RELAÇÃO ENTRE ALTO QUOCIENTE DE
INTELIGÊNCIA E NÍVEIS DE TESTOSTERONA:

UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE

INFÂNCIA E VIDA ADULTA

RELATION BETWEEN HIGH INTELLIGENCE QUOTIENT

AND TESTOSTERONE LEVELS: A COMPARATIVE

ANALYSIS BETWEEN CHILDHOOD AND ADULT LIFE

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de
Neurociências e Genômica
Flávio Henrique dos Santos Nascimento

Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de Neurociências e Genômica

João Marcello Borba Leite

Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de Neurociências e Genômica
pág. 6193
DOI:
https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i4.19241
Relação Entre Alto Quociente de Inteligência e Níveis de Testosterona: Uma

Análise Comparativa Entre Infância e Vida Adulta

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
1
contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0000
-0002-5487-5852
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de

Neurociências e Genômica, Brasil & Portugal

Flávio Henrique dos Santos Nascimento

contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0009
-0007-3760-2936
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de Neurociências e Genômica

Brasil & Portugal

João Marcello Borba Leite

contato@cpah.com.br

Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH)

Departamento de Neurociências e Genômica

Brasil & Portugal

RESUMO

A testosterona é um hormônio fundamental no desenvolvimento cerebral, com influência significativa

sobre a percepção, o comportamento e traços de personalidade. Indivíduos com Quociente de

Inteligência (QI) elevado podem apresentar padrões distintos de reg
ulação da testosterona, impactando
a competitividade e a saúde mental ao longo da vida. Este estudo investiga a complexa relação entre

altos níveis de inteligência e os níveis de testosterona, comparando dados da infância e da vida adulta.

Para tal, foi co
nduzida uma revisão de literatura, complementada pela coleta de dados através de
questionários e análise de laudos de exames médicos no âmbito do projeto
Gifted Debate, vinculado ao
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), que abrange mais de 500 indivíduos pertencentes a

sociedades de alto QI. Os resultados preliminares sugerem que indivíduos superdotados podem exibir

variações hormonais que afetam suas interaçõ
es sociais e traços de personalidade. Os achados desta
pesquisa visam contribuir para uma
melhor compreensão da interação entre inteligência,
neuroendocrinologia e bem
-estar psicológico, auxiliando na identificação de padrões neuroendócrinos
associados à inteligência e seus impactos na saúde mental e comportamento.

Palavras
-chave: alto QI, testosterona, superdotação, neuroendocrinologia, inteligência, comportamento
1
Autor Principal
Correspondencia:
contato@cpah.com.br
pág. 6194
Relation Between High Intelligence Quotient and Testosterone Levels: A

Comparative Analysis Between Childhood and Adult Life

ABSTRACT

Testosterone is an important hormone in brain development, influencing perception, behavior, and

personality traits. Studies show that people with high IQs may have distinct patterns of testosterone

regulation, which can impact competitiveness and mental h
ealth throughout life. This study investigates
the relationship between high intelligence levels and testosterone levels in childhood and adulthood. To

achieve this, we conducted a literature review and collected data through a survey and analysis of

medic
al test reports within the Gifted Debate project, linked to CPAH (Centro de Pesquisa e Análises
Heráclito), which includes over 500 individuals from high
-IQ societies. Preliminary results indicate that
gifted individuals may present hormonal variations tha
t affect their social interactions and personality
traits. The findings of this research may help provide a better understanding of the relationship between

intelligence, neuroendocrinology, and psychological well
-being.
Keywords
: high IQ, testosterone, giftedness, neuroendocrinology, intelligence, behavior
Artículo recibido 20 julio 2025

Aceptado para publicación: 20 agosto 2025
pág. 6195
INTRODUÇÃO

A testosterona, um hormônio esteroide, desempenha um papel crucial e multifacetado no

desenvolvimento e funcionamento do cérebro humano. Sua influência se estende por diversas estruturas

neurais, modulando processos cognitivos complexos como o raciocínio l
ógico, a capacidade de controle
inibitório, a manifestação da competitividade e o vasto conjunto de habilidades que compõem as funções

executivas. Essas funções são vitais para o planejamento, tomada de decisões e regulação

comportamental, sendo pilares da
adaptação e sucesso individual em variados contextos.
A intrincada relação entre os níveis de testosterona e a inteligência, no entanto, permanece como um

campo de investigação científica ainda não completamente elucidado. As pesquisas existentes

apresentam um panorama de achados diversificados, muitas vezes
com aparentes contradições, que
variam consideravelmente quando se analisam diferentes faixas etárias e se comparam os sexos

biológicos. Essa complexidade sugere que a testosterona não exerce uma influência linear ou uniforme

sobre as capacidades cognitiva
s.
Durante a infância, um período crítico para o neurodesenvolvimento, estudos apontam para uma

observação que desafia expectativas intuitivas. Crianças identificadas como superdotadas, aquelas com

um Quociente de Inteligência (QI) significativamente acima da
média, tendem a apresentar níveis de
testosterona comparativamente mais baixos. Este achado contrasta com a noção simplista de que níveis

hormonais mais elevados poderiam estar diretamente associados a um desempenho intelectual superior

desde tenra idade.

Investigações específicas, como as conduzidas no campo da neuroendocrinologia pediátrica,

observaram que meninos com inteligência considerada dentro da média exibiam níveis de testosterona

mais elevados do que seus pares classificados como superdotados ou
aqueles com desafios cognitivos.
Tal observação delineia um padrão que se assemelha a uma curva em "U", onde tanto níveis muito

baixos quanto muito altos de testosterona estariam associados a escores de QI nos extremos da curva de

distribuição da inteligên
cia.
É fundamental ponderar que muitas dessas investigações iniciais sobre a relação testosterona
-
inteligência na infância foram baseadas em estudos de delineamento transversal. Esse tipo de desenho

metodológico, embora valioso para identificar associações e pa
drões em um ponto específico no tempo,
pág. 6196
possui limitações intrínsecas quanto ao estabelecimento de relações de causalidade definitivas entre os

níveis hormonais e o desenvolvimento da inteligência infantil.

Adentrando a fase adulta, a literatura científica aponta para uma dinâmica diferente na interação entre

testosterona e cognição, sugerindo um padrão de curva em "U invertido". Neste cenário, níveis

moderados de testosterona parecem estar associados a um de
sempenho superior em testes de inteligência
fluida e não verbal. Por outro lado, tanto níveis excessivamente baixos quanto excessivamente elevados

do hormônio poderiam comprometer a performance cognitiva em adultos.

Indivíduos com alto QI na vida adulta parecem seguir essa tendência geral, o que reforça a hipótese da

existência de um nível ótimo de testosterona para a maximização das funções intelectuais. Contudo, a

complexidade dessa relação se acentua com o avançar
da idade. Em homens idosos, por exemplo,
estudos indicam que níveis mais altos de testosterona podem estar negativamente correlacionados com

a inteligência fluida, sugerindo um possível impacto adverso do hormônio sobre a cognição durante o

processo de env
elhecimento.
No que tange às mulheres, a relação entre testosterona e inteligência demonstra ser ainda mais intrincada

e menos linear. Diferentemente do observado em homens, onde níveis hormonais moderados parecem

favorecer o desempenho intelectual, em mulheres, tanto
níveis baixos quanto altos de testosterona têm
sido associados a um menor desempenho cognitivo. Este efeito parece ser particularmente relevante em

testes de inteligência não verbal.

Este efeito diferencial entre os sexos sugere que a testosterona pode influenciar o desenvolvimento e a

manifestação das capacidades cognitivas de maneiras distintas em homens e mulheres. As variações

hormonais e suas interações com outros fatores biológic
os e ambientais contribuem para a complexidade
desse campo de estudo, demandando investigações mais aprofundadas e específicas para cada sexo.

Diante deste panorama multifacetado e das lacunas de conhecimento existentes, o presente estudo

propõe
-se a aprofundar a compreensão da relação entre os níveis de testosterona e a inteligência ao longo
do ciclo vital. O foco recai sobre a comparação de dad
os relativos à superdotação, às variações
hormonais observadas e suas possíveis implicações para o funcionamento cognitivo e comportamental,

desde a infância até a maturidade.
pág. 6197
Objetivos

Objetivo Geral

Investigar e analisar comparativamente a relação entre altos níveis de Quociente de Inteligência (QI) e

os níveis de testosterona em diferentes fases da vida (infância e idade adulta), identificando padrões e

possíveis implicações para o desenvolvimento co
gnitivo e comportamental de indivíduos superdotados.
Objetivos Específicos

Analisar, com base na literatura científica, os padrões de níveis de testosterona em crianças
superdotadas em comparação com crianças com inteligência média e com desafios cognitivos.

Examinar a correlação entre os níveis de testosterona e o desempenho cognitivo em adultos com
alto QI, considerando as diferenças entre sexos e o impacto do envelhecimento.

Discutir as possíveis implicações das variações hormonais nos níveis de testosterona para as
interações sociais, traços de personalidade e bem
-estar psicológico de indivíduos superdotados
ao longo da vida.

Revisão de Literatura

A testosterona é reconhecida como um hormônio esteroide androgênico crucial, não apenas para o

desenvolvimento e manutenção das características sexuais secundárias masculinas, mas também por seu

papel fundamental no desenvolvimento e funcionamento do siste
ma nervoso central. Kimura e Hampson
(1994) destacam que a testosterona influencia diretamente estruturas neurais associadas a funções

cognitivas complexas, como o raciocínio, o controle inibitório, a competitividade e diversas funções

executivas. A forma
como seus níveis interagem com a inteligência, contudo, é uma questão que ainda
não se encontra plenamente compreendida, com estudos apresentando achados distintos que variam

conforme a faixa etária e o sexo dos indivíduos analisados (OSTATNÍKOVÁ et al., 2
007; TAN; TAN,
1998a).

Na infância, a pesquisa sugere uma relação peculiar e, por vezes, contraintuitiva entre testosterona e

inteligência. Estudos como o de Ostatníková et al. (2007) investigaram essa relação em crianças pré
-
púberes e observaram que meninos com inteligência con
siderada na média apresentavam níveis de
testosterona salivar significativamente mais elevados do que seus pares identificados como superdotados

(QI > 130) ou aqueles com desafios cognitivos (QI < 70). Este achado sugere um padrão em formato de
pág. 6198
"U" para os meninos, onde tanto escores de QI muito baixos quanto muito altos estão associados a perfis

hormonais distintos daqueles com QI na faixa da normalidade, que por sua vez exibem os picos de

testosterona. É importante notar que, no mesmo estudo, n
ão foram encontradas diferenças significativas
nos níveis de testosterona entre os grupos de QI em meninas, indicando uma possível especificidade

sexual nessa dinâmica hormonal durante a infância. Contudo, os autores ressaltam que tais estudos são

predomin
antemente transversais, o que impede conclusões definitivas sobre a relação causal entre
testosterona e inteligência nesse período do desenvolvimento (OSTATNÍKOVÁ et al., 2007).

Ao transitar para a vida adulta, a literatura científica aponta para uma mudança nesse padrão. Em homens

adultos, diversos estudos sugerem uma relação em "U invertido" entre testosterona e cognição, onde

níveis moderados do hormônio estariam associados a u
m melhor desempenho em tarefas que avaliam
inteligência fluida e não verbal (TAN; TAN, 1998a; KUTLU et al., 2001). Níveis excessivamente baixos

ou muito elevados de testosterona, por outro lado, poderiam prejudicar a performance cognitiva. Esta

tendência p
arece se manter em indivíduos com alto QI, sugerindo a existência de um "nível ótimo" de
testosterona para a maximização das funções intelectuais nessa população (TAN; TAN, 1998b).

Contudo, a relação se complexifica com o envelhecimento. Em homens idosos,
com idade média de
69,1 anos, Aleman et al. (2001) encontraram uma correlação negativa significativa (r=−0,52,p=0,009)

entre níveis mais altos de testosterona e inteligência fluida. Este achado sugere que, em idades mais

avançadas, a testosterona pode exer
cer um impacto adverso na cognição, possivelmente devido a
processos neurodegenerativos e alterações hormonais inerentes ao envelhecimento.

Em mulheres adultas, a interação entre testosterona e inteligência é ainda mais complexa e distinta da

observada em homens. Tan (1990) relata que tanto níveis baixos quanto elevados de testosterona estão

associados a um menor desempenho cognitivo em mulher
es. Este efeito parece ser particularmente
pronunciado em testes de inteligência não verbal, onde o desempenho pode ser afetado por variações

extremas nos níveis de testosterona (TAN; TAN, 1998a). Isso indica que as funções cognitivas femininas

podem ser m
ais sensíveis a flutuações hormonais, e que a "janela ótima" de testosterona, se existente,
pode ser mais estreita ou operar de maneira diferente.

A testosterona exerce sua influência sobre a cognição através de múltiplos mecanismos. Sabe
-se que ela
atua em diversas áreas cerebrais cruciais para o processamento cognitivo, com destaque para o córtex
pág. 6199
pré
-frontal, região fundamental para as funções executivas como planejamento, tomada de decisão e
controle inibitório (KIMURA; HAMPSON, 1994). Evidências sugerem que a testosterona não age

diretamente sobre os neurônios de forma isolada, mas modula a expre
ssão gênica de enzimas e
receptores envolvidos na neurotransmissão, o que pode afetar a plasticidade cerebral e a conectividade

sináptica ao longo da vida (FINEGAN et al., 1992).

Outro aspecto relevante é a associação entre testosterona e os padrões de atividade elétrica cerebral. Um

estudo que analisou espectros de EEG em meninos de 9 a 11 anos encontrou que níveis mais altos de

testosterona estavam relacionados a um aumento na at
ividade de ondas alfa, um padrão associado à
vigilância e ao processamento cognitivo eficiente (POBLANO et al., 2003). Em contraste, níveis mais

baixos de testosterona foram associados a uma maior prevalência de ondas delta, que indicam reduzida

excitação
cortical (POBLANO et al., 2003). Estes achados reforçam a hipótese de que a testosterona
pode modular dinamicamente a atividade cerebral, impactando as habilidades cognitivas.

A relação entre inteligência e testosterona na vida adulta não pode ser compreendida de forma isolada,

pois é modulada por uma série de fatores individuais. O nível educacional, a lateralidade manual

(destreza) e a idade desempenham papéis significativos n
essa interação (KUTLU et al., 2001; TAN,
1990). Em um estudo com homens destros, aqueles com níveis educacionais mais altos apresentaram

uma correlação positiva entre testosterona e inteligência, enquanto indivíduos com menor escolaridade

exibiram o padrão
de "U invertido" (KUTLU et al., 2001).
A lateralidade manual também parece atuar como um moderador importante. Entre jovens adultos

destros, Tan (1990) observou uma correlação linear positiva em homens, enquanto uma correlação

negativa foi encontrada em mulheres. Efeitos adicionais foram observ
ados em mulheres com
lateralidade moderada, destacando a complexidade dessa modulação.

O
impacto da testosterona no comportamento social e emocional é uma variável crucial que pode
indiretamente influenciar o desenvolvimento cognitivo. Em crianças, níveis hormonais mais elevados

foram associados ao aumento da agressividade e à diminuição da s
ociabilidade (STRONG; DABBS,
2000). De forma similar, meninos diagnosticados com transtornos de comportamento apresentaram

níveis de testosterona significativamente mais altos em comparação com crianças sem histórico de

transtornos (CHANCE et al., 2000).
pág. 6200
Embora não tenha sido identificada uma relação direta entre testosterona e inteligência nesses casos

específicos de transtornos comportamentais, esses achados sugerem que níveis elevados do hormônio

podem amplificar tendências comportamentais que, por sua
vez, impactam o desenvolvimento cognitivo
e social (STRONG; DABBS, 2000; CHANCE et al., 2000).

A literatura, portanto, converge para a ideia de que a relação entre QI e testosterona na vida adulta não

segue um padrão linear simples. Indivíduos com alto QI tendem a apresentar níveis moderados de

testosterona, evitando os extremos que podem prejudicar
o desempenho cognitivo. Em homens, essa
relação frequentemente assume a forma de uma curva em "U invertido", enquanto em mulheres, tanto

níveis baixos quanto altos de testosterona podem estar associados a um menor desempenho intelectual.

Fatores como idade, nível educacional e lateralidade modulam ainda mais essa relação, tornando
-a um
campo de estudo complexo e dinâmico. Além disso, a testosterona influencia a atividade cerebral e

traços comportamentais, afetando indiretamente a cognição.

A hipótese de que indivíduos superdotados possam apresentar níveis de testosterona mais baixos na

infância e, possivelmente, níveis relativamente mais baixos ou moderados na idade adulta, em

comparação com o padrão típico para seu grupo demográfico, é uma
linha de investigação promissora
(OSTATNÍKOVÁ et al., 2007). Se níveis mais baixos de testosterona durante a infância contribuem

para vantagens cognitivas, é plausível que essa tendência possa ter contínuas influências nas

características cognitivas e comp
ortamentais ao longo do tempo. No entanto, são necessários mais
estudos longitudinais para determinar se esse perfil hormonal persiste ao longo da vida e como ele

interage com fatores ambientais e genéticos para moldar o desenvolvimento intelectual e psico
ssocial.
METODOLOGIA

O presente estudo caracteriza
-se por uma abordagem metodológica mista, combinando uma extensa
revisão de literatura científica com a coleta e análise de dados empíricos. A revisão de literatura

abrangeu artigos científicos, teses e dissertações publicadas
em bases de dados renomadas, focando em
pesquisas que investigam a relação entre os níveis de testosterona e o Quociente de Inteligência (QI) em

diferentes faixas etárias (infância e idade adulta) e em ambos os sexos. Foram priorizados estudos que

incluíam
populações de indivíduos superdotados, bem como aqueles que exploravam os mecanismos
neuroendócrinos subjacentes a essa relação e os fatores moduladores.
pág. 6201
A coleta de dados primários foi realizada no contexto do projeto
Gifted Debate, uma iniciativa vinculada
ao Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH). Este projeto conta com a participação de mais de

500 indivíduos provenientes de diversas sociedades de alto QI. Os dados foram coletados por meio de

dois instrumentos principais:
(1) aplicação de questionários detalhados, elaborados para capturar
informações sobre o desenvolvimento cognitivo, características de personalidade, interações sociais,

histórico de saúde e dados demográficos; e (2) análise de laudos de exames médicos hor
monais, com
foco nos níveis de testosterona (total e livre, quando disponível), fornecidos voluntariamente pelos

participantes.

Os critérios de inclusão para a análise dos dados hormonais consideraram a ausência de condições

médicas ou uso de medicações que pudessem interferir significativamente nos níveis de testosterona,

exceto quando tais condições fossem o foco de subanálises e
specíficas. Os dados de QI foram obtidos a
partir de testagens psicométricas padronizadas, previamente realizadas e reportadas pelos participantes

ou, em alguns casos, por meio de testagem no âmbito do projeto.

A análise dos dados envolveu métodos estatísticos descritivos e inferenciais para identificar correlações

e comparar médias entre diferentes grupos (por exemplo, superdotados vs. não superdotados, diferentes

faixas etárias, homens vs. mulheres). Buscou
-se verificar se os padrões hormonais observados na
amostra do projeto
Gifted Debate corroboram ou divergem dos achados da literatura, especialmente no
que tange às hipóteses do padrão em "U" na infância e "U invertido" na vida adulta para a relação

testostero
na-QI. Considerações éticas, incluindo consentimento informado e confidencialidade dos
dados, foram rigorosamente observadas em todas as etapas da pesquisa.

DISCUSSÃO

Os achados preliminares e a revisão da literatura apresentada neste estudo reforçam a complexidade da

interação entre os níveis de testosterona e a inteligência, particularmente em indivíduos com alto

Quociente de Inteligência. A testosterona, como hormôni
o de múltiplas ações sistêmicas e cerebrais,
não parece exercer uma influência linear ou simplista sobre as capacidades cognitivas, mas sim uma

modulação dinâmica que varia ao longo do desenvolvimento e é sensível a uma miríade de outros fatores

biológicos
e contextuais.
pág. 6202
A observação de que crianças superdotadas, especialmente meninos, podem apresentar níveis de

testosterona mais baixos em comparação com seus pares de inteligência média é um ponto intrigante.

Este padrão em "U", onde os extremos de QI (tanto baixo quanto a
lto) se associariam a perfis hormonais
diferentes da média, desafia a noção de que um ambiente hormonal androgênico mais robusto seria

universalmente benéfico para o desenvolvimento intelectual precoce.

Talvez níveis de testosterona mais baixos na infância em indivíduos superdotados possam estar

relacionados a diferentes trajetórias de maturação cerebral ou a uma sensibilidade neural distinta aos

esteroides sexuais. Poder
-se-ia especular que uma menor exposição androgênica em fases críticas do
neurodesenvolvimento poderia favorecer certos tipos de processamento cognitivo ou plasticidade neural

que são vantajosos para o desenvolvimento de altas habilidades intelectuais.

Na transição para a vida adulta, o cenário parece se modificar, com a emergência de um padrão em "U

invertido" em homens, onde níveis moderados de testosterona se correlacionam com um melhor

desempenho cognitivo. Este achado sugere que, na maturidade, exis
te uma faixa ótima de testosterona
para a função cerebral, e desvios significativos, tanto para mais quanto para menos, podem ser

prejudiciais. Indivíduos com alto QI parecem também se enquadrar nesta dinâmica.

A inversão dessa relação em homens idosos, onde níveis mais altos de testosterona foram negativamente

correlacionados com a inteligência fluida, adiciona outra camada de complexidade. Este fenômeno pode

refletir interações entre o declínio hormonal relacio
nado à idade (andropausa), a sensibilidade alterada
dos receptores androgênicos ou o acúmulo de comorbidades que afetam tanto o sistema endócrino

quanto o nervoso.

Essa
situação em mulheres é ainda mais particular, com evidências de que tanto níveis baixos quanto
altos de testosterona podem estar associados a um desempenho cognitivo inferior. Isso ressalta a

importância de não transpor diretamente os achados em homens pa
ra mulheres e sugere que o balanço
hormonal ideal para a cognição feminina pode ser mais delicado ou envolver interações mais complexas

com outros hormônios, como os estrógenos.

As implicações dessas variações hormonais podem transcender o domínio puramente cognitivo,

afetando também as interações sociais e os traços de personalidade. Se níveis mais baixos de testosterona

na infância estão presentes em superdotados, isso poderia,
especulativamente, influenciar
pág. 6203
comportamentos como menor agressividade ou diferentes estilos de interação social, embora essa

relação precise ser mais bem explorada.

Na vida adulta, os níveis de testosterona estão classicamente ligados a traços como competitividade,

assertividade e dominância. Variações nos níveis hormonais em adultos superdotados poderiam,

portanto, modular a expressão desses traços, influenciando sua
s escolhas de carreira, estilos de liderança
e dinâmica interpessoal.

É crucial considerar que a testosterona não age no vácuo. Fatores como nível educacional e lateralidade

manual foram mostrados como importantes moduladores da relação testosterona
-inteligência. Isso
indica que o ambiente e as características individuais po
dem interagir com o perfil hormonal para moldar
os desfechos cognitivos e comportamentais.

A
relação entre alto QI e testosterona é um campo fértil para pesquisa, com implicações significativas
para a compreensão do desenvolvimento de talentos, bem
-estar psicológico e adaptação social de
indivíduos superdotados. A identificação de padrões neuroen
dócrinos específicos pode, no futuro,
contribuir para abordagens mais personalizadas no suporte e orientação dessa população.

RESULTADOS PARCIAIS

Os resultados preliminares obtidos a partir da análise dos dados coletados no âmbito do projeto
Gifted
Debate
, que inclui mais de 500 indivíduos de sociedades de alto QI, indicam que indivíduos
superdotados podem, de fato, apresentar variações hormonais, particularmente nos níveis de

testosterona, que parecem estar associadas a certas características de suas inte
rações sociais e traços de
personalidade. Embora a natureza completa e a direcionalidade dessas associações ainda estejam sob

investigação detalhad
a, os dados iniciais sugerem que os perfis hormonais em superdotados podem
divergir em alguns aspectos dos observados na população geral, levantando hipóteses sobre como essas

diferenças podem influenciar desde a competitividade até a saúde mental e o bem
-estar psicossocial ao
longo da vida.

REFERÊNCIAS
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