GATING EXECUTIVO E CUSTO DE TROCA DE
CONTEXTO
EM SUPERDOTADOS: UM MODELO
NEUROFUNCIONAL

EXECUTIVE
GATING AND CONTEXTUAL CHANGE IN
GIFTED
PEOPLE: A NEUROFUNCTIONAL MODEL
Fabiano
de Abreu Agrela Rodrigues
Centro
de Pesquisa e Análises Heráclito - Brasil
pág. 7272
DOI:
https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i4.19329
Gating
executivo e custo de troca de contexto em superdotados: um modelo
neurofuncional

Fabiano
de Abreu Agrela Rodrigues1
contato@cpah.com.br

https://orcid.org/0000
-0002-5487-5852
Centro
de Pesquisa e Análises Heráclito
Brasil
e Portugal
RESUMO

Objetivo:
caracterizar, em N-of-1, o bloqueio responsivo a estímulos fora de escopo em indivíduo
superdotado,
com maior incidência sob estresse, pressão, estado depressivo funcional ou ruminação
cont
ínua. Hipótese central: gating executivo e custo de troca de contexto como mecanismos
determinantes.
Métodos: triangulação entre relato fenomenológico estruturado com registro de
epis
ódios, agenda semanal com blocos de hiperfoco e modelo neurofuncional ancorado nas redes de
sali
ência e de controle executivo; pré-especificação de métricas temporais simples. O formato segue
refer
ência autorreferida do autor, preservando originalidade do fenômeno. Resultados: padrão estável
composto
por: a) latência de resposta quando o estímulo não pertence ao conjunto de tarefas ativas, com
raiva
inicial e recusa em abordar o tema no momento da interpelação; b) pico afetivo ultra-rápido com
queda
rápida após reconfiguração executiva; c) liberação da resposta somente após recomposição de
metas
e avaliação do efeito sobre cronograma e terceiros, com tendência a aprofundamento técnico
pr
óximo a datas-limite e fadiga subjetiva por tomada de decisão recorrente. Conclusão: o bloqueio o
indica
déficit. Representa proteção do plano mediada por reatividade límbica intensa e regulação pré-
frontal
eficiente, modulada pela carga alostática. Propõe-se trio métrico para estudos futuros: tempo-
pico
emocional, tempo de liberação da resposta e semivida afetiva.
Palavras
-chave: superdotação, funções executivas, rede de saliência, troca de tarefa, hiperfoco
1
Autor Principal
Correspondencia:
contato@cpah.com.br
pág. 7273
Executive
gating and contextual change in gifted people: a neurofunctional
model

ABSTRACT

Objective:
to characterize, in an N-of-1 design, responsive blocking to out-of-scope prompts in a gifted
individual,
more frequent under stress, pressure, functional low mood or persistent rumination. Central
hypothesis:
executive gating and context-switching cost drive the phenomenon. Methods: triangulation
of
a structured first-person report with episode logging, a weekly hyperfocus schedule, and a
neurofunctional
model grounded in salience and executive-control networks; pre-specification of simple
temporal
metrics. Reporting follows an authors prior self-referential case format while preserving the
originality
of the present phenomenon. Results: a stable pattern emerged: a) response latency to off-plan
stimuli,
with initial anger and refusal to address the topic at query time; b) ultra-fast affective peak with
rapid
decay after executive reconfiguration; c) response releaseonly after goal recomposition and
appraisal
of effects on schedule and stakeholders, with a tendency to deep dive near deadlines and
subjective
fatigue due to recurrent decision-making.Conclusion: the blocking is not a deficit. It reflects
plan
protection with intense limbic reactivity and efficient prefrontal regulation, modulated by allostatic
load.
A three-metric set is proposed for future work: emotional peak time, response-release time, and
af
fective half-life.
Keywords
: giftedness, executive functions, salience network, task switching, hyperfocus
Artículo
recibido 20 julio 2025
Aceptado
para publicación: 20 agosto 2025
pág. 7274
INTRODU
ÇÃO
Mudan
ças abruptas de contexto exigem comutação entre sistemas neurais com funções distintas. A rede
de
saliência detecta novidade relevante, recruta a ínsula anterior direita e promove a troca dinâmica entre
o
modo padrão e o controle executivo, produzindo uma janela de latência para selecionar o set de tarefa
apropriado
e realocar recursos. Esse gating é adaptativo quando a arquitetura límbicopré-frontal
sustenta
inibição eficiente e redirecionamento atencional em tempo útil. Em perfis de alta capacidade
cognitiva,
essa mesma arquitetura pode operar com reatividade emocional de subida rápida e queda
r
ápida, permitindo retorno célere ao basal quando a regulação pré-frontal é eficaz. (SEELEY et al., 2007;
SRIDHARAN;
LEVITIN; MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010; GORIOUNOVA;
MANSVELDER,
2019).
A superdota
ção cognitiva fornece suporte mecanístico para essa dinâmica por meio de maior integração
parieto
-frontal e eficiência celular e sináptica, associadas a velocidade de processamento, manipulação
de
informação e controle top-down. Nessa condição, estados de hiperfoco planejado e resistência a
interrupções
podem coexistir com respostas afetivas agudas de curtíssima duração, seguidas de
recomposição
executiva que só libera a resposta quando a nova hierarquia de metas está estável. Tais
propriedades
distinguem impulsividade comum de intensidade regulável, consistente com relatos e
propostas
operacionais recentes sobre hiperfoco. (JUNG; HAIER, 2007; GORIOUNOVA;
MANSVELDER,
2019; ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A
literatura sobre experiências socioemocionais em indivíduos superdotados indica heterogeneidade,
com
dificuldades não universais e fortemente moduladas por definição amostral, instrumentos e
contexto.
Revisões recentes apontam a necessidade de enquadramentos conceituais rigorosos para evitar
a
patologização de intensidades, ao mesmo tempo em que reconhecem subgrupos vulneráveis. Em
particular,
evidências em crianças e adolescentes suspeitos de dupla excepcionalidade mostram perfis
mistos,
reforçando o papel de avaliação dimensional e impacto funcional. (RINN, 2024; TARANTINO
et
al., 2024; WINKLER; VOIGHT, 2016).
No
presente estudo autorreferido, o fenômeno alvo é um bloqueio responsivo diante de perguntas fora
de
escopo, com raiva inicial e recusa momentânea em abordar o tema, seguido de liberação deliberada
da
resposta próximo a marcos temporais, quando a decisão torna-se necessária. A incidência aumenta
pág. 7275
sob
estresse, pressão, ruminação e em humor deprimido funcional, coerente com o aumento do custo de
comutação
e com a leitura de depressão funcional como manutenção de alta performance com anedonia
e
oscilação emocional, mediada por hiperatividade pré-frontal e hiperreatividade amigdalar. Esse
cen
ário sustenta a hipótese de gating executivo e custo de troca de contexto como mecanismos de
proteção
do plano. (RODRIGUES, 2025; MENON; UDDIN, 2010).
METODOLOGIA

Estudo
N-of-1 autorreferido, conduzido em ambiente natural, com a unidade de análise definida como
epis
ódio de interrupção fora de escopo que demanda decisão ou resposta explícita. A observação cobre
de
quatro a oito semanas, incluindo dias de baixa demanda e dias com hiperfoco previamente planejado,
bem
como períodos com estresse percebido, pressão por prazos, ruminação persistente e humor
deprimido
funcional. A fenomenologia é registrada em primeira pessoa e triangulada com a agenda
semanal
de blocos de trabalho e dependências entre tarefas, além de marcadores objetivos prévios do
pr
óprio autor, neuropsicológicos, de neuroimagem e genéticos, utilizados apenas como âncoras
descritivas
do perfil de referência, sem inferência diagnóstica. Cada episódio é documentado
imediatamente,
idealmente até um minuto após a ocorrência, com carimbo temporal, estado basal, tarefa
ativa,
descrição do estímulo fora de escopo, linha do tempo percebida do pico afetivo e do retorno ao
basal
e momento de liberação da resposta. Em paralelo, são coletadas autoescalas momentâneas de 0 a
10
para estresse, ruminação, humor e esforço cognitivo no início do episódio, no pico e após a resposta,
al
ém de moduladores rotineiros como janela de sono recente, horário e dose de cafeína e prática de
exerc
ício nas últimas 24 horas.
Para padroniza
ção, adota-se a seguinte nomenclatura operacional dentro do texto: estímulo fora de
escopo”
é qualquer pergunta ou pedido que o pertença ao conjunto de tarefas ativas do dia ou que, ao
ser
atendido, reconfigure dependências já estabelecidas; bloqueio responsivo” é a latência deliberada
ou
recusa momentânea em responder no instante da interpelação, usualmente acompanhada de raiva
inicial
controlada e tendência ao isolamento breve; carga do plano corresponde ao número de
depend
ências e de pessoas potencialmente afetadas por uma mudança, acrescida da distância temporal
at
é o próximo marco relevante. As métricas temporais primárias, extraídas por marcação direta no relato,
o: tempo até o pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e semivida afetiva até metade do pico.
pág. 7276
Al
ém dessas medidas em segundos, registra-se uma variável exploratória em horas ou dias, a latência
estrat
égica de prazo, que representa o adiamento intencional da decisão até a proximidade do evento
quando
este ainda está distante. A segmentação analítica de cada episódio segue cinco blocos funcionais,
detecção
do estímulo, pico afetivo, gating executivo, recomposição de metas e liberação da resposta,
permitindo
mapear a sequência percepção-regulação-decisão sem interromper o fluxo natural da rotina.
A
extração de tempos obedece a uma regra única de decisão, com descarte de episódios cuja incerteza
em
qualquer marcação exceda cinco segundos. A triangulação mínima entre relato e agenda garante
consistê
ncia de cronologia e de dependências. Para mitigar vieses de ordem, a revisão dos episódios
para
extração das métricas é feita retrospectivamente, sem consulta à sequência original dos registros.
A
análise descritiva contempla estratificações por condição basal, baixa demanda versus estresse com
ruminação,
por proximidade do prazo, distante versus próximo, e por período do dia, manhã e tarde
versus
noite, dado o relato de piora sob cansaço acumulado. Resultados serão apresentados com medidas
de
tendência central e dispersão intra-indivíduo. Será incluída uma figura ilustrativa de intensidade
emocional
no tempo, com duas curvas conceituais, superdotado regulável e impulsividade comum, em
cen
ários distante e próximo do evento, explicitamente identificada como modelo didático; quando
houver
volume suficiente, essa figura será atualizada com curvas ajustadas às séries temporais
observadas.

Relato
de caso e contextualização neurofuncional
O
participante é adulto com superdotação confirmada e rotina de trabalho contínua, com janelas
regulares
de hiperfoco matinal e vespertino, sono recente entre 2h00 e 8h30, além de consumo diário de
cafe
ína entre 9h30 e 10h00. O traço basal inclui ruminação persistente sobre múltiplos planos
simult
âneos e elevada responsabilidade decisional em contextos interpessoais. Esse perfil torna a gestão
de
alocação atencional sensível a estímulos fora de escopo, sobretudo no período noturno e nos fins de
semana,
quando a carga alostática percebida é maior, compatível com a hipótese de depressão funcional
em
superdotados profundos, com hiperativação pré-frontal coexistindo com oscilação mbica regulada
com
eficiência consciente. Nesse modelo, o desempenho cognitivo se mantém com custo energético
elevado
e flutuação afetiva rápida, sem prejuízo executivo global quando a regulação é preservada
(RODRIGUES,
2025).
pág. 7277
O
fenômeno-alvo observa-se quando o participante é instado a responder, de forma inesperada, questões
log
ísticas que não pertencem ao conjunto de tarefas ativas. Ocorre bloqueio responsivo inicial,
irritabilidade
de início abrupto, seguida de supressão voluntária do afeto e adiamento da decisão até
proximidade
do evento. Próximo ao prazo, há liberação assertiva da resposta em milissegundos, com
al
ívio imediato e retorno a estado afetivo neutro. Esse encadeamento é consistente com hiperfoco como
estado
atencional de ganho elevado e janela estreita, no qual estímulos off-plan sofrem gating
executivo
até que a hierarquia de metas seja reconfigurada, padrão compatível com hiperfoco descrito
na
literatura de atenção (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
Neurofuncionalmente,
o caso é parsimonioso com a atuação coordenada das redes de saliência e de
controle
executivo: detecção do estímulo inesperado, pico afetivo ultrarrápido, comutação entre redes e
recomposição
da hierarquia de metas antes da emissão da resposta. A ínsula anterior direita, em sinergia
com
o cíngulo anterior, figura como nó de comutação entre a rede em modo-padrão e a rede executiva,
o
que explica a latência transitória e a necessidade de reconfiguração para liberar a resposta, sobretudo
quando
há dependências interpessoais e impactos na agenda de terceiros (SEELEY et al., 2007;
SRIDHARAN;
LEVITIN; MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010).
Epis
ódios ilustrativos mostram o custo social da troca de contexto. Em um domingo, pergunta sobre
remarcação
de procedimento estético para segunda ou quarta gerou irritabilidade imediata e recusa de
resposta.
Na segunda, já dentro do escopo semanal, o participante decidiu em milissegundos por
remarcar
para outro dia, justificando o impacto sobre cronograma e sobre terceiros e relatando alívio
subsequente.
A dinâmica indica que o gating o é déficit, mas salvaguarda do plano, com empatia
modulando
custo quando há ltiplos envolvidos; em superdotados, a heterogeneidade socioemocional
e
a sensibilidade a demandas contextuais são amplamente discutidas e exigem enquadre metodológico
cuidadoso
(RINN, 2024).
O
padrão temporal típico, referido pelo participante, inclui: maior probabilidade de bloqueio fora de
hor
ário laboral e ao final do dia, maior reatância a perguntas cuja resposta o interlocutor poderia derivar
autonomamente,
irritação de pico e queda rápida após controle voluntário, além de resposta tardia porém
assertiva
quando o evento se aproxima. Esse contorno é compatível com o constructo de depressão
funcional
em superdotados profundos, em que hiperatividade do córtex pré-frontal dorsolateral coexiste
pág. 7278
com
hiperreatividade amigdalar e variabilidade dopaminérgica, produzindo oscilação afetiva de subida
e
queda rápidas sem perda do desempenho executivo (RODRIGUES, 2025).
Como corol
ário neurobiológico, a literatura indica que diferenças microcircuitais e de conectividade em
redes
fronto-parietais e sua interação com nós de saliência podem sustentar velocidade de processamento
elevada
e controle executivo eficiente em cérebros de alta capacidade, ao custo de maior sensibilidade
a
perturbações contextuais quando a carga é alta. Essa leitura é convergente com achados que relacionam
propriedades
neuronais e organização de redes de alta ordem a medidas de inteligência geral
(GORIOUNOVA;
MANSVELDER, 2019).
Importa
diferenciar o fenômeno descrito de interpretações reducionistas baseadas em
superexcitabilities”. Análises meta-analíticas questionam a robustez da relação direta entre
superdotação
e superexcitabilidades, recomendando cautela conceitual e foco em mecanismos
mensur
áveis, como custo de troca e comutação rede-centrada, o que reforça a adoção do modelo
neurofuncional
proposto neste estudo de caso (WINKLER; VOIGHT, 2016).
Em
síntese, o relato autorreferido mostra sequência estável: estímulo fora de escopo, detecção e pico
afetivo
ultrarrápido, gating executivo com latência variável, recomposição de metas e liberação assertiva
da
resposta com semivida afetiva curta. Esse encadeamento é compatível com comutação ínsula-ACC
e
controle pré-frontal eficiente, preservando o plano sob alta demanda e minimizando interferência de
tarefas
concorrentes. Em períodos de pressão e ruminação elevada, a probabilidade do bloqueio
aumenta,
alinhando-se ao quadro de depressão funcional com conservação da performance e custo
emocional
oscilatório (SEELEY et al., 2007; SRIDHARAN; LEVITIN; MENON, 2008; MENON;
UDDIN,
2010; RODRIGUES, 2025).
Contextualiza
ção ampliada
O
fenômeno relatado é simples de reconhecer no cotidiano: quando aparece uma pergunta fora do plano
do
dia, há irritação imediata, suspensão da resposta e só depois, com o plano recomposto, a decisão sai
de
forma clara e rápida. Esse encadeamento combina foco intenso com filtragem do que o está na
meta
ativa, algo compatível com descrições de hyperfocus como estado de absorção seletiva que reduz
a
responsividade a estímulos irrelevantes até o momento adequado para agir (ASHINOFF; ABU-AKEL,
2021).
pág. 7279
A
proximidade do prazo muda o jogo. Quando o evento está distante, a resposta tende a ser adiada para
evitar
retrabalho e replanejamento de gente e tarefas. Quando o prazo se aproxima, a decisão sai pido,
com
alívio afetivo e retorno ao basal, o que sugere controle executivo eficiente sobre uma reatividade
emocional
curta e regulável. Essa leitura é coerente com achados que relacionam propriedades celulares
e
organização de redes fronto-parietais a processamento rápido e reconfiguração de metas sem perda
funcional
sustentada (GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).
Importa
lembrar que superdotação é heterogênea. quem apresente mais intensidade e rigidez
atencional,
e há quem não apresente. Por isso, o padrão aqui descrito deve ser entendido como subperfil
plaus
ível e não como regra do grupo inteiro; revisões recentes destacam variações de todo e contexto
como
fontes de diferença nos resultados e pedem medidas funcionais que descrevam o impacto real no
dia
a dia (RINN, 2024).
Neste
caso, a depressão funcional aparece como um estado temporal, não como quadro crônico. A
pessoa
mantém desempenho alto, mas paga um custo afetivo maior em períodos de estresse, ruminação
e
pressão por prazos, com oscilações curtas de humor e motivação que cedem quando a decisão é tomada
e
o plano volta a ficar estável. É uma configuração oscilatória e reversível quando reconhecida e
manejada
cedo, distinta da depressão clínica pica, mais persistente e incapacitante no curso
(RODRIGUES,
2025).
Essa
distinção orienta o método do estudo. A latência estratégica de prazo o é falha; é uma decisão de
tempo.
Ela cresce quando o evento está longe e há muitas dependências e cai quando o prazo chega. A
m
étrica tripla proposta, tempo até o pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e semivida afetiva,
permite
testar esse funcionamento em tarefas de comutação com perguntas fora de escopo e assim
separar
intensidade regulável de impulsividade comum com base em tempo real de resposta
(ASHINOFF;
ABU-AKEL, 2021).
Resultados
e operacionalização gráfica
O
caso mostra uma regra simples de funcionamento: quando a pergunta está fora do plano do dia, há
irrita
ção imediata, suspensão da resposta e só depois, com o plano recomposto, a decisão sai de forma
clara
e rápida; quando o evento está perto, a resposta é imediata e assertiva, com alívio afetivo. Esse
padrã
o é coerente com hyperfocus entendido como absorção seletiva que reduz a responsividade a
pág. 7280
est
ímulos irrelevantes até a tarefa entrar no escopo, oferecendo um enquadre para o gating observado
no
cotidiano (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A
proximidade de prazo reorganiza a hierarquia de metas e reduz a latência. Longe do evento, a resposta
é
adiada para evitar retrabalho e replanejamento de pessoas e tarefas; perto do evento, a decisão ocorre
em
milissegundos, com retorno rápido ao basal. Essa dinâmica é compatível com uma arquitetura de
alta
capacidade, em que eficiência microcircuital e integração fronto-parietal sustentam reconfiguração
pida sem queda de desempenho, ainda que mais sensível a perturbações contextuais sob carga elevada
(GORIOUNOVA;
MANSVELDER, 2019).
A
heterogeneidade descrita na literatura recomenda tratar o achado como subperfil e não como regra
geral
do grupo. Há variação por definição amostral, instrumentos e contexto, o que justifica a decisão
de
medir o fenômeno em tempo real dentro do próprio indivíduo e reportar métricas temporais, em vez
de
rotular intensidade como traço fixo (RINN, 2024).
O
componente afetivo é temporal, o crônico. A leitura de depressão funcional explica a oscilação
curta
de humor e motivação com preservação da performance sob estresse e ruminação. O custo
regulat
ório sobe quando a agenda envolve terceiros e múltiplas dependências; ao decidir, o afeto retorna
r
ápido ao basal, o que diferencia esse estado de quadros depressivos persistentes e incapacitantes
(RODRIGUES,
2025).
Para
operacionalizar o fenômeno, serão extraídos três tempos por episódio: tempo ao pico afetivo, tempo
at
é a liberação da resposta e semivida afetiva. Esses tempos permitirão comparar dois cenários no
mesmo
indivíduo: distante do evento (latência maior, decisão adiada) e próximo do evento (latência
m
ínima, decisão assertiva). Essa abordagem responde a chamadas da literatura por definições
operacionais
e paradigmas capazes de capturar estados de concentração intensa e o seu custo de
comutaçã
o (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A
figura prevista apresentará um gráfico conceitual de intensidade emocional pelo tempo, com duas
curvas:
superdotado regulável” e impulsividade comum. A primeira exibirá subida quase instantânea,
queda r
ápida, bloqueio breve até o replanejamento e decisão quando o tema entra no escopo; a segunda
mostrar
á subida mais lenta e queda prolongada, sem etapa explícita de replanejamento. O gráfico terá
dois
painéis: distante do evento e próximo do evento. Quando houver base suficiente, as curvas serão
pág. 7281
ajustadas
aos tempos reais do caso, mantendo o vínculo com o raciocínio de foco intenso e filtragem
seletiva
descrito nos estudos (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021; GORIOUNOVA; MANSVELDER,
2019).

Por
fim, a interpretação dos resultados será feita com cautela: o bloqueio responsivo é proteção do plano,
não
incapacidade. A validação do modelo depende de consistência intra-indivíduo e de relato claro de
contexto.
Isso está alinhado ao debate atual que pede métricas funcionais e evita generalizações rápidas
sobre
intensidades em superdotação (RINN, 2024; RODRIGUES, 2025).
CONCLUSÕ
ES
pág. 7282
O
estudo N-of-1 descreve um padrão estável de bloqueio responsivo a perguntas fora do escopo, com
pico
afetivo rápido, queda rápida e liberação da resposta apenas após recomposição do plano. Esse
funcionamento
é consistente com a atuação coordenada da rede de saliência e do controle executivo, em
que
a ínsula anterior direciona a comutação entre modo padrão e sistema executivo, justificando a
lat
ência estratégica observada no cotidiano do participante (SEELEY et al., 2007; SRIDHARAN;
LEVITIN;
MENON, 2008; MENON; UDDIN, 2010).
O
fenômeno não se configura como déficit. Trata-se de proteção do plano mediada por foco intenso e
filtragem
de estímulos que não pertencem à meta ativa. O enquadre por hyperfocus explica a supressão
transit
ória da resposta e a emissão assertiva quando o contexto está alinhado, sustentando a proposta de
tr
ês métricas simples para validação futura, tempo ao pico afetivo, tempo até a liberação da resposta e
semivida
afetiva (ASHINOFF; ABU-AKEL, 2021).
A
modulação por proximidade de prazo e por carga alostática indica que o custo de troca aumenta com
estresse,
ruminação e múltiplas dependências, e diminui quando a decisão é necessária no curto prazo.
Esse
contorno é compatível com o quadro de depressão funcional como estado temporal em
superdotados,
com manutenção de desempenho e custo regulatório elevado, distinto de apresentações
depressivas
crônicas e incapacitantes (RODRIGUES, 2025).
A
interpretação deve considerar a heterogeneidade em superdotação. O padrão aqui descrito representa
um
subperfil plausível, não um marcador universal. Revisões recentes pedem medidas funcionais e
definidas
no tempo, o que reforça a utilidade das métricas propostas e do gráfico conceitual para estudos
confirmat
órios em amostras maiores e em delineamentos experimentais de comutação de tarefa (RINN,
2024).

Como implica
ção prática, recomenda-se registrar episódios com marcações temporais finas, planejar
buffers
na agenda para reduzir custo de comutação e treinar estratégias de resposta situacional que
preservem
o plano sem intensificar a carga emocional. No nível neurobiológico, diferenças em
propriedades
celulares e integração fronto-parietal oferecem base para processamento veloz e
reconfiguração
eficiente, o que pode orientar hipóteses sobre variabilidade individual na curva temporal
da
emoção e do controle executivo (GORIOUNOVA; MANSVELDER, 2019).
pág. 7283
Aspectos
éticos
Estudo
autorreferido, um único participante, sem intervenção clínica ou manipulação experimental.
Classificação
de risco mínimo. O objetivo é descritivo e explicativo, não terapêutico, não prescritivo. O
participante
é o próprio autor e assinou termo de consentimento livre e esclarecido específico para uso
cient
ífico do material, incluindo publicação, edição e arquivamento do conteúdo.
Privacidade
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especulação. Conflito de interesse declarado: estudo de caso do próprio pesquisador. Mitigações
adotadas,
padronização de registros, triangulação com agenda e laudos prévios, regra única para extração
dos
tempos e descarte de episódios com incerteza elevada.
Governan
ça ética. Por tratar-se de observação naturalística sem intervenção e risco nimo, enquadra-
se
como passível de dispensa de apreciação prévia, a critério do periódico e do comitê local. Caso
necessário,
será submetido ao CEP ou IRB competente para emissão de declaração de isenção ou parecer
consubstanciado.
O manuscrito explicita que o estudo não substitui avaliação clínica e não constitui
recomendação
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Direitos
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pág. 7284
material
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expressa.

REFERÊ
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