para os pais quanto
para
a criança (Pereira, 2022).
Acredito
que os nomes desempenham um papel crucial na construção da personalidade humana. A
formação
da identidade é um processo complexo, que mistura herança genética, experiências vividas e
influ
ências culturais. E, entre esses fatores, o nome surge como um fio condutor que conecta o indivíduo
à
s suas raízes ancestrais, moldando a maneira como ele interage com o mundo ao seu redor. O nome
carrega
memórias codificadas no DNA, transmitidas de geração em geração, e age como um lembrete
constante
de que somos, em parte, o resultado da história que carregamos. Através dessa lente, o nome
o é apenas uma palavra, mas uma chave que nos abre para o passado e nos projeta para o futuro (Silva,
2020).

Ao
escolher um nome, os pais não apenas perpetuam tradições familiares, mas também projetam suas
pr
óprias esperanças e sonhos nos filhos. O nome se torna, assim, uma extensão das expectativas que os
pais
têm em relação ao futuro daquela criança. Esse processo de nomeação é, portanto, tanto um ato de
criação
quanto de continuidade, onde o novo se encontra com o antigo, e o individual se entrelaça com
o
coletivo. Em última análise, o nome é uma peça fundamental na tessitura da nossa identidade,
moldando
quem somos e nos conectando à vastidão de nossa herança cultural e ancestral (Oliveira,
2021).

A
Influência do Nome na Estrutura da Personalidade: Interação entre Genética e Ambiente
A
formação da personalidade o é um processo linear, mas uma combinação complexa entre aquilo
que
herdamos biologicamente e o contexto em que crescemos. O nome, por mais banal que pareça à
primeira
vista, é um desses fatores ambientais que carrega um peso simbólico considerável. Muito além
de
ser apenas um rótulo, o nome tem o poder de evocar expectativas sociais, culturais e até psicológicas,
que
podem influenciar como um indivíduo é percebido pelos outros e, consequentemente, como ele
constr
ói a própria identidade ao longo da vida.
O
que torna essa questão interessante é o fato de que o nome, enquanto fator social, interage diretamente
com
predisposições genéticas. Não se trata de afirmar que o nome define a personalidade de uma pessoa
por
completo isso seria uma visão simplista. No entanto, ele pode funcionar como um catalisador,
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intensificando
ou suavizando características que já estão presentes na estrutura genética. O conceito de
interação
gene-ambiente (GxE) explica como os genes não operam em isolamento, mas são modulados
por
fatores externos. Neste cenário, o nome pode funcionar como uma das muitas variáveis que moldam
as
interações sociais e comportamentais (Perlstein & Waller, 2020).
Um
nome pode carregar conotações culturais, expectativas e até julgamentos. Por exemplo, nomes
vinculados
a figuras históricas ou religiosas podem trazer consigo uma bagagem emocional e simbólica
que
influencia o comportamento de quem os carrega. Isso cria um espaço onde a personalidade se
desenvolve
sob a tensão entre o que a genética oferece e o que o ambiente exige. Pesquisas com gêmeos
revelam
que cerca de 40% a 60% dos traços de personalidade o hereditários, mas é na interação com
o
ambiente, inclusive com o próprio nome, que essas predisposições se manifestam e se organizam
(Eysenck,
1990).
O
impacto do nome fica ainda mais evidente em situações adversas ou em ambientes com fortes pressões
sociais.
Nesses casos, o nome pode reforçar certos traços de personalidade ou, ao contrário, servir como
uma
barreira, moldando as escolhas e reações do indivíduo. Esse processo o é estático; o nome e suas
associações
culturais evoluem conforme a pessoa interage com o mundo ao seu redor (Rutter et al.,
1997).
A personalidade se torna, assim, uma espécie de negociação contínua entre os limites impostos
pela
genética e as possibilidades oferecidas pelo ambiente, onde o nome atua como uma das variáveis
que
influenciam essa equação.
Portanto,
ao contrário de ser apenas uma etiqueta sem significado, o nome contribui para moldar o modo
como
as predisposições genéticas se manifestam na personalidade. Ele atua como um ponto de encontro
entre
o biológico e o social, permitindo que a personalidade se desenvolva em múltiplas direções,
dependendo
de como esse nome é recebido e vivido no contexto social. Essa combinação única de
gen
ética e ambiente, com o nome desempenhando um papel discreto, mas poderoso, sublinha a
complexidade
do processo de desenvolvimento humano.
A
Relação Entre Nomes e Personalidade: Evidências Biológicas, Neurocientíficas e Genômicas
O
papel do nome na formação da personalidade pode ser compreendido por meio de uma análise que
envolva
as bases biológicas, neurocientíficas e genômicas do desenvolvimento humano. A
personalidade,
conforme mostrado em estudos genômicos e neurocientíficos, é uma manifestação
pág. 8954
din
âmica que resulta de interações contínuas entre predisposições genéticas e influências ambientais,
incluindo
elementos sociais, como o nome. Ao abordar a questão pela ótica das ciências biomédicas,
torna
-se evidente que o nome pode funcionar como um modulador comportamental, interagindo com
circuitos
neurais e predisposições genéticas para moldar a expressão da personalidade.
Base
Genética e Epigenética
A
personalidade é significativamente influenciada por fatores genéticos. Estudos com gêmeos indicam
que
aproximadamente 40% a 60% da variância observada em traços de personalidade pode ser atribuída
à
hereditariedade (Eysenck, 1990). Esses traços são codificados no DNA, mas a expressão desses genes
não
ocorre de forma fixa ou estática. A epigenética, o campo que estuda as modificações no gene sem
alteração
na sequência de DNA, explica como fatores ambientais incluindo a atribuição de um nome
podem ativar ou silenciar certos genes ao longo da vida de um indivíduo. O nome, carregado de
significados
culturais, pode alterar a maneira como o ambiente social afeta a metilação do DNA,
modulando,
assim, a expressão de genes relacionados ao comportamento, como aqueles envolvidos na
regulação
do humor, controle de impulsos e interação social (Perlstein & Waller, 2020).
Essa
interação entre genética e ambiente, frequentemente referida como interação gene-ambiente (GxE),
torna
-se particularmente relevante quando se considera o impacto simbólico do nome. A escolha de um
nome
pode influenciar a autoimagem de um indivíduo desde os primeiros anos de vida, atuando como
um
fator epigenético que direciona a forma como predisposições genéticas relacionadas à personalidade
são
manifestas. Por exemplo, indivíduos com nomes associados a figuras históricas ou religiosas podem
ser
mais propensos a internalizar características comportamentais específicas, que ativam vias genéticas
subjacentes
a essas predisposições.
Neurociê
ncia da Personalidade e a Influência do Nome
A
neurociência da personalidade sugere que traços comportamentais e psicológicos são profundamente
enraizados
em circuitos cerebrais específicos, que estão conectados a regiões do cérebro responsáveis
pela
regulação emocional, autocontrole e cognição social. A amígdala, o córtex pré-frontal e o sistema
de
recompensa são regiões envolvidas na modulação da resposta emocional e no processamento de
informações
sociais, todas influenciadas pelas experiências do indivíduo desde a infância. Nesse
contexto,
o nome de uma pessoa pode servir como um estímulo ambiental recorrente, ativando respostas
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nesses
circuitos neurais que moldam a autoimagem e a maneira como o indivíduo interage com os outros
(Pereira
et al., 2022).
Estudos
de neuroimagem funcional, que avaliam a atividade cerebral em tempo real, mostram que a
maneira
como um indivíduo responde ao seu nome está ligada à ativação dessas áreas cerebrais,
especialmente
aquelas envolvidas no processamento social e emocional. Por exemplo, a ativação do
c
órtex cingulado anterior uma região associada ao monitoramento de conflito e à tomada de decisão
pode
ser modulada pela forma como uma pessoa se identifica com o nome que carrega. Isso sugere que
o
nome o é um simples fator externo, mas um agente que interage diretamente com os circuitos
cerebrais
responsáveis pela formação da identidade e dos traços comportamentais (Rutter et al., 1997).
Genô
mica e Plasticidade Neural
O
conceito de plasticidade neural, ou seja, a capacidade do cérebro de modificar sua estrutura e função
em
resposta às experiências, complementa as evidências de que o nome pode desempenhar um papel
relevante
na formação da personalidade. A plasticidade cerebral é altamente influenciada por fatores
ambientais,
incluindo interações sociais e culturais. Durante os primeiros anos de vida, quando o cérebro
é
mais maleável, o nome pode servir como um elemento crucial na