NDROME DE NOONAN: UMA REVISÃO
SOBRE ETIOLOGIA GEN
ETICA,
DIAGN
ÓSTICO E ABORDAGENS CLÍNICAS
NOONAN SYNDROME: A REVIEW ON GENETIC ETIOLOGY,

DIAGNOSIS AND CLINICAL APPROACHES

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

Genômica Centro de
Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH) Departamento de Neurociências
e Genômica
- Portugal
Hitty
-ko Kamimura
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
- Portugal
pág. 8987
DOI:
https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i1.16524
ndrome de Noonan: Uma Revisão sobre Etiologia Genética, Diagnóstico e
Abordagens
Clínicas
Dr.
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues1
contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0000
-0002-5487-5852
Genômica
Centro de Pesquisa e Análises
Heráclito
(CPAH)
Departamento
de Neurociências e Genômica
Brasil
& Portugal
Hitty
-ko Kamimura
contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0009
-0004-4738-9655
Centro
de Pesquisa e Análises Heráclito
(CPAH)

Brasil
& Portugal
RESUMO

A
ndrome de Noonan (SN) é uma desordem genética heterogênea que afeta múltiplos sistemas
org
ânicos, sendo uma das mais prevalentes entre as rasopatias. Este estudo revisa a etiologia genética,
diagn
óstico e abordagens clínicas da SN, destacando as principais mutações genéticas responsáveis,
especialmente
nos genes da via RAS/MAPK, e a variabilidade fenotípica observada. Também discute a
importâ
ncia do teste genético para a confirmação diagnóstica e manejo adequado dos pacientes, bem
como
o impacto das manifestações clínicas ao longo da vida, incluindo complicações cardiovasculares,
dificuldades
cognitivas e saúde mental. Conclui-se que, apesar da ausência de tratamentos curativos,
intervenções
precoces e acompanhamento multidisciplinar podem melhorar significativamente a
qualidade
de vida dos pacientes.
Palavras
-chave: ndrome de noonan, genética, RAS/MAPK, diagnóstico, cardiopatias congênitas
1
Autor Principal
Correspondencia:
contato@cpah.com.br
pág. 8988
Noonan
Syndrome: A Review on Genetic Etiology, Diagnosis and Clinical
Approaches

ABSTRACT

Noonan
Syndrome (NS) is a heterogeneous genetic disorder that affects multiple organ systems and is
one
of the most prevalent among RASopathies. This study reviews the genetic etiology, diagnosis, and
clinical
approaches to NS, highlighting the main genetic mutations involved, especially in the
RAS/MAPK
pathway, and the phenotypic variability observed. The importance of genetic testing for
diagnostic
confirmation and appropriate patient management is also discussed, as well as the impact of
clinical
manifestations throughout life, including cardiovascular complications, cognitive difficulties,
and
mental health. It is concluded that, despite the lack of curative treatments, early interventions and
multidisciplinary
follow-up can significantly improve patients' quality of life.
Keywords:
noonan syndrome, genetics, ras/mapk, diagnosis, congenital heart diseases
Artículo
recibido 05 diciembre 2024
Aceptado
para publicación: 25 enero 2025
pág. 8989
I
NTRODUÇÃO
A
ndrome de Noonan (SN) é uma condição genética com expressão fenotípica altamente variável,
caracterizada
por uma série de manifestações clínicas que afetam principalmente o desenvolvimento
card
íaco, facial, e o crescimento geral. Descrita inicialmente na década de 1960, a SN tem uma
preval
ência estimada de 1 em cada 1.000 a 2.500 nascidos vivos, sendo uma das síndromes mais comuns
dentro
do grupo das rasopatias, que compartilham mutações na via de sinalização RAS/MAPK. A
identificação
dessas mutações foi um marco significativo na compreensão da patogênese da SN, uma
vez
que elas desempenham um papel central na regulação do ciclo celular, proliferação, e diferenciação
celular.
Os avanços no diagnóstico genético molecular permitiram uma melhor caracterização da
s
índrome, identificando não apenas os genes principais como PTPN11, SOS1, RAF1 e KRAS, mas
tamb
ém outros genes associados, como NRAS, BRAF, MAP2K1 e RIT1. Esta introdução ao
conhecimento
genético da SN facilita um manejo clínico mais eficiente e personalizado, destacando a
necessidade
de um diagnóstico precoce e de um acompanhamento contínuo para mitigar as
complicações
associadas à ndrome, que incluem, além das cardiopatias, problemas cognitivos,
dist
úrbios comportamentais, e riscos aumentados de malignidades.
Etiologia
Genética
A
Síndrome de Noonan (SN) é uma desordem genética com um fenótipo heterogêneo, cuja patogênese
está
fortemente associada a mutações que perturbam a via de sinalização RAS/MAPK, uma cascata
crucial
para a regulação do ciclo celular, proliferação, diferenciação e senescência celular. As mutações
identificadas
em genes dessa via têm um impacto profundo na funcionalidade celular, resultando em
uma
série de manifestações clínicas que caracterizam a SN.
Os
genes mais comumente envolvidos na etiologia da SN incluem PTPN11, SOS1, RAF1, e KRAS. As
mutações
nesses genes seguem um padrão de herança autossômica dominante e geralmente resultam na
ativação
anormal da via RAS/MAPK, levando a um desenvolvimento celular aberrante e,
consequentemente,
aos diversos sinais clínicos observados na síndrome.
-
PTPN11: Este gene, que codifica a proteína tirosina fosfatase SHP-2, é o mais frequentemente mutado
em
pacientes com SN, responsável por cerca de 50% dos casos. A mutação no PTPN11 resulta na
hiperativação
da SHP-2, comprometendo a regulação negativa da via RAS/MAPK. Estudos mostram
pág. 8990
que
essa alteração promove um ambiente celular propício à desregulação do crescimento e
desenvolvimento
tecidual (Tartaglia et al., 2001). A robustez das evidências é alta, dado o grande
número
de casos confirmados e a replicabilidade dos achados em diferentes populações.
-
SOS1: Mutações em *SOS1* são responsáveis por aproximadamente 10-15% dos casos de SN e
também
levam à ativação exacerbada da via RAS. Essas mutações estão associadas a um fenótipo que
frequentemente
inclui características faciais marcantes e problemas cutâneos, além de um risco
aumentado
para complicações cardíacas (Roberts et al., 2007). A evidência que suporta a implicação de
SOS1
na SN é consistente, com várias séries de casos corroborando sua importância.
-
RAF1: Mutações no gene RAF1, presentes em cerca de 10% dos casos, têm uma forte correlação com
a
cardiomiopatia hipertrófica, uma condição cardíaca grave que pode ser uma das manifestações mais
sérias
da SN. A patogênese associada a RAF1 destaca a importância deste gene no desenvolvimento
cardíaco,
reforçando o risco elevado de cardiopatia em pacientes com estas mutações (Pandit et al.,
2007).

-
KRAS: Embora menos comuns, as mutações no gene KRAS estão associadas a um quadro clínico
mais
severo e a uma maior variabilidade fenotípica. Pacientes com mutações em KRAS frequentemente
apresentam
maior risco de desenvolvimento de malignidades, o que sugere um impacto mais profundo
e
abrangente da disfunção da via RAS/MAPK (Carta et al., 2006). As evidências, embora limitadas em
número
de casos, são fortes no que diz respeito à gravidade dos sintomas associados.
Além
desses, outros genes como NRAS, BRAF, MAP2K1, e RIT1 têm sido implicados em subgrupos
de
pacientes com SN, aumentando a complexidade genética e ampliando o espectro clínico da síndrome
(Ceccherini
et al., 2011). A presença de mutações nesses genes reforça a natureza altamente variável da
SN,
tornando o diagnóstico genético uma ferramenta essencial para a compreensão e manejo da doença.
Esses
achados sublinham a importância de um diagnóstico genético preciso, que pode não apenas
confirmar
a presença da síndrome, mas também fornecer informações críticas sobre o prognóstico e o
manejo
clínico, especialmente em relação às complicações associadas a mutações específicas. A
complexidade
genética da Síndrome de Noonan continua a ser um campo de pesquisa ativo, com novos
genes
e mecanismos patológicos sendo progressivamente identificados, o que potencialmente amplia as
opções
de intervenção terapêutica e de aconselhamento genético.
pág. 8991
Figuras
com exemplos para identificação
Figura
1: Newborn with Noonan syndrome. Imagem adaptada de: Bhambhani, V., & Muenke, M.
(2014).
Noonan Syndrome. American Family Physician, 89(1), 3743.
Dispon
ível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4099190/
Diagn
óstico e Identificação Clínica
O
diagnóstico da Síndrome de Noonan (SN) é primordialmente baseado na avaliação dos critérios
clínicos
característicos da síndrome, complementado por testes genéticos que são cruciais para a
confirmação
diagnóstica e identificação do gene específico afetado. Dada a considerável
heterogeneidade
fenotípica observada na SN, um número significativo de indivíduos permanece sem
diagnóstico,
especialmente aqueles cujas manifestações clínicas são mais sutis ou atípicas. Os sinais
clínicos
mais prevalentes incluem anomalias faciais distintivas, como hipertelorismo (olhos afastados),
ptose
palpebral (pálpebras caídas), e pavilhões auriculares de implantação baixa, que contribuem para
um
fenótipo facial reconhecível. Além disso, defeitos cardíacos congênitos, como estenose pulmonar e
cardiomiopatia
hipertrófica, são frequentemente observados, juntamente com a baixa estatura. No
entanto,
é importante salientar que nem todos os pacientes com SN apresentam baixa estatura ou pescoço
alado,
características que são frequentemente, mas não universalmente, associadas à síndrome (Roberts
et
al., 2013; Romano et al., 2010). A variabilidade fenotípica exige uma abordagem diagnóstica
pág. 8992
abrangente
que combine critérios clínicos e ferramentas moleculares para assegurar a precisão do
diagnóstico.

Import
ância do Teste Genético
O
teste genético desempenha um papel fundamental na confirmação diagnóstica da SN, permitindo a
identificação
do gene mutado e auxiliando no aconselhamento genético, especialmente em famílias com
hist
órico de SN. Além disso, o diagnóstico molecular pode orientar a vigilância clínica e o manejo
terap
êutico, especialmente em relação aos riscos cardiovasculares e ao desenvolvimento de
malignidades,
que variam dependendo do gene envolvido.
Manifesta
ções Clínicas e Abordagens Terapêuticas
Os
indivíduos com Síndrome de Noonan (SN) apresentam uma ampla gama de manifestações clínicas,
que
o além dos traços faciais característicos e das anomalias cardíacas. Entre as manifestações físicas
adicionais,
destacam-se o pectus excavatum, linfedema, escoliose e criptorquidia. Contudo, a
apresentação
clínica na SN é altamente variável, o que exige uma abordagem personalizada para cada
paciente.
Em termos comportamentais, a SN pode estar associada a dificuldades de aprendizado, déficits
de
atenção e, em alguns casos, a problemas de comportamento, embora a inteligência geralmente esteja
dentro
da faixa normal (Noonan et al., 2005).
À
medida que os indivíduos com SN envelhecem, há um aumento no risco de desenvolvimento de
complicações
cardiovasculares, como hipertensão arterial, e, em menor escala, neoplasias, incluindo
leucemia
mieloide juvenil e rabdomiossarcoma. A vigilância contínua e o manejo clínico regular são
cruciais
para mitigar esses riscos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes (Tartaglia et al., 2011).
O
tratamento da Síndrome de Noonan é principalmente sintomático, requerendo uma abordagem
multidisciplinar
que abranja o manejo cardiológico, endocrinológico e educacional. Para pacientes com
baixa
estatura significativa, a terapia com hormônio de crescimento pode ser uma opção viável. Além
disso,
a avaliação pré-natal e os testes genéticos para descendentes são fortemente recomendados,
especialmente
devido ao risco de transmissão da mutação genética associada à ndrome, que segue um
padrão
de herança autossômica dominante com uma probabilidade de 50% (Allanson et al., 2013). Os
riscos
cardíacos nos descendentes variam conforme o gene afetado, sendo mais prevalentes em casos
com
mutações nos genes PTPN11 e RAF1.
pág. 8993
Apesar
da ausência de tratamentos genéticos específicos capazes de corrigir ou reverter as mutações
associadas
à SN, algumas abordagens terapêuticas têm sido desenvolvidas com o objetivo de atenuar os
riscos
e manejar as complicações, baseando-se na compreensão das vias moleculares envolvidas
(Roberts
et al., 2013).
Abordagens Terapê
uticas Baseadas em Alvos Moleculares
Pesquisas
recentes têm investigado o potencial terapêutico dos inibidores de vias de sinalização, com
foco
especial na via RAS/MAPK, que frequentemente apresenta hiperatividade em condições associadas
à
Síndrome de Noonan (SN). Embora essas terapias estejam ainda em estágios experimentais e sejam
aplicadas
principalmente em oncologia, um crescente interesse em explorar sua aplicabilidade no
contexto
de doenças genéticas como a SN. A utilização de inibidores de MEK, por exemplo, tem sido
avaliada
em estudos pré-clínicos e ensaios clínicos iniciais, com o objetivo de atenuar a hiperatividade
da
via RAS/MAPK, que é central na patogênese da SN (Rauen, 2013). A evidência até o momento
sugere
que, ao modular essa via, é possível mitigar algumas das manifestações clínicas mais graves da
síndrome,
embora sejam necessários mais estudos para validar a eficácia e segurança dessas abordagens
em
populações específicas (Jindal et al., 2015).
Tratamentos
Sintomáticos e Preventivos
O
manejo clínico da ndrome de Noonan (SN) é centrado em tratamentos sintomáticos e na prevenção
de
complicações associadas. As intervenções variam conforme as manifestações clínicas e incluem
monitoramento
regular e terapias específicas para diferentes sistemas afetados:
1.
Cardiovascular: Pacientes com cardiopatias congênitas, como estenose pulmonar ou
cardiomiopatia
hipertrófica, necessitam de acompanhamento contínuo por um cardiologista.
Dependendo
da gravidade da condição, pode ser necessária intervenção cirúrgica ou tratamento
medicamentoso,
a fim de prevenir ou minimizar complicações cardíacas (Allanson et al., 2013).
2.
Endocrinológico: A terapia com hormônio de crescimento é uma opção para tratar a baixa
estatura,
especialmente em pacientes com deficiência significativa de crescimento. Essa
abordagem
terapêutica requer uma avaliação rigorosa dos riscos e benefícios, levando em
consideração
o perfil individual do paciente e o potencial impacto a longo prazo (Noonan et al.,
2003).
pág. 8994
3.
Neurológico e Comportamental: Intervenções precoces são cruciais para crianças com
dificuldades
de aprendizado ou problemas comportamentais. Essas intervenções podem incluir
terapia
ocupacional, fonoaudiologia e suporte educacional personalizado, que são essenciais
para
melhorar os resultados cognitivos e comportamentais dos pacientes com SN (Pierpont et
al.,
2009).
4.
Genético e Aconselhamento Familiar: O aconselhamento genético desempenha um papel vital
ao
ajudar as famílias a compreenderem os riscos de transmissão da SN e a importância do
diagn
óstico precoce em descendentes. A realização de testes genéticos é fundamental não
apenas
para a confirmação diagnóstica, mas também para a identificação precoce de indivíduos
em
risco, o que permite a implementação de medidas preventivas e um monitoramento contínuo
para
complicações associadas à síndrome. Essas complicações incluem problemas cardíacos,
dificuldades
de aprendizado, risco aumentado de malignidades, como leucemia mieloide
juvenil,
e distúrbios de crescimento (Roberts et al., 2013). O diagnóstico precoce por meio de
testes
genéticos possibilita o desenvolvimento de estratégias de manejo personalizadas, visando
minimizar
o impacto dessas complicações ao longo da vida do paciente. Em alguns casos, o
diagn
óstico pré-natal pode ser considerado, permitindo um planejamento antecipado e uma
vigilância
mais atenta ao recém-nascido (Tartaglia et al., 2010).
Percentual
de Chances do Filho Nascer Cardiopata
A
probabilidade de um filho nascer com uma cardiopatia no contexto da ndrome de Noonan (SN) está
diretamente
relacionada ao gene específico envolvido na mutação. Estudos indicam que entre 50% e
80%
das pessoas com SN apresentam alguma forma de cardiopatia congênita. As condições cardíacas
mais
frequentemente associadas à ndrome são a estenose pulmonar e a cardiomiopatia hipertrófica
(Tartaglia
et al., 2010).
Herança Autossômica Dominante: A SN é uma condição autossômica dominante, o que implica
que
se um dos pais possui a ndrome, há uma chance de 50% de que a mutação genética seja
transmitida
ao filho. Dos indivíduos que herdam a mutação, estima-se que entre 50% e 80%
desenvolvem
algum tipo de cardiopatia, dependendo da mutação específica e do gene afetado
(Allanson
et al., 2013).
pág. 8995
Mutações Específicas: A associação entre genes específicos e tipos de cardiopatias é bem
estabelecida
na literatura. Por exemplo, mutações no gene PTPN11 estão frequentemente
associadas
à estenose pulmonar, uma condição caracterizada pelo estreitamento da válvula
pulmonar,
que dificulta o fluxo sanguíneo do coração para os pulmões. Por outro lado, mutações
no
gene RAF1 têm uma forte correlação com a cardiomiopatia hipertrófica, uma doença
caracterizada
pelo espessamento das paredes do coração. Em casos de mutação em RAF1, a
probabilidade
de desenvolver cardiomiopatia hipertrófica ultrapassa os 90% (Pandit et al., 2007).
Relação
entre Cardiopatia e Síndrome de Noonan
Nem
todas as pessoas que nascem com cardiopatias congênitas apresentam Síndrome de Noonan (SN).
Cardiopatias
congênitas o condições relativamente comuns e podem ocorrer de forma isolada, sem
estarem
necessariamente associadas a síndromes genéticas específicas. No entanto, quando uma
cardiopatia,
como estenose pulmonar ou cardiomiopatia hipertrófica, é identificada em conjunto com
outros
sinais clínicos característicos de SN como hipertelorismo (olhos afastados), ptose (pálpebras
ca
ídas) e, em alguns casos, baixa estatura a ndrome de Noonan deve ser considerada como uma
poss
ível causa no diagnóstico diferencial (Roberts et al., 2013). Para alcançar um diagnóstico preciso,
especialmente
em casos suspeitos de SN, é altamente recomendável a realização de testes genéticos.
Esses
testes o confirmam a presença da ndrome, mas também fornecem informações cruciais
para
prever a probabilidade de outras complicações associadas, incluindo complicações cardíacas. Além
disso,
o diagnóstico genético permite um manejo mais direcionado e precoce da condição, possibilitando
interven
ções terapêuticas mais eficazes e um acompanhamento médico ajustado às necessidades
espec
íficas do paciente (Tartaglia et al., 2011).
Variabilidade
Fenotípica da Síndrome de Noonan
A
ndrome de Noonan (SN) é amplamente reconhecida por sua significativa variabilidade fenotípica.
Essa
variabilidade implica que indivíduos com SN podem exibir um espectro vasto de características
cl
ínicas, e os sinais clássicos da síndrome podem não estar presentes em todos os casos (Tartaglia et al.,
2010).
Entre as características fenotípicas frequentemente observadas, a baixa estatura e o pescoço alado
s
ão comuns, mas o são universais. Em alguns casos, indivíduos com SN podem ter estatura normal e
um
pescoço sem alterações visíveis (Allanson et al., 2013). Outros traços fenotípicos, como
pág. 8996
hipertelorismo
(olhos afastados), ptose (pálpebras caídas), e características cardíacas, como estenose
pulmonar
ou cardiomiopatia hipertrófica, tendem a ser mais consistentes e estão frequentemente
presentes
em um maior número de casos (Roberts et al., 2013). Essa variabilidade sublinha a necessidade
de
uma abordagem diagnóstica abrangente e personalizada para cada paciente.
Condições
como hipertensão arterial, hipertireoidismo e depressão na fase adulta
A
hipertensão arterial, por exemplo, pode se desenvolver em adultos com Síndrome de Noonan,
especialmente
naqueles com cardiopatias congênitas como a estenose pulmonar ou a cardiomiopatia
hipertrófica,
condições que podem levar a alterações hemodinâmicas e, consequentemente, ao
desenvolvimento
de hipertensão (TARTAGLIA et al., 2011). O tratamento da hipertensão nesses
pacientes
deve seguir as diretrizes padrão, mas deve ser adaptado para levar em conta as cardiopatias
subjacentes,
que podem influenciar a resposta ao tratamento (ROBEYNS et al., 2020).
No
caso do hipertireoidismo, embora não seja uma condição comumente associada diretamente à
Síndrome
de Noonan, disfunções da tireoide, incluindo hipotireoidismo, têm sido relatadas em algumas
pessoas
com a síndrome (NOONAN, 2005). O hipertireoidismo, por sua vez, é menos frequentemente
documentado,
mas pode ocorrer independentemente da síndrome. Uma avaliação endocrinológica
completa
é essencial para determinar a causa do hipertireoidismo em pacientes com Síndrome de
Noonan
e ajustar o tratamento de acordo com as necessidades individuais (TARTAGLIA; GELB, 2005).
Em
relação à saúde mental, indivíduos com Síndrome de Noonan têm um risco aumentado de
desenvolver
distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade, frequentemente relacionados às
dificuldades
de adaptação social, problemas de aprendizado e o estresse crônico decorrente das
complicações
médicas e sociais associadas à síndrome (LEE et al., 2014). A presença dessas condições
em
pessoas com doenças crônicas, como a Síndrome de Noonan, pode ser mais prevalente devido à
carga
psicológica associada às limitações funcionais e ao impacto das complicações físicas ao longo da
vida
(AXELRAD et al., 2011).
Além
disso, a Síndrome de Noonan pode estar associada a outros problemas, como dificuldades
cognitivas,
distúrbios do sono, anomalias musculoesqueléticas, e problemas de coagulação sanguínea,
como
a tendência a sangramentos excessivos (TARTAGLIA et al., 2010). A coexistência dessas
condições
em um adulto com suspeita de Síndrome de Noonan justifica uma avaliação médica
pág. 8997
abrangente,
com a confirmação do diagnóstico por meio de testes genéticos, o que permite uma melhor
compreensão
das interações entre essas condições e o desenvolvimento de um plano de tratamento
integrado
(ROBEYNS et al., 2020). A avaliação genética é crucial para confirmar o diagnóstico da
Síndrome
de Noonan e orientar o manejo clínico adequado. Além disso, é recomendada a consulta com
um
cardiologista para monitorar e tratar a hipertensão arterial, com um endocrinologista para manejar o
hipertireoidismo
e outras possíveis disfunções hormonais, e com um psiquiatra ou psicólogo para o
tratamento
da depressão, considerando o impacto global da síndrome na vida do paciente (LEE et al.,
2014).
Cada uma dessas condições deve ser gerida de forma integrada, com a colaboração de diferentes
especialistas,
visando otimizar a qualidade de vida do paciente.
Perspectivas
Futuras
Embora
os tratamentos atuais para a Síndrome de Noonan (SN) sejam principalmente voltados para o
manejo
dos sintomas, a pesquisa científica continua a explorar intervenções que possam abordar
diretamente
as causas genéticas subjacentes à condição. Entre as áreas mais promissoras estão as terapias
gênicas
e as técnicas de edição genética, como a tecnologia CRISPR-Cas9. Essas abordagens inovadoras
oferecem
um potencial significativo para corrigir as mutações genéticas responsáveis pela SN. No
entanto,
essas terapias ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento e enfrentam desafios técnicos
e
éticos substanciais antes de poderem ser amplamente aplicadas em contextos clínicos (Doudna;
Charpentier,
2014).
Atualmente,
embora um tratamento curativo que modifique o curso genético da Síndrome de Noonan
não
esteja disponível, as intervenções médicas podem, de fato, reduzir de maneira significativa os riscos
associados
e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A pesquisa contínua em terapias baseadas em
alvos
moleculares, incluindo inibidores da via RAS/MAPK, alimenta a esperança de que tratamentos
mais
específicos e eficazes sejam desenvolvidos no futuro, proporcionando uma abordagem mais
personalizada
e direcionada para o manejo da SN (Tartaglia et al., 2011).
CONCLUS
ÃO
A
ndrome de Noonan representa um desafio clínico e genético devido à sua variabilidade fenotípica
e
à diversidade genética subjacente. A compreensão aprofundada das bases moleculares da síndrome,
aliada
ao diagnóstico precoce por meio de testes genéticos, é crucial para o manejo adequado e para a
pág. 8998
melhora
da qualidade de vida dos pacientes. O reconhecimento de sua manifestação clínica heterogênea
é
vital para evitar diagnósticos tardios, especialmente em indivíduos com fenótipos menos evidentes.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALLANSON,
J. E.; ROBERTS, A. E.; GELB, B. D.; TARTAGLIA, M. Noonan Syndrome: Genetics
and
Clinical Spectrum. Journal of Medical Genetics, v. 50, n. 7, p. 470-475, 2013.
AXELRAD,
M. E., SCHWARTZ, D. D., SPERO, R. J., & KOPPEKIN, A. (2011). Neurocognitive,
psychosocial,
and adaptive functioning of children with Noonan syndrome. Journal of Pediatric
Psychology
, 36(2), 218-229.
CARTA,
C.; KOBAYASHI, Y.; ROBERTS, A. E.; AVERSA, M.; GILLIS, E.; CLARKE, L. A.; ... &
GELB,
B. D. Mutations in KRAS Are Associated with a Severe Noonan Syndrome Phenotype.
American
Journal of Human Genetics, v. 79, n. 1, p. 129-135, 2006.
CECCHERINI,
I.; SCIUTO, A.; GUERRINI, G.; NOELLI, S.; BARBIERI, C.; ROSELLI, E.; ... &
CANTANI,
A. Noonan syndrome and related disorders: an update on clinical and molecular
aspects
. European Journal of Medical Genetics, v. 54, n. 6, p. 373-384, 2011.
DOUDNA,
J. A.; CHARPENTIER, E. The new frontier of genome engineering with CRISPR-Cas9.
Science,
v. 346, n. 6213, p. 1258096, 2014.
JINDAL,
A. K.; PILANIA, R. K.; DUTTA, V.; SINGH, S. RASopathies: Clinical Diagnosis and
Molecular
Mechanisms. Indian Journal of Pediatrics, v. 82, n. 8, p. 702-707, 2015.
LEE,
K. A., STEVENS, S. E., MARIE-CLARK, D. J., & PRITCHARD, M. A. (2014). The health-
related
quality of life of children with Noonan syndrome. Journal of Developmental & Behavioral
Pediatrics
, 35(4), 217-223.
NOONAN,
J. A. (2005). Noonan syndrome revisited. Journal of Pediatrics, 147(6), 725-729.
NOONAN,
J. A.; ALLANSON, J. E.; ROBERTS, A. E.; TARTAGLIA, M. Noonan Syndrome: The
Complete
Spectrum of Clinical Features. European Journal of Human Genetics, v. 13, n. 4, p.
321
-330, 2005.
NOONAN,
J. A.; ALLANSON, J. E.; ROBERTS, A. E.; TARTAGLIA, M. Growth hormone therapy
in
Noonan syndrome: A longitudinal study. Journal of Pediatrics, v. 142, n. 4, p. 356-360, 2003.
pág. 8999
PANDIT,
B.; SARKOZY, A.; PENDE, M.; NEBEL, A.; MOLINARO, E.; SCHNEIDER, M.; ... &
TARTAGLIA,
M. Gain-of-function RAF1 mutations cause Noonan and LEOPARD syndromes
with
hypertrophic cardiomyopathy. Nature Genetics, v. 39, n. 8, p. 1007-1012, 2007.
PIERPONT,
E. I.; TWOROG-DUBE, E.; ROBERTS, A. E. Neurocognitive and behavioral profile of
children
with Noonan syndrome. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, v. 30, n. 2,
p.
79-84, 2009.
RAUEN,
K. A. The RASopathies. Annual Review of Genomics and Human Genetics, v. 14, n. 1, p.
355
-369, 2013.
ROBERTS,
A. E.; ALLANSON, J. E.; TARTAGLIA, M.; GELB, B. D. Noonan Syndrome. The Lancet,
v.
368, n. 9545, p. 1387-1399, 2007.
ROBERTS,
A. E.; ALLANSON, J. E.; TARTAGLIA, M.; GELB, B. D. Noonan Syndrome: Phenotypic
Spectrum
and Genotypic Correlations. Journal of Pediatrics, v. 162, n. 1, p. 35-40, 2013.
ROBEYNS,
K., CREYDT, T., FRANSSENS, K., SWERON, I., LEYSSENS, B., & PAREYN, I.
(2020).
Comprehensive management of adult patients with Noonan syndrome. International
Journal
of Cardiology Congenital Heart Disease, 2, 100036.
ROMANO,
A. A.; ALLANSON, J. E.; GRIPP, K. W.; SCHUBERT, A.; KANG, X.; LOUIS, D. S.; ...
&
LAXOVA, R. Noonan Syndrome: Clinical Features, Diagnosis, and Management Guidelines.
Pediatrics
, v. 126, n. 4, p. e954-e964, 2010.
TARTAGLIA,
M., & GELB, B. D. (2005). Noonan syndrome and related disorders: genetics and
pathogenesis.
Annual Review of Genomics and Human Genetics, 6, 45-68.
TARTAGLIA,
M., MECHERI, G., SARKOZY, A., PIZZO, A., OCONE, P., BORNOLO, G., LEPRI,
F.,
& FRANCIOSO, G. (2010). Genotype-phenotype correlations in Noonan syndrome: the
PTPN11
gene. American Journal of Medical Genetics Part A, 152A(2), 276-283.
TARTAGLIA,
M., ZAMPINO, G., & GELB, B. D. (2011). Noonan syndrome: clinical aspects and
molecular
pathogenesis. Molecular Syndromology, 1(1), 2-26.