GATING EXECUTIVO E CUSTO DE TROCA DE
CONTEXTO EM SUPERDOTADOS: UM MODELO
NEUROFUNCIONAL
EXECUTIVE GATING AND CONTEXTUAL CHANGE IN
GIFTED PEOPLE: A NEUROFUNCTIONAL MODEL
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito - Brasil

pág. 7272
DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i4.19329
Gating executivo e custo de troca de contexto em superdotados: um modelo
neurofuncional
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues1
contato@cpah.com.br
https://orcid.org/0000-0002-5487-5852
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Brasil e Portugal
RESUMO
Objetivo: caracterizar, em N-of-1, o bloqueio responsivo a estímulos fora de escopo em indivíduo
superdotado, com maior incidência sob estresse, pressão, estado depressivo funcional ou ruminação
contínua. Hipótese central: gating executivo e custo de troca de contexto como mecanismos
determinantes.Métodos: triangulação entre relato fenomenológico estruturado com registro de
episódios, agenda semanal com blocos de hiperfoco e modelo neurofuncional ancorado nas redes de
saliência e de controle executivo; pré-especificação de métricas temporais simples. O formato segue
referência autorreferida do autor, preservando originalidade do fenômeno. Resultados: padrão estável
composto por: a) latência de resposta quando o estímulo não pertence ao conjunto de tarefas ativas, com
raiva inicial e recusa em abordar o tema no momento da interpelação; b) pico afetivo ultra-rápido com
queda rápida após reconfiguração executiva; c) liberação da resposta somente após recomposição de
metas e avaliação do efeito sobre cronograma e terceiros, com tendência a aprofundamento técnico
próximo a datas-limite e fadiga subjetiva por tomada de decisão recorrente. Conclusão: o bloqueio não
indica déficit. Representa proteção do plano mediada por reatividade límbica intensa e regulação pré-
frontal eficiente, modulada pela carga alostática. Propõe-se trio métrico para estudos futuros: tempo-
pico emocional, tempo de liberação da resposta e semivida afetiva.
Palavras-chave: superdotação, funções executivas, rede de saliência, troca de tarefa, hiperfoco
1 Autor Principal
Correspondencia: contato@cpah.com.br

pág. 7273
Executive gating and contextual change in gifted people: a neurofunctional
model
ABSTRACT
Objective: to characterize, in an N-of-1 design, responsive blocking to out-of-scope prompts in a gifted
individual, more frequent under stress, pressure, functional low mood or persistent rumination. Central
hypothesis: executive gating and context-switching cost drive the phenomenon. Methods: triangulation
of a structured first-person report with episode logging, a weekly hyperfocus schedule, and a
neurofunctional model grounded in salience and executive-control networks; pre-specification of simple
temporal metrics. Reporting follows an author’s prior self-referential case format while preserving the
originality of the present phenomenon. Results: a stable pattern emerged: a) response latency to off-plan
stimuli, with initial anger and refusal to address the topic at query time; b) ultra-fast affective peak with
rapid decay after executive reconfiguration; c) response releaseonly after goal recomposition and
appraisal of effects on schedule and stakeholders, with a tendency to deep dive near deadlines and
subjective fatigue due to recurrent decision-making.Conclusion: the blocking is not a deficit. It reflects
plan protection with intense limbic reactivity and efficient prefrontal regulation, modulated by allostatic
load. A three-metric set is proposed for future work: emotional peak time, response-release time, and
affective half-life.
Keywords: giftedness, executive functions, salience network, task switching, hyperfocus
Artículo recibido 20 julio 2025
Aceptado para publicación: 20 agosto 2025

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INTRODUÇÃO
Mudanças abruptas de contexto exigem comutação entre sistemas neurais com funções distintas. A rede
de saliência detecta novidade relevante, recruta a ínsula anterior direita e promove a troca dinâmica entre
o modo padrão e o controle executivo, produzindo uma janela de latência para selecionar o set de tarefa
apropriado e realocar recursos. Esse gating é adaptativo quando a arquitetura límbico–pré-frontal
sustenta inibição eficiente e redirecionamento atencional em tempo útil. Em perfis de alta capacidade
cognitiva, essa mesma arquitetura pode operar com reatividade emocional de subida rápida e queda
rápida, permitindo retorno célere ao basal quando a regulação pré-frontal é eficaz. (SEELEY et al., 2007;
SRIDHARAN; LEVITIN; MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010; GORIOUNOVA;
MANSVELDER, 2019).
A superdotação cognitiva fornece suporte mecanístico para essa dinâmica por meio de maior integração
parieto-frontal e eficiência celular e sináptica, associadas a velocidade de processamento, manipulação
de informação e controle top-down. Nessa condição, estados de hiperfoco planejado e resistência a
interrupções podem coexistir com respostas afetivas agudas de curtíssima duração, seguidas de
recomposição executiva que só libera a resposta quando a nova hierarquia de metas está estável. Tais
propriedades distinguem impulsividade comum de intensidade regulável, consistente com relatos e
propostas operacionais recentes sobre hiperfoco. (JUNG; HAIER, 2007; GORIOUNOVA;
MANSVELDER, 2019; ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A literatura sobre experiências socioemocionais em indivíduos superdotados indica heterogeneidade,
com dificuldades não universais e fortemente moduladas por definição amostral, instrumentos e
contexto. Revisões recentes apontam a necessidade de enquadramentos conceituais rigorosos para evitar
a patologização de intensidades, ao mesmo tempo em que reconhecem subgrupos vulneráveis. Em
particular, evidências em crianças e adolescentes suspeitos de dupla excepcionalidade mostram perfis
mistos, reforçando o papel de avaliação dimensional e impacto funcional. (RINN, 2024; TARANTINO
et al., 2024; WINKLER; VOIGHT, 2016).
No presente estudo autorreferido, o fenômeno alvo é um bloqueio responsivo diante de perguntas fora
de escopo, com raiva inicial e recusa momentânea em abordar o tema, seguido de liberação deliberada
da resposta próximo a marcos temporais, quando a decisão torna-se necessária. A incidência aumenta

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sob estresse, pressão, ruminação e em humor deprimido funcional, coerente com o aumento do custo de
comutação e com a leitura de depressão funcional como manutenção de alta performance com anedonia
e oscilação emocional, mediada por hiperatividade pré-frontal e hiperreatividade amigdalar. Esse
cenário sustenta a hipótese de gating executivo e custo de troca de contexto como mecanismos de
proteção do plano. (RODRIGUES, 2025; MENON; UDDIN, 2010).
METODOLOGIA
Estudo N-of-1 autorreferido, conduzido em ambiente natural, com a unidade de análise definida como
episódio de interrupção fora de escopo que demanda decisão ou resposta explícita. A observação cobre
de quatro a oito semanas, incluindo dias de baixa demanda e dias com hiperfoco previamente planejado,
bem como períodos com estresse percebido, pressão por prazos, ruminação persistente e humor
deprimido funcional. A fenomenologia é registrada em primeira pessoa e triangulada com a agenda
semanal de blocos de trabalho e dependências entre tarefas, além de marcadores objetivos prévios do
próprio autor, neuropsicológicos, de neuroimagem e genéticos, utilizados apenas como âncoras
descritivas do perfil de referência, sem inferência diagnóstica. Cada episódio é documentado
imediatamente, idealmente até um minuto após a ocorrência, com carimbo temporal, estado basal, tarefa
ativa, descrição do estímulo fora de escopo, linha do tempo percebida do pico afetivo e do retorno ao
basal e momento de liberação da resposta. Em paralelo, são coletadas autoescalas momentâneas de 0 a
10 para estresse, ruminação, humor e esforço cognitivo no início do episódio, no pico e após a resposta,
além de moduladores rotineiros como janela de sono recente, horário e dose de cafeína e prática de
exercício nas últimas 24 horas.
Para padronização, adota-se a seguinte nomenclatura operacional dentro do texto: “estímulo fora de
escopo” é qualquer pergunta ou pedido que não pertença ao conjunto de tarefas ativas do dia ou que, ao
ser atendido, reconfigure dependências já estabelecidas; “bloqueio responsivo” é a latência deliberada
ou recusa momentânea em responder no instante da interpelação, usualmente acompanhada de raiva
inicial controlada e tendência ao isolamento breve; “carga do plano” corresponde ao número de
dependências e de pessoas potencialmente afetadas por uma mudança, acrescida da distância temporal
até o próximo marco relevante. As métricas temporais primárias, extraídas por marcação direta no relato,
são: tempo até o pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e semivida afetiva até metade do pico.

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Além dessas medidas em segundos, registra-se uma variável exploratória em horas ou dias, a “latência
estratégica de prazo”, que representa o adiamento intencional da decisão até a proximidade do evento
quando este ainda está distante. A segmentação analítica de cada episódio segue cinco blocos funcionais,
detecção do estímulo, pico afetivo, gating executivo, recomposição de metas e liberação da resposta,
permitindo mapear a sequência percepção-regulação-decisão sem interromper o fluxo natural da rotina.
A extração de tempos obedece a uma regra única de decisão, com descarte de episódios cuja incerteza
em qualquer marcação exceda cinco segundos. A triangulação mínima entre relato e agenda garante
consistência de cronologia e de dependências. Para mitigar vieses de ordem, a revisão dos episódios
para extração das métricas é feita retrospectivamente, sem consulta à sequência original dos registros.
A análise descritiva contempla estratificações por condição basal, baixa demanda versus estresse com
ruminação, por proximidade do prazo, distante versus próximo, e por período do dia, manhã e tarde
versus noite, dado o relato de piora sob cansaço acumulado. Resultados serão apresentados com medidas
de tendência central e dispersão intra-indivíduo. Será incluída uma figura ilustrativa de intensidade
emocional no tempo, com duas curvas conceituais, superdotado regulável e impulsividade comum, em
cenários distante e próximo do evento, explicitamente identificada como modelo didático; quando
houver volume suficiente, essa figura será atualizada com curvas ajustadas às séries temporais
observadas.
Relato de caso e contextualização neurofuncional
O participante é adulto com superdotação confirmada e rotina de trabalho contínua, com janelas
regulares de hiperfoco matinal e vespertino, sono recente entre 2h00 e 8h30, além de consumo diário de
cafeína entre 9h30 e 10h00. O traço basal inclui ruminação persistente sobre múltiplos planos
simultâneos e elevada responsabilidade decisional em contextos interpessoais. Esse perfil torna a gestão
de alocação atencional sensível a estímulos fora de escopo, sobretudo no período noturno e nos fins de
semana, quando a carga alostática percebida é maior, compatível com a hipótese de depressão funcional
em superdotados profundos, com hiperativação pré-frontal coexistindo com oscilação límbica regulada
com eficiência consciente. Nesse modelo, o desempenho cognitivo se mantém com custo energético
elevado e flutuação afetiva rápida, sem prejuízo executivo global quando a regulação é preservada
(RODRIGUES, 2025).

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O fenômeno-alvo observa-se quando o participante é instado a responder, de forma inesperada, questões
logísticas que não pertencem ao conjunto de tarefas ativas. Ocorre bloqueio responsivo inicial,
irritabilidade de início abrupto, seguida de supressão voluntária do afeto e adiamento da decisão até
proximidade do evento. Próximo ao prazo, há liberação assertiva da resposta em milissegundos, com
alívio imediato e retorno a estado afetivo neutro. Esse encadeamento é consistente com hiperfoco como
estado atencional de ganho elevado e janela estreita, no qual estímulos “off-plan” sofrem gating
executivo até que a hierarquia de metas seja reconfigurada, padrão compatível com hiperfoco descrito
na literatura de atenção (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
Neurofuncionalmente, o caso é parsimonioso com a atuação coordenada das redes de saliência e de
controle executivo: detecção do estímulo inesperado, pico afetivo ultrarrápido, comutação entre redes e
recomposição da hierarquia de metas antes da emissão da resposta. A ínsula anterior direita, em sinergia
com o cíngulo anterior, figura como nó de comutação entre a rede em modo-padrão e a rede executiva,
o que explica a latência transitória e a necessidade de reconfiguração para liberar a resposta, sobretudo
quando há dependências interpessoais e impactos na agenda de terceiros (SEELEY et al., 2007;
SRIDHARAN; LEVITIN; MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010).
Episódios ilustrativos mostram o custo social da troca de contexto. Em um domingo, pergunta sobre
remarcação de procedimento estético para segunda ou quarta gerou irritabilidade imediata e recusa de
resposta. Na segunda, já dentro do escopo semanal, o participante decidiu em milissegundos por
remarcar para outro dia, justificando o impacto sobre cronograma e sobre terceiros e relatando alívio
subsequente. A dinâmica indica que o gating não é déficit, mas salvaguarda do plano, com empatia
modulando custo quando há múltiplos envolvidos; em superdotados, a heterogeneidade socioemocional
e a sensibilidade a demandas contextuais são amplamente discutidas e exigem enquadre metodológico
cuidadoso (RINN, 2024).
O padrão temporal típico, referido pelo participante, inclui: maior probabilidade de bloqueio fora de
horário laboral e ao final do dia, maior reatância a perguntas cuja resposta o interlocutor poderia derivar
autonomamente, irritação de pico e queda rápida após controle voluntário, além de resposta tardia porém
assertiva quando o evento se aproxima. Esse contorno é compatível com o constructo de depressão
funcional em superdotados profundos, em que hiperatividade do córtex pré-frontal dorsolateral coexiste

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com hiperreatividade amigdalar e variabilidade dopaminérgica, produzindo oscilação afetiva de subida
e queda rápidas sem perda do desempenho executivo (RODRIGUES, 2025).
Como corolário neurobiológico, a literatura indica que diferenças microcircuitais e de conectividade em
redes fronto-parietais e sua interação com nós de saliência podem sustentar velocidade de processamento
elevada e controle executivo eficiente em cérebros de alta capacidade, ao custo de maior sensibilidade
a perturbações contextuais quando a carga é alta. Essa leitura é convergente com achados que relacionam
propriedades neuronais e organização de redes de alta ordem a medidas de inteligência geral
(GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).
Importa diferenciar o fenômeno descrito de interpretações reducionistas baseadas em
“superexcitabilities”. Análises meta-analíticas questionam a robustez da relação direta entre
superdotação e superexcitabilidades, recomendando cautela conceitual e foco em mecanismos
mensuráveis, como custo de troca e comutação rede-centrada, o que reforça a adoção do modelo
neurofuncional proposto neste estudo de caso (WINKLER; VOIGHT, 2016).
Em síntese, o relato autorreferido mostra sequência estável: estímulo fora de escopo, detecção e pico
afetivo ultrarrápido, gating executivo com latência variável, recomposição de metas e liberação assertiva
da resposta com semivida afetiva curta. Esse encadeamento é compatível com comutação ínsula-ACC
e controle pré-frontal eficiente, preservando o plano sob alta demanda e minimizando interferência de
tarefas concorrentes. Em períodos de pressão e ruminação elevada, a probabilidade do bloqueio
aumenta, alinhando-se ao quadro de depressão funcional com conservação da performance e custo
emocional oscilatório (SEELEY et al., 2007; SRIDHARAN; LEVITIN; MENON, 2008; MENON;
UDDIN, 2010; RODRIGUES, 2025).
Contextualização ampliada
O fenômeno relatado é simples de reconhecer no cotidiano: quando aparece uma pergunta fora do plano
do dia, há irritação imediata, suspensão da resposta e só depois, com o plano recomposto, a decisão sai
de forma clara e rápida. Esse encadeamento combina foco intenso com filtragem do que não está na
meta ativa, algo compatível com descrições de hyperfocus como estado de absorção seletiva que reduz
a responsividade a estímulos irrelevantes até o momento adequado para agir (ASHINOFF; ABU-AKEL,
2021).

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A proximidade do prazo muda o jogo. Quando o evento está distante, a resposta tende a ser adiada para
evitar retrabalho e replanejamento de gente e tarefas. Quando o prazo se aproxima, a decisão sai rápido,
com alívio afetivo e retorno ao basal, o que sugere controle executivo eficiente sobre uma reatividade
emocional curta e regulável. Essa leitura é coerente com achados que relacionam propriedades celulares
e organização de redes fronto-parietais a processamento rápido e reconfiguração de metas sem perda
funcional sustentada (GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).
Importa lembrar que superdotação é heterogênea. Há quem apresente mais intensidade e rigidez
atencional, e há quem não apresente. Por isso, o padrão aqui descrito deve ser entendido como subperfil
plausível e não como regra do grupo inteiro; revisões recentes destacam variações de método e contexto
como fontes de diferença nos resultados e pedem medidas funcionais que descrevam o impacto real no
dia a dia (RINN, 2024).
Neste caso, a depressão funcional aparece como um estado temporal, não como quadro crônico. A
pessoa mantém desempenho alto, mas paga um custo afetivo maior em períodos de estresse, ruminação
e pressão por prazos, com oscilações curtas de humor e motivação que cedem quando a decisão é tomada
e o plano volta a ficar estável. É uma configuração oscilatória e reversível quando reconhecida e
manejada cedo, distinta da depressão clínica típica, mais persistente e incapacitante no curso
(RODRIGUES, 2025).
Essa distinção orienta o método do estudo. A latência estratégica de prazo não é falha; é uma decisão de
tempo. Ela cresce quando o evento está longe e há muitas dependências e cai quando o prazo chega. A
métrica tripla proposta, tempo até o pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e semivida afetiva,
permite testar esse funcionamento em tarefas de comutação com “perguntas fora de escopo” e assim
separar intensidade regulável de impulsividade comum com base em tempo real de resposta
(ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
Resultados e operacionalização gráfica
O caso mostra uma regra simples de funcionamento: quando a pergunta está fora do plano do dia, há
irritação imediata, suspensão da resposta e só depois, com o plano recomposto, a decisão sai de forma
clara e rápida; quando o evento está perto, a resposta é imediata e assertiva, com alívio afetivo. Esse
padrão é coerente com hyperfocus entendido como absorção seletiva que reduz a responsividade a

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estímulos irrelevantes até a tarefa entrar no escopo, oferecendo um enquadre para o gating observado
no cotidiano (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A proximidade de prazo reorganiza a hierarquia de metas e reduz a latência. Longe do evento, a resposta
é adiada para evitar retrabalho e replanejamento de pessoas e tarefas; perto do evento, a decisão ocorre
em milissegundos, com retorno rápido ao basal. Essa dinâmica é compatível com uma arquitetura de
alta capacidade, em que eficiência microcircuital e integração fronto-parietal sustentam reconfiguração
rápida sem queda de desempenho, ainda que mais sensível a perturbações contextuais sob carga elevada
(GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).
A heterogeneidade descrita na literatura recomenda tratar o achado como subperfil e não como regra
geral do grupo. Há variação por definição amostral, instrumentos e contexto, o que justifica a decisão
de medir o fenômeno em tempo real dentro do próprio indivíduo e reportar métricas temporais, em vez
de rotular intensidade como traço fixo (RINN, 2024).
O componente afetivo é temporal, não crônico. A leitura de depressão funcional explica a oscilação
curta de humor e motivação com preservação da performance sob estresse e ruminação. O custo
regulatório sobe quando a agenda envolve terceiros e múltiplas dependências; ao decidir, o afeto retorna
rápido ao basal, o que diferencia esse estado de quadros depressivos persistentes e incapacitantes
(RODRIGUES, 2025).
Para operacionalizar o fenômeno, serão extraídos três tempos por episódio: tempo ao pico afetivo, tempo
até a liberação da resposta e semivida afetiva. Esses tempos permitirão comparar dois cenários no
mesmo indivíduo: distante do evento (latência maior, decisão adiada) e próximo do evento (latência
mínima, decisão assertiva). Essa abordagem responde a chamadas da literatura por definições
operacionais e paradigmas capazes de capturar estados de concentração intensa e o seu custo de
comutação (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A figura prevista apresentará um gráfico conceitual de intensidade emocional pelo tempo, com duas
curvas: “superdotado regulável” e “impulsividade comum”. A primeira exibirá subida quase instantânea,
queda rápida, bloqueio breve até o replanejamento e decisão quando o tema entra no escopo; a segunda
mostrará subida mais lenta e queda prolongada, sem etapa explícita de replanejamento. O gráfico terá
dois painéis: distante do evento e próximo do evento. Quando houver base suficiente, as curvas serão
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ajustadas aos tempos reais do caso, mantendo o vínculo com o raciocínio de foco intenso e filtragem
seletiva descrito nos estudos (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021; GORIOUNOVA; MANSVELDER,
2019).
Por fim, a interpretação dos resultados será feita com cautela: o bloqueio responsivo é proteção do plano,
não incapacidade. A validação do modelo depende de consistência intra-indivíduo e de relato claro de
contexto. Isso está alinhado ao debate atual que pede métricas funcionais e evita generalizações rápidas
sobre intensidades em superdotação (RINN, 2024; RODRIGUES, 2025).
CONCLUSÕES

pág. 7282
O estudo N-of-1 descreve um padrão estável de bloqueio responsivo a perguntas fora do escopo, com
pico afetivo rápido, queda rápida e liberação da resposta apenas após recomposição do plano. Esse
funcionamento é consistente com a atuação coordenada da rede de saliência e do controle executivo, em
que a ínsula anterior direciona a comutação entre modo padrão e sistema executivo, justificando a
latência estratégica observada no cotidiano do participante (SEELEY et al., 2007; SRIDHARAN;
LEVITIN; MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010).
O fenômeno não se configura como déficit. Trata-se de proteção do plano mediada por foco intenso e
filtragem de estímulos que não pertencem à meta ativa. O enquadre por hyperfocus explica a supressão
transitória da resposta e a emissão assertiva quando o contexto está alinhado, sustentando a proposta de
três métricas simples para validação futura, tempo ao pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e
semivida afetiva (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A modulação por proximidade de prazo e por carga alostática indica que o custo de troca aumenta com
estresse, ruminação e múltiplas dependências, e diminui quando a decisão é necessária no curto prazo.
Esse contorno é compatível com o quadro de depressão funcional como estado temporal em
superdotados, com manutenção de desempenho e custo regulatório elevado, distinto de apresentações
depressivas crônicas e incapacitantes (RODRIGUES, 2025).
A interpretação deve considerar a heterogeneidade em superdotação. O padrão aqui descrito representa
um subperfil plausível, não um marcador universal. Revisões recentes pedem medidas funcionais e
definidas no tempo, o que reforça a utilidade das métricas propostas e do gráfico conceitual para estudos
confirmatórios em amostras maiores e em delineamentos experimentais de comutação de tarefa (RINN,
2024).
Como implicação prática, recomenda-se registrar episódios com marcações temporais finas, planejar
buffers na agenda para reduzir custo de comutação e treinar estratégias de resposta situacional que
preservem o plano sem intensificar a carga emocional. No nível neurobiológico, diferenças em
propriedades celulares e integração fronto-parietal oferecem base para processamento veloz e
reconfiguração eficiente, o que pode orientar hipóteses sobre variabilidade individual na curva temporal
da emoção e do controle executivo (GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).

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Aspectos éticos
Estudo autorreferido, um único participante, sem intervenção clínica ou manipulação experimental.
Classificação de risco mínimo. O objetivo é descritivo e explicativo, não terapêutico, não prescritivo. O
participante é o próprio autor e assinou termo de consentimento livre e esclarecido específico para uso
científico do material, incluindo publicação, edição e arquivamento do conteúdo.
Privacidade e confidencialidade preservadas. Não há divulgação de dados sensíveis de terceiros. Quando
situações envolvem outras pessoas, as referências permanecem genéricas, sem nomes próprios, sem
datas precisas, sem elementos que permitam identificação direta ou indireta. Episódios que possam
expor rotinas de familiares são reescritos com abstração temporal e contextual; se houver necessidade
de mencionar terceiros de forma minimamente identificável, será solicitado consentimento específico e
documentado.
Proteção de dados. Registros brutos ficam armazenados em repositório privado com autenticação forte
e criptografia; controle de acesso restrito ao autor. Retenção por cinco anos e posterior descarte seguro.
Compartilhamento público limita-se a versões anonimizadas das tabelas de episódios e às figuras
conceituais; não se disponibilizam trechos literais do diário que identifiquem pessoas, locais ou agendas.
Integridade científica. Não há reaproveitamento de texto de trabalhos anteriores do autor; o conteúdo é
original, com citações formais onde cabível e sinais claros de distinção entre observação, interpretação
e especulação. Conflito de interesse declarado: estudo de caso do próprio pesquisador. Mitigações
adotadas, padronização de registros, triangulação com agenda e laudos prévios, regra única para extração
dos tempos e descarte de episódios com incerteza elevada.
Governança ética. Por tratar-se de observação naturalística sem intervenção e risco mínimo, enquadra-
se como passível de dispensa de apreciação prévia, a critério do periódico e do comitê local. Caso
necessário, será submetido ao CEP ou IRB competente para emissão de declaração de isenção ou parecer
consubstanciado. O manuscrito explicita que o estudo não substitui avaliação clínica e não constitui
recomendação individual de conduta.
Direitos autorais e imagens. As figuras são modelos conceituais, não derivam de dados identificáveis.
A cessão de direitos para uso editorial das imagens e trechos textuais é do autor-participante. Qualquer

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material de terceiros permanecerá fora do manuscrito ou será incluído somente com autorização
expressa.
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