RELAÇÃO ENTRE ALTO QUOCIENTE DE
INTELIGÊNCIA E NÍVEIS DE TESTOSTERONA:
UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE
INFÂNCIA E VIDA ADULTA
RELATION BETWEEN HIGH INTELLIGENCE QUOTIENT
AND TESTOSTERONE LEVELS: A COMPARATIVE
ANALYSIS BETWEEN CHILDHOOD AND ADULT LIFE
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica
Flávio Henrique dos Santos Nascimento
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica
João Marcello Borba Leite
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica

pág. 6193
DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i4.19241
Relação Entre Alto Quociente de Inteligência e Níveis de Testosterona: Uma
Análise Comparativa Entre Infância e Vida Adulta
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues1
contato@cpah.com.br
https://orcid.org/0000-0002-5487-5852
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de
Neurociências e Genômica, Brasil & Portugal
Flávio Henrique dos Santos Nascimento
contato@cpah.com.br
https://orcid.org/0009-0007-3760-2936
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica
Brasil & Portugal
João Marcello Borba Leite
contato@cpah.com.br
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)
Departamento de Neurociências e Genômica
Brasil & Portugal
RESUMO
A testosterona é um hormônio fundamental no desenvolvimento cerebral, com influência significativa
sobre a percepção, o comportamento e traços de personalidade. Indivíduos com Quociente de
Inteligência (QI) elevado podem apresentar padrões distintos de regulação da testosterona, impactando
a competitividade e a saúde mental ao longo da vida. Este estudo investiga a complexa relação entre
altos níveis de inteligência e os níveis de testosterona, comparando dados da infância e da vida adulta.
Para tal, foi conduzida uma revisão de literatura, complementada pela coleta de dados através de
questionários e análise de laudos de exames médicos no âmbito do projeto Gifted Debate, vinculado ao
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), que abrange mais de 500 indivíduos pertencentes a
sociedades de alto QI. Os resultados preliminares sugerem que indivíduos superdotados podem exibir
variações hormonais que afetam suas interações sociais e traços de personalidade. Os achados desta
pesquisa visam contribuir para uma melhor compreensão da interação entre inteligência,
neuroendocrinologia e bem-estar psicológico, auxiliando na identificação de padrões neuroendócrinos
associados à inteligência e seus impactos na saúde mental e comportamento.
Palavras-chave: alto QI, testosterona, superdotação, neuroendocrinologia, inteligência, comportamento
1 Autor Principal
Correspondencia: contato@cpah.com.br

pág. 6194
Relation Between High Intelligence Quotient and Testosterone Levels: A
Comparative Analysis Between Childhood and Adult Life
ABSTRACT
Testosterone is an important hormone in brain development, influencing perception, behavior, and
personality traits. Studies show that people with high IQs may have distinct patterns of testosterone
regulation, which can impact competitiveness and mental health throughout life. This study investigates
the relationship between high intelligence levels and testosterone levels in childhood and adulthood. To
achieve this, we conducted a literature review and collected data through a survey and analysis of
medical test reports within the Gifted Debate project, linked to CPAH (Centro de Pesquisa e Análises
Heráclito), which includes over 500 individuals from high-IQ societies. Preliminary results indicate that
gifted individuals may present hormonal variations that affect their social interactions and personality
traits. The findings of this research may help provide a better understanding of the relationship between
intelligence, neuroendocrinology, and psychological well-being.
Keywords: high IQ, testosterone, giftedness, neuroendocrinology, intelligence, behavior
Artículo recibido 20 julio 2025
Aceptado para publicación: 20 agosto 2025

pág. 6195
INTRODUÇÃO
A testosterona, um hormônio esteroide, desempenha um papel crucial e multifacetado no
desenvolvimento e funcionamento do cérebro humano. Sua influência se estende por diversas estruturas
neurais, modulando processos cognitivos complexos como o raciocínio lógico, a capacidade de controle
inibitório, a manifestação da competitividade e o vasto conjunto de habilidades que compõem as funções
executivas. Essas funções são vitais para o planejamento, tomada de decisões e regulação
comportamental, sendo pilares da adaptação e sucesso individual em variados contextos.
A intrincada relação entre os níveis de testosterona e a inteligência, no entanto, permanece como um
campo de investigação científica ainda não completamente elucidado. As pesquisas existentes
apresentam um panorama de achados diversificados, muitas vezes com aparentes contradições, que
variam consideravelmente quando se analisam diferentes faixas etárias e se comparam os sexos
biológicos. Essa complexidade sugere que a testosterona não exerce uma influência linear ou uniforme
sobre as capacidades cognitivas.
Durante a infância, um período crítico para o neurodesenvolvimento, estudos apontam para uma
observação que desafia expectativas intuitivas. Crianças identificadas como superdotadas, aquelas com
um Quociente de Inteligência (QI) significativamente acima da média, tendem a apresentar níveis de
testosterona comparativamente mais baixos. Este achado contrasta com a noção simplista de que níveis
hormonais mais elevados poderiam estar diretamente associados a um desempenho intelectual superior
desde tenra idade.
Investigações específicas, como as conduzidas no campo da neuroendocrinologia pediátrica,
observaram que meninos com inteligência considerada dentro da média exibiam níveis de testosterona
mais elevados do que seus pares classificados como superdotados ou aqueles com desafios cognitivos.
Tal observação delineia um padrão que se assemelha a uma curva em "U", onde tanto níveis muito
baixos quanto muito altos de testosterona estariam associados a escores de QI nos extremos da curva de
distribuição da inteligência.
É fundamental ponderar que muitas dessas investigações iniciais sobre a relação testosterona-
inteligência na infância foram baseadas em estudos de delineamento transversal. Esse tipo de desenho
metodológico, embora valioso para identificar associações e padrões em um ponto específico no tempo,

pág. 6196
possui limitações intrínsecas quanto ao estabelecimento de relações de causalidade definitivas entre os
níveis hormonais e o desenvolvimento da inteligência infantil.
Adentrando a fase adulta, a literatura científica aponta para uma dinâmica diferente na interação entre
testosterona e cognição, sugerindo um padrão de curva em "U invertido". Neste cenário, níveis
moderados de testosterona parecem estar associados a um desempenho superior em testes de inteligência
fluida e não verbal. Por outro lado, tanto níveis excessivamente baixos quanto excessivamente elevados
do hormônio poderiam comprometer a performance cognitiva em adultos.
Indivíduos com alto QI na vida adulta parecem seguir essa tendência geral, o que reforça a hipótese da
existência de um nível ótimo de testosterona para a maximização das funções intelectuais. Contudo, a
complexidade dessa relação se acentua com o avançar da idade. Em homens idosos, por exemplo,
estudos indicam que níveis mais altos de testosterona podem estar negativamente correlacionados com
a inteligência fluida, sugerindo um possível impacto adverso do hormônio sobre a cognição durante o
processo de envelhecimento.
No que tange às mulheres, a relação entre testosterona e inteligência demonstra ser ainda mais intrincada
e menos linear. Diferentemente do observado em homens, onde níveis hormonais moderados parecem
favorecer o desempenho intelectual, em mulheres, tanto níveis baixos quanto altos de testosterona têm
sido associados a um menor desempenho cognitivo. Este efeito parece ser particularmente relevante em
testes de inteligência não verbal.
Este efeito diferencial entre os sexos sugere que a testosterona pode influenciar o desenvolvimento e a
manifestação das capacidades cognitivas de maneiras distintas em homens e mulheres. As variações
hormonais e suas interações com outros fatores biológicos e ambientais contribuem para a complexidade
desse campo de estudo, demandando investigações mais aprofundadas e específicas para cada sexo.
Diante deste panorama multifacetado e das lacunas de conhecimento existentes, o presente estudo
propõe-se a aprofundar a compreensão da relação entre os níveis de testosterona e a inteligência ao longo
do ciclo vital. O foco recai sobre a comparação de dados relativos à superdotação, às variações
hormonais observadas e suas possíveis implicações para o funcionamento cognitivo e comportamental,
desde a infância até a maturidade.

pág. 6197
Objetivos
Objetivo Geral
Investigar e analisar comparativamente a relação entre altos níveis de Quociente de Inteligência (QI) e
os níveis de testosterona em diferentes fases da vida (infância e idade adulta), identificando padrões e
possíveis implicações para o desenvolvimento cognitivo e comportamental de indivíduos superdotados.
Objetivos Específicos
• Analisar, com base na literatura científica, os padrões de níveis de testosterona em crianças
superdotadas em comparação com crianças com inteligência média e com desafios cognitivos.
• Examinar a correlação entre os níveis de testosterona e o desempenho cognitivo em adultos com
alto QI, considerando as diferenças entre sexos e o impacto do envelhecimento.
• Discutir as possíveis implicações das variações hormonais nos níveis de testosterona para as
interações sociais, traços de personalidade e bem-estar psicológico de indivíduos superdotados
ao longo da vida.
Revisão de Literatura
A testosterona é reconhecida como um hormônio esteroide androgênico crucial, não apenas para o
desenvolvimento e manutenção das características sexuais secundárias masculinas, mas também por seu
papel fundamental no desenvolvimento e funcionamento do sistema nervoso central. Kimura e Hampson
(1994) destacam que a testosterona influencia diretamente estruturas neurais associadas a funções
cognitivas complexas, como o raciocínio, o controle inibitório, a competitividade e diversas funções
executivas. A forma como seus níveis interagem com a inteligência, contudo, é uma questão que ainda
não se encontra plenamente compreendida, com estudos apresentando achados distintos que variam
conforme a faixa etária e o sexo dos indivíduos analisados (OSTATNÍKOVÁ et al., 2007; TAN; TAN,
1998a).
Na infância, a pesquisa sugere uma relação peculiar e, por vezes, contraintuitiva entre testosterona e
inteligência. Estudos como o de Ostatníková et al. (2007) investigaram essa relação em crianças pré-
púberes e observaram que meninos com inteligência considerada na média apresentavam níveis de
testosterona salivar significativamente mais elevados do que seus pares identificados como superdotados
(QI > 130) ou aqueles com desafios cognitivos (QI < 70). Este achado sugere um padrão em formato de

pág. 6198
"U" para os meninos, onde tanto escores de QI muito baixos quanto muito altos estão associados a perfis
hormonais distintos daqueles com QI na faixa da normalidade, que por sua vez exibem os picos de
testosterona. É importante notar que, no mesmo estudo, não foram encontradas diferenças significativas
nos níveis de testosterona entre os grupos de QI em meninas, indicando uma possível especificidade
sexual nessa dinâmica hormonal durante a infância. Contudo, os autores ressaltam que tais estudos são
predominantemente transversais, o que impede conclusões definitivas sobre a relação causal entre
testosterona e inteligência nesse período do desenvolvimento (OSTATNÍKOVÁ et al., 2007).
Ao transitar para a vida adulta, a literatura científica aponta para uma mudança nesse padrão. Em homens
adultos, diversos estudos sugerem uma relação em "U invertido" entre testosterona e cognição, onde
níveis moderados do hormônio estariam associados a um melhor desempenho em tarefas que avaliam
inteligência fluida e não verbal (TAN; TAN, 1998a; KUTLU et al., 2001). Níveis excessivamente baixos
ou muito elevados de testosterona, por outro lado, poderiam prejudicar a performance cognitiva. Esta
tendência parece se manter em indivíduos com alto QI, sugerindo a existência de um "nível ótimo" de
testosterona para a maximização das funções intelectuais nessa população (TAN; TAN, 1998b).
Contudo, a relação se complexifica com o envelhecimento. Em homens idosos, com idade média de
69,1 anos, Aleman et al. (2001) encontraram uma correlação negativa significativa (r=−0,52,p=0,009)
entre níveis mais altos de testosterona e inteligência fluida. Este achado sugere que, em idades mais
avançadas, a testosterona pode exercer um impacto adverso na cognição, possivelmente devido a
processos neurodegenerativos e alterações hormonais inerentes ao envelhecimento.
Em mulheres adultas, a interação entre testosterona e inteligência é ainda mais complexa e distinta da
observada em homens. Tan (1990) relata que tanto níveis baixos quanto elevados de testosterona estão
associados a um menor desempenho cognitivo em mulheres. Este efeito parece ser particularmente
pronunciado em testes de inteligência não verbal, onde o desempenho pode ser afetado por variações
extremas nos níveis de testosterona (TAN; TAN, 1998a). Isso indica que as funções cognitivas femininas
podem ser mais sensíveis a flutuações hormonais, e que a "janela ótima" de testosterona, se existente,
pode ser mais estreita ou operar de maneira diferente.
A testosterona exerce sua influência sobre a cognição através de múltiplos mecanismos. Sabe-se que ela
atua em diversas áreas cerebrais cruciais para o processamento cognitivo, com destaque para o córtex

pág. 6199
pré-frontal, região fundamental para as funções executivas como planejamento, tomada de decisão e
controle inibitório (KIMURA; HAMPSON, 1994). Evidências sugerem que a testosterona não age
diretamente sobre os neurônios de forma isolada, mas modula a expressão gênica de enzimas e
receptores envolvidos na neurotransmissão, o que pode afetar a plasticidade cerebral e a conectividade
sináptica ao longo da vida (FINEGAN et al., 1992).
Outro aspecto relevante é a associação entre testosterona e os padrões de atividade elétrica cerebral. Um
estudo que analisou espectros de EEG em meninos de 9 a 11 anos encontrou que níveis mais altos de
testosterona estavam relacionados a um aumento na atividade de ondas alfa, um padrão associado à
vigilância e ao processamento cognitivo eficiente (POBLANO et al., 2003). Em contraste, níveis mais
baixos de testosterona foram associados a uma maior prevalência de ondas delta, que indicam reduzida
excitação cortical (POBLANO et al., 2003). Estes achados reforçam a hipótese de que a testosterona
pode modular dinamicamente a atividade cerebral, impactando as habilidades cognitivas.
A relação entre inteligência e testosterona na vida adulta não pode ser compreendida de forma isolada,
pois é modulada por uma série de fatores individuais. O nível educacional, a lateralidade manual
(destreza) e a idade desempenham papéis significativos nessa interação (KUTLU et al., 2001; TAN,
1990). Em um estudo com homens destros, aqueles com níveis educacionais mais altos apresentaram
uma correlação positiva entre testosterona e inteligência, enquanto indivíduos com menor escolaridade
exibiram o padrão de "U invertido" (KUTLU et al., 2001).
A lateralidade manual também parece atuar como um moderador importante. Entre jovens adultos
destros, Tan (1990) observou uma correlação linear positiva em homens, enquanto uma correlação
negativa foi encontrada em mulheres. Efeitos adicionais foram observados em mulheres com
lateralidade moderada, destacando a complexidade dessa modulação.
O impacto da testosterona no comportamento social e emocional é uma variável crucial que pode
indiretamente influenciar o desenvolvimento cognitivo. Em crianças, níveis hormonais mais elevados
foram associados ao aumento da agressividade e à diminuição da sociabilidade (STRONG; DABBS,
2000). De forma similar, meninos diagnosticados com transtornos de comportamento apresentaram
níveis de testosterona significativamente mais altos em comparação com crianças sem histórico de
transtornos (CHANCE et al., 2000).

pág. 6200
Embora não tenha sido identificada uma relação direta entre testosterona e inteligência nesses casos
específicos de transtornos comportamentais, esses achados sugerem que níveis elevados do hormônio
podem amplificar tendências comportamentais que, por sua vez, impactam o desenvolvimento cognitivo
e social (STRONG; DABBS, 2000; CHANCE et al., 2000).
A literatura, portanto, converge para a ideia de que a relação entre QI e testosterona na vida adulta não
segue um padrão linear simples. Indivíduos com alto QI tendem a apresentar níveis moderados de
testosterona, evitando os extremos que podem prejudicar o desempenho cognitivo. Em homens, essa
relação frequentemente assume a forma de uma curva em "U invertido", enquanto em mulheres, tanto
níveis baixos quanto altos de testosterona podem estar associados a um menor desempenho intelectual.
Fatores como idade, nível educacional e lateralidade modulam ainda mais essa relação, tornando-a um
campo de estudo complexo e dinâmico. Além disso, a testosterona influencia a atividade cerebral e
traços comportamentais, afetando indiretamente a cognição.
A hipótese de que indivíduos superdotados possam apresentar níveis de testosterona mais baixos na
infância e, possivelmente, níveis relativamente mais baixos ou moderados na idade adulta, em
comparação com o padrão típico para seu grupo demográfico, é uma linha de investigação promissora
(OSTATNÍKOVÁ et al., 2007). Se níveis mais baixos de testosterona durante a infância contribuem
para vantagens cognitivas, é plausível que essa tendência possa ter contínuas influências nas
características cognitivas e comportamentais ao longo do tempo. No entanto, são necessários mais
estudos longitudinais para determinar se esse perfil hormonal persiste ao longo da vida e como ele
interage com fatores ambientais e genéticos para moldar o desenvolvimento intelectual e psicossocial.
METODOLOGIA
O presente estudo caracteriza-se por uma abordagem metodológica mista, combinando uma extensa
revisão de literatura científica com a coleta e análise de dados empíricos. A revisão de literatura
abrangeu artigos científicos, teses e dissertações publicadas em bases de dados renomadas, focando em
pesquisas que investigam a relação entre os níveis de testosterona e o Quociente de Inteligência (QI) em
diferentes faixas etárias (infância e idade adulta) e em ambos os sexos. Foram priorizados estudos que
incluíam populações de indivíduos superdotados, bem como aqueles que exploravam os mecanismos
neuroendócrinos subjacentes a essa relação e os fatores moduladores.

pág. 6201
A coleta de dados primários foi realizada no contexto do projeto Gifted Debate, uma iniciativa vinculada
ao Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH). Este projeto conta com a participação de mais de
500 indivíduos provenientes de diversas sociedades de alto QI. Os dados foram coletados por meio de
dois instrumentos principais: (1) aplicação de questionários detalhados, elaborados para capturar
informações sobre o desenvolvimento cognitivo, características de personalidade, interações sociais,
histórico de saúde e dados demográficos; e (2) análise de laudos de exames médicos hormonais, com
foco nos níveis de testosterona (total e livre, quando disponível), fornecidos voluntariamente pelos
participantes.
Os critérios de inclusão para a análise dos dados hormonais consideraram a ausência de condições
médicas ou uso de medicações que pudessem interferir significativamente nos níveis de testosterona,
exceto quando tais condições fossem o foco de subanálises específicas. Os dados de QI foram obtidos a
partir de testagens psicométricas padronizadas, previamente realizadas e reportadas pelos participantes
ou, em alguns casos, por meio de testagem no âmbito do projeto.
A análise dos dados envolveu métodos estatísticos descritivos e inferenciais para identificar correlações
e comparar médias entre diferentes grupos (por exemplo, superdotados vs. não superdotados, diferentes
faixas etárias, homens vs. mulheres). Buscou-se verificar se os padrões hormonais observados na
amostra do projeto Gifted Debate corroboram ou divergem dos achados da literatura, especialmente no
que tange às hipóteses do padrão em "U" na infância e "U invertido" na vida adulta para a relação
testosterona-QI. Considerações éticas, incluindo consentimento informado e confidencialidade dos
dados, foram rigorosamente observadas em todas as etapas da pesquisa.
DISCUSSÃO
Os achados preliminares e a revisão da literatura apresentada neste estudo reforçam a complexidade da
interação entre os níveis de testosterona e a inteligência, particularmente em indivíduos com alto
Quociente de Inteligência. A testosterona, como hormônio de múltiplas ações sistêmicas e cerebrais,
não parece exercer uma influência linear ou simplista sobre as capacidades cognitivas, mas sim uma
modulação dinâmica que varia ao longo do desenvolvimento e é sensível a uma miríade de outros fatores
biológicos e contextuais.

pág. 6202
A observação de que crianças superdotadas, especialmente meninos, podem apresentar níveis de
testosterona mais baixos em comparação com seus pares de inteligência média é um ponto intrigante.
Este padrão em "U", onde os extremos de QI (tanto baixo quanto alto) se associariam a perfis hormonais
diferentes da média, desafia a noção de que um ambiente hormonal androgênico mais robusto seria
universalmente benéfico para o desenvolvimento intelectual precoce.
Talvez níveis de testosterona mais baixos na infância em indivíduos superdotados possam estar
relacionados a diferentes trajetórias de maturação cerebral ou a uma sensibilidade neural distinta aos
esteroides sexuais. Poder-se-ia especular que uma menor exposição androgênica em fases críticas do
neurodesenvolvimento poderia favorecer certos tipos de processamento cognitivo ou plasticidade neural
que são vantajosos para o desenvolvimento de altas habilidades intelectuais.
Na transição para a vida adulta, o cenário parece se modificar, com a emergência de um padrão em "U
invertido" em homens, onde níveis moderados de testosterona se correlacionam com um melhor
desempenho cognitivo. Este achado sugere que, na maturidade, existe uma faixa ótima de testosterona
para a função cerebral, e desvios significativos, tanto para mais quanto para menos, podem ser
prejudiciais. Indivíduos com alto QI parecem também se enquadrar nesta dinâmica.
A inversão dessa relação em homens idosos, onde níveis mais altos de testosterona foram negativamente
correlacionados com a inteligência fluida, adiciona outra camada de complexidade. Este fenômeno pode
refletir interações entre o declínio hormonal relacionado à idade (andropausa), a sensibilidade alterada
dos receptores androgênicos ou o acúmulo de comorbidades que afetam tanto o sistema endócrino
quanto o nervoso.
Essa situação em mulheres é ainda mais particular, com evidências de que tanto níveis baixos quanto
altos de testosterona podem estar associados a um desempenho cognitivo inferior. Isso ressalta a
importância de não transpor diretamente os achados em homens para mulheres e sugere que o balanço
hormonal ideal para a cognição feminina pode ser mais delicado ou envolver interações mais complexas
com outros hormônios, como os estrógenos.
As implicações dessas variações hormonais podem transcender o domínio puramente cognitivo,
afetando também as interações sociais e os traços de personalidade. Se níveis mais baixos de testosterona
na infância estão presentes em superdotados, isso poderia, especulativamente, influenciar

pág. 6203
comportamentos como menor agressividade ou diferentes estilos de interação social, embora essa
relação precise ser mais bem explorada.
Na vida adulta, os níveis de testosterona estão classicamente ligados a traços como competitividade,
assertividade e dominância. Variações nos níveis hormonais em adultos superdotados poderiam,
portanto, modular a expressão desses traços, influenciando suas escolhas de carreira, estilos de liderança
e dinâmica interpessoal.
É crucial considerar que a testosterona não age no vácuo. Fatores como nível educacional e lateralidade
manual foram mostrados como importantes moduladores da relação testosterona-inteligência. Isso
indica que o ambiente e as características individuais podem interagir com o perfil hormonal para moldar
os desfechos cognitivos e comportamentais.
A relação entre alto QI e testosterona é um campo fértil para pesquisa, com implicações significativas
para a compreensão do desenvolvimento de talentos, bem-estar psicológico e adaptação social de
indivíduos superdotados. A identificação de padrões neuroendócrinos específicos pode, no futuro,
contribuir para abordagens mais personalizadas no suporte e orientação dessa população.
RESULTADOS PARCIAIS
Os resultados preliminares obtidos a partir da análise dos dados coletados no âmbito do projeto Gifted
Debate, que inclui mais de 500 indivíduos de sociedades de alto QI, indicam que indivíduos
superdotados podem, de fato, apresentar variações hormonais, particularmente nos níveis de
testosterona, que parecem estar associadas a certas características de suas interações sociais e traços de
personalidade. Embora a natureza completa e a direcionalidade dessas associações ainda estejam sob
investigação detalhada, os dados iniciais sugerem que os perfis hormonais em superdotados podem
divergir em alguns aspectos dos observados na população geral, levantando hipóteses sobre como essas
diferenças podem influenciar desde a competitividade até a saúde mental e o bem-estar psicossocial ao
longo da vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEMAN, A.; VERHAAR, H. J. J.; DE HAAN, E. H. F.; DE VRIES, W. R.; SAMSON, M. M.;
KOPPESCHAAR, H. P. F. (2001). Relation of menopause and sex hormones to cognition in
healthy elderly women. Psychoneuroendocrinology, 26(5), 541-548.

pág. 6204
CHANCE, S. E.; BROWN, R. T.; DABBS JR, J. M.; CASEY, R. (2000). Salivary testosterone and
children's aggressive behavior. Journal of Offender Rehabilitation, 31(1-2), 1-10.
FINEGAN, J. K.; NICITCH, S. R.; ZACHER, J. E.; BARTLEMAN, B. (1992). Preadolescent hormone
levels and cognitive functioning. Journal of the American Academy of Child & Adolescent
Psychiatry, 31(3), 478-483.
KIMURA, D.; HAMPSON, E. (1994). Cognitive pattern in men and women is influenced by
fluctuations in sex hormones. Current Directions in Psychological Science, 3(2), 57-61.
KUTLU, N.; DEMIRCI, H.; TAN, Ü. (2001). Education, sex, and handedness as determinants of the
relationship between testosterone and nonverbal intelligence in right-handed men. International
Journal of Neuroscience, 109(1-2), 15-27.
OSTATNÍKOVÁ, D.; PUTZ, Z.; CELEC, P.; HLAČANOVÁ, B.; VALACHOVÁ, H.; HAMPL, R.;
KRAJMER, P. (2007). Salivary testosterone levels in preadolescent children in relation to their
IQ and chosen cognitive functions. Neuroscience Letters, 427(3), 167-170.
POBLANO, A.; GAYTÁN, L.; CHAYEN, L.; REYNA, E. (2003). Relationship between EEG spectra
and salivary testosterone levels in normal boys between 9 and 11 years of age.
Neuroendocrinology Letters, 24(1-2), 65-68.
STRONG, J. M.; DABBS JR, J. M. (2000). Testosterone and aggression in children. Personality and
Individual Differences, 28(3), 467-475.
TAN, Ü. (1990). The effects of sex, handedness, and education on theTestData-testosterone relationship
in normal subjects. International Journal of Neuroscience, 51(3-4), 221-228.
TAN, Ü.; TAN, M. (1998a). Curvilinear correlations between total testosterone levels and fluid and
crystallized intelligence in right-handed young men and women. International Journal of
Neuroscience, 95(1-2), 77-85.
TAN, Ü.; TAN, M. (1998b). Testosterone and intelligence in right-handed men with normal and high
IQ. International Journal of Neuroscience, 95(3-4), 229-235.