Hemocromatose heredit�ria e defici�ncia de G6PD

 

 

Nat�lia Barth[1]

 

Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues[2]

[email protected]

 

 

 

 

RESUMO

Aumento de minerais, metab�litos ou medicamentos pode causar danos as vezes irrevers�veis no corpo. No caso da hemocromatose heredit�ria h� o aumento da absor��o do ferro, mineral que se acumula em diversos �rg�os do corpo. J� a defici�ncia de G6PD � um dist�rbio do metabolismo eritrocit�rio que ocasiona em diminui��o da vida �til destas c�lulas, ocasionando importantes crises de hem�lise. A seguir s�o abordados fatores importantes destas duas patologias.

 

Palavras chave: hemocrotose. deficiencia de G6PD.

 

 

 

Hereditary hemochromatosis and G6PD deficiency

 

 

ABSTRACT

Increases in minerals, metabolites, or medications can cause sometimes irreversible damage to the body. In the case of hereditary hemochromatosis, there is an increase in the absorption of iron, a mineral that accumulates in several organs of the body. G6PD deficiency, on the other hand, is a disorder of erythrocyte metabolism that causes a decrease in the life span of these cells, leading to important hemolysis crises. Important factors of these two pathologies are discussed below.

 

Key words: hemochrotosis; G6PD; deficiency.

 

 

 

Art�culo recibido:� 03 marzo 2022

Aceptado para publicaci�n: 20 marzo 2022

Correspondencia: [email protected]

Conflictos de Inter�s: Ninguna que declarar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODU��O

A hemocromatose heredit�ria � uma desordem que faz com que o corpo absorva demasiado ferro da dieta. O excesso de ferro � armazenado nos tecidos e �rg�os do corpo, particularmente na pele, cora��o, f�gado, p�ncreas, e articula��es. Como os seres humanos n�o podem aumentar a excre��o de ferro, o excesso de ferro pode sobrecarregar e eventualmente danificar tecidos e �rg�os. Por esta raz�o, a hemocromatose heredit�ria � tamb�m chamada uma desordem de sobrecarga de ferro.

Os sintomas iniciais de hemocromatose heredit�ria podem incluir cansa�o extremo (fadiga), dores articulares, dores abdominais, perda de peso, e perda de desejo sexual. medida que a condi��o se agrava, os indiv�duos afectados podem desenvolver artrite, doen�a hep�tica (cirrose) ou cancro do f�gado, diabetes, anomalias card�acas, ou descolora��o da pele. O aparecimento e a gravidade dos sintomas podem ser afectados por factores ambientais e de estilo de vida, tais como a quantidade de ferro na dieta, o consumo de �lcool e infec��es.

Hemocromatose heredit�ria (HH)

Hemocromatose heredit�ria � um dist�rbio da absor��o do ferro, muito comum em caucasianos. Caracteriza-se pelo aumento da absor��o e armazenamento do ferro, resultando em danos em diversos �rg�os do corpo. O primeiro gene dito como candidato de muta��o respons�vel pela HH foi o HFE, no entanto atualmente sabe-se que a hemocromatose cl�ssica (tipo 1) � associada a muta��o neste gene, mas existem outros 4 principais tipos da doen�a n�o ligadas a este gene: tipo 2A, 2B, 3 e 4 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA, 2021).

Diagn�stico

O diagn�stico compreende avalia��o laboratorial, histopatol�gica e molecular quando poss�vel. Dosagens consecutivas de Satura��o da Transferrina, com valores acima de 45% para ambos os g�neros, e da Ferritina S�rica acima de 200 ng/ml nas mulheres e 300 ng/ml nos homens, s�o grandes indicativos para uma investiga��o mais aprofundada. A satura��o da transferrina persistentemente elevada � o par�metro laboratorial mais importante e precoce para o diagn�stico da HH, enquanto que a ferritina s�rica constantemente elevada, est� associada � presen�a de sintomas e sinais cl�nicos relacionados � sobrecarga de ferro (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA, 2021).

At� os anos 1990, o diagn�stico de HH baseava-se principalmente na confirma��o histol�gica de sobrecarga de ferro. Deste modo, preconizava-se a realiza��o de bi�psia hep�tica como parte integrante da investiga��o do paciente com suspeita de hemocromatose ou de flebotomia quantitativa, nos casos em que a bi�psia hep�tica era contraindicada (IGLESIAS, DUARTE, MIRANDA, et al, 2018).

A bi�psia hep�tica � considerada o melhor m�todo para o diagn�stico de sobrecarga de ferro, pois possibilita al�m da demonstra��o histoqu�mica e/ou dosagem do aumento de ferro no tecido hep�tico, a avalia��o do grau de les�o hep�tica, quando presente. A bi�psia hep�tica � o �nico m�todo confi�vel para estabelecer ou excluir a presen�a de cirrose hep�tica que est� diretamente relacionada ao progn�stico e ao risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (IGLESIAS, DUARTE, MIRANDA, et al, 2018).

Principais muta��es relacionadas � HH

�  HH tipo 1 � muta��es relacionadas ao gene HFE: C282Y, H63D, S65C, V53M, V59M, H63H, Q127H, Q283P, P168X, E168Q, E168X e W169X (FEDER et al., 1996).

�  HH tipo 2A � muta��es relacionadas ao gene HJV ou HFE2: G320V, R326X, I222N, I281T, C80R, L101P e a dele��o de 4pb do nucleot�deo 980 (PAPANIKOLAOU et al., 2004).

�  HH tipo 2B � muta��es relacionadas ao gene HAMP: 93delG, HAMP R56X e HAMP G71D (SANTOS et al., 2009)

�  HH tipo 3 � muta��es relacionadas ao gene TFR2: Y250X, E60X, M172K, R455Q e Q690P (HOFMANN et al., 2002).

�  HH tipo 4 � muta��es relacionadas ao gene SLC40A1: N144H, A77D, V162X, D157G, Q182H, G323V, D181V, G80V e G267D (CEMONESI et al., 2005).

Preval�ncia da HH na popula��o brasileira

A preval�ncia da HH no Brasil � desconhecida, entretanto em trabalhos realizados em regi�es do sudeste do Pa�s a preval�ncia de heterozigotos para C282Y foi de 1,2-2,8% e para H63D de 31,1-32,6% (IGLESIAS, DUARTE, MIRANDA, et al, 2018).

Eritroenzimopatias

As eritroenzimopatias s�o dist�rbios do metabolismo eritrocit�rio que causam encurtamento da vida dessas c�lulas comprometendo sua forma e fun��o. S�o conhecidas por provocar hem�lise pela altera��o do metabolismo energ�tico no interior das hem�cias (RICHARDSON, O'MALLEY, 2021).

Tratamento

O tratamento da hemocromatose pode incluir a redu��o dos n�veis de ferro atrav�s da remo��o do sangue (flebotomia), terapia de quela��o do ferro, altera��es diet�ticas, e tratamento de complica��es da doen�a. O objectivo do tratamento � reduzir a quantidade de ferro no corpo para n�veis normais, prevenir ou retardar a danifica��o dos �rg�os por excesso de ferro, e manter quantidades normais de ferro durante toda a vida �til.

A flebotomia ajuda a remover o excesso de ferro do corpo. A maioria das pessoas come�a o tratamento com flebotomia terap�utica semanal, embora por vezes o tratamento seja inicialmente duas vezes por semana se os n�veis de ferro forem muito elevados. A flebotomia de manuten��o envolve normalmente tratamento a cada 2-4 meses [6] A terapia de quela��o do ferro pode ser recomendada para algumas pessoas com hemocromatose, se tiverem outros problemas de sa�de. Isto envolve a remo��o do excesso de ferro usando medicamentos .

As recomenda��es diet�ticas para pessoas com hemocromatose podem incluir evitar �lcool e carne vermelha. As pessoas com hemocromatose n�o s�o recomendadas a tomar suplementos de ferro ou vitamina C.

Import�ncia da G6PD no processo glicol�tico

Ela impede o estresse oxidativo dentro da c�lula � medida que faz a manuten��o dos n�veis de glutationa reduzida. A G6PD age sobre o substrato glicose-6-fosfato, gerando NADPH que age como cofator da glutationa-redutase na gera��o de glutationa reduzida. A glutationa reduzida detoxifica o per�xido de hidrog�nio, mantendo a c�lula protegida. Na defici�ncia desta enzima a hemoglobina pode se tornar oxidada, se desnaturar e formar corp�sculos de Heinz lesando a membrana eritrocit�ria (SILVA et al., 2006).

Principais muta��es respons�veis pela defici�ncia de G6PD

H� mais de 400 muta��es descritas. A muta��o G202A � a mais freq�ente entre os indiv�duos que apresentam defici�ncia da G6PD. Tamb�m s�o bastante investigadas as muta��es A376G e C563T, Variante Mediterr�neo (C188T), Variante A (A68G e tamb�m G202A) (RICHARDSON, O'MALLEY, 2021).

 

 

Diagn�stico molecular da defici�ncia de G6PD

A dosagem da enzima no sangue de uma pessoa portadora poder� apresentar-se normal durante uma crise hemol�tica aguda desencadeada por drogas oxidantes ou estresse, uma vez que a hem�lise estimula o aumento da produ��o de hem�cias e as hem�cias novas possuem atividade enzim�tica maior do que as mais velhas, o que pode gerar um resultado falso-negativo para a Defici�ncia de G6PD (VICK, 2021).

Normalmente o quadro cl�nico ligado � hem�lise aparece de 1 a 3 dias ap�s o contato com os fatores desencadeantes, com icter�cia, hemoglobin�ria, palidez, entre outros sintomas, com intensidade e gravidade vari�veis, em rela��o direta com a varia��o enzim�tica apresentada (VICK, 2021).

O teste gen�tico � indicado para confirmar a suspeita de defici�ncia de G6PD levantada pela Triagem Neonatal (realizado no teste do Pezinho), assim como, para avaliar a possibilidade de mulheres heterozigotas transmitirem a muta��o para filhos do sexo masculino e identificar casos de muta��o j� identificada na fam�lia (VICK, 2020).

Muta��o G202A => variante A- ou G6PD*A�

A variante G6PD A- � resultado da muta��o (G → A) na posi��o 202 do gene G6PD � a mais frequente entre os indiv�duos que apresentam defici�ncia de G6PD. Assim, a aus�ncia da muta��o estudada n�o exclui a presen�a de outras muta��es na mesma regi�o. Em pacientes com a variante A-, a meia-vida da enzima � reduzida de 60 para cerca de 13 dias, levando a n�veis de atividade insuficientes para prote��o das hem�cias em 50 a 60 dias depois da libera��o destas para a circula��o perif�rica. Esta variante � respons�vel pelas formas mais brandas da G6PD, uma vez que apenas hem�cias com mais de 50 a 60 dias s�o hemolisadas durante crises oxidativas, poupando as mais novas (RICHARDSON, O'MALLEY, 2021).

Muta��o A376G => variante A+ ou G6PD*A+

A variante G6PD A+ � resultado da muta��o (A → G) na posi��o 376 do gene G6PD. Pacientes que apresentam apenas esta muta��o tem a enzima G6PD com atividade funcional normal, sendo esta considerada apenas uma varia��o da normalidade. Por�m, a presen�a desta muta��o, associada � muta��o G202A resulta na forma cl�nica G6PD*A- (JAmWAL, et al, 2020).

 

 

Muta��o C563T => variante B- ou G6PD*Mediterr�neo

A variante B- ou alelo G6PD*Mediterr�neo � decorrente da muta��o (C → T) na posi��o 573 do gene G6PD. Este alelo � um dos tipos polim�rficos mais graves da defici�ncia, sendo encontrado em uma ampla �rea geogr�fica, abrangendo muitos grupos �tnicos. Em pacientes com a variante mediterr�nea, a atividade da G6PD � reduzida desde a forma��o das hem�cias, levando a n�veis insuficientes para a prote��o contra oxida��o em 5 a 10 dias. Desta forma, durante as crises hemol�ticas, tanto as hem�cias mais novas quanto as mais velhas s�o afetadas, levando a um quadro mais grave (JAmWAL, et al, 2020).

Rela��o do ferro com a neurodegenera��o

O acumular de ferro pode causar danos neuronais a regi�es cerebrais sens�veis ao ferro. A neurodegenera��o com ac�mulo de ferro no c�rebro reflete um grupo de dist�rbios causados pela sobrecarga de ferro nos g�nglios basais. N�veis elevados de ferro e desencadeadores patog�nicos relacionados ao ferro tamb�m t�m sido implicados em doen�as neurodegenerativas espor�dicas, incluindo a doen�a de Alzheimer (AD), doen�a de Parkinson (PD) e atrofia do sistema m�ltiplo (MSA). A dishomeostase induzida pelo ferro dentro de regi�es cerebrais vulner�veis ainda � insuficientemente compreendida. Aqui, resumimos os modos de a��o pelos quais o ferro pode atuar como gatilho prim�rio ou secund�rio de doen�as em dist�rbios neurodegenerativos. Al�m disso, as op��es de tratamento dispon�veis visando a desregula��o do ferro no c�rebro e o uso do ferro como biomarcador em est�gios pr�digos s�o discutidas criticamente para abordar a quest�o da causa ou consequ�ncia.

O ferro tem uma rela��o muito importante com a patog�nese dos mecanismos da neurodegenera��o. A� sua absor��o d�-se no duodeno,preferencialmente a partir do ferro reduzido. A quantidade de ferro absorvida � regulada de acordo com as necessidades do organismo. O aumento do ferro cerebral com a idade ocorre em concentra��es diferentes conforme a regi�o do sistema nervoso central (SNC). Uma exemplo claro de neurodegenera��o pode basear-se nas principais altera��es neuropatol�gicas, ou seja, quando est�o presentes� componentes prot�icos anormais que se acumulam no c�rebro, levando � perda neuronal, dependentes da idade.

 

 

 

CONCLUS�O

O ferro � um metal fundamental para a homeostase do organismo; por�m, quando em excesso, passa a desencadear rea��es adversas e perigosas.

Como podemos observar ao longo do artigo, o aumento de minerais, metab�litos ou medicamentos pode causar danos as vezes irrevers�veis no corpo. A hemocromatose heredit�ria, desordem tratada em artigo,� faz com que o corpo absorva demasiado ferro da dieta. O excesso de ferro � armazenado nos tecidos e �rg�os do corpo, particularmente na pele, cora��o, f�gado, p�ncreas, e articula��es. Como os seres humanos n�o podem aumentar a excre��o de ferro, o excesso de ferro pode sobrecarregar e eventualmente danificar tecidos e �rg�os.

No que diz respeito � neurodegenera��o, esta pode estar associada numa �ltima instancia a um desequil�brio entre a forma��o de radicais livres e as enzimas que defendem o organismo dos seus danos leva � oxida��o de elementos celulares que s�o fundamentais para um funcionamento normal, levando a altera��es na conforma��o de prote�nas e aumento de sua agregabilidade, � forma��o de fibrilas.

REFER�NCIAS

IGLESIAS, Cassia P. K.; DUARTE, Paulo Vinicios F.; MIRANDA, Jacqueline S. S. M et al. Hemocromatose: Uma Causa Revers�vel de Insufici�ncia Card�aca. International Journal of Cardiovascular Sciences. Vol 31. 3 ed; 308-311, 2018.

JAmWAL, M.; et al. Laboratory Approach to Hemolytic Anemia. Indian J Pediatr. 87. 1; 66-74, 2020

Ndayisaba A, Kaindlstorfer C, Wenning GK. Iron in Neurodegeneration - Cause or Consequence? Front Neurosci. 2019 Mar 1;13:180. doi: 10.3389/fnins.2019.00180. PMID: 30881284; PMCID: PMC6405645.

Richardson, S. R.; O'malley, G. F. In: Statpearls [Internet]. Treasure Island (Fl): Statpearls Publishing. Glucose 6 Phosphate Dehydrogenase Deficiency.. 2021. Dispon�vel em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470315/>. Acesso em 13 Out 2021.

Sociedade Brasileira De Hepatologia. Hemocromatose heredit�ria: muito al�m do hfe. Dispon�vel em: <https://sbhepatologia.org.br/fasciculos/26.pdf>. Acesso em 10 Fev 2021.

VICK, Dan J. Evaluation of glucose-6-phosphate dehydrogenase (G6PD) status in US military and VA patients with COVID-19 infection. BMJ Mil Health. 167. 2; 144, 2021.

VICK, D. J . Glucose-6-Phosphate Dehydrogenase Deficiency and COVID-19 Infection. Mayo Clin Proc. 95. 8; 1803-1804, 2020.



[1] Biom�dica Auditora Interna NBR ISO 9001:2015 e NBR ISO/IEC 17025:2017

� Docente e tutora de cursos de gradua��o e p�s-gradua��o EAD e presencial. Doze anos de experi�ncia como plantonista em todos os setores do laborat�rio de an�lises cl�nicas. Respons�vel t�cnica do setor de Microbiologia e Controle de Qualidade. Implanta��o de novas metodologias, valida��o, cria��o de POPs e treinamento de equipes. Garantia da qualidade na ind�stria aliment�cia e farmac�utica. mestre em ci�ncias m�dicas e p�s-graduada em biologia molecular, doc�ncia e acredita��o hospitalar.

 

[2] Prof. Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues � PhD, neurocientista, mestre em psicologia, bi�logo, historiador, antrop�logo, com forma��es tamb�m em neuropsicologia, neurolingu�stica, intelig�ncia artificial, neuroci�ncia aplicada � aprendizagem, filosofia, jornalismo, programa��o em python e forma��o profissional em nutri��o cl�nica - Diretor do Centro de Pesquisas e An�lises Her�clito; Chefe do Departamento de Ci�ncias e Tecnologia da Logos University International, Professor e investigador na Universidad Santander de M�xico; Membro da SFN - Society for Neuroscience, Membro ativo Redilat.

� Estudo com apoio do Centro de Pesquisas e An�lises Her�clito, Logos University International e Universidad Santander.