O dia dele. O silêncio. Qual seria o poder que emana dos diversos sentidos do silêncio para quem o experimentou? Desvende-se
Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
PhD
em Neurociências , Mestre em Psicologia
e Biólogo
Cibele Torres de Oliveira
Psicóloga
Angelica de Sousa
Psicóloga
Adriana Soares Lopes
Psicóloga
Roselene
Espírito Santo Wagner
Psicóloga
Centro
de Pesquisas e Análises Heráclito CPAH
RESUMO
O silêncio e seu
potencial para uma homeostase, que proporciona bem-estar e saúde têm
sido objeto de estudo de várias áreas que englobam as ciências da saúde e
sociais. Neurociência, Antropologia,
Psicologia, Psicanálise. Estes
campos de estudo nortearam o presente artigo, realizado através de uma revisão bibliográfica abrangente. O silêncio perpassa por diversos
sentidos, entre os quais: omissão,
opressão,
sabedoria, neutralidade, esvaziamento ou ainda, um encontro consigo mesmo.
Quando há um encontro, pode-se extrair de si informações valiosas. Uma
constante busca por equilíbrio, que carrega consigo a capacidade do sujeito de
ser protagonista da sua saúde, em seus diversos vieses: física, mental e
espiritualmente.
Palavras-Chave: silêncio; saúde;
tratamento
His day. The silence. What would be
the power that emanates from the different senses of silence for those who have
experienced it? Unravel
ABSTRACT
Silence
and its potential for homeostasis, which provides well-being and health, have
been the object of study of several areas that encompass the health and social
sciences. Neuroscience, Anthropology, Psychology, Psychoanalysis. These fields
of study guided the present article, carried out through a comprehensive
bibliographical review. Silence goes through several meanings, among which:
omission, oppression, wisdom, neutrality, emptiness or even an encounter with
oneself. When there is an encounter, valuable information can be extracted from
oneself. A constant search for balance, which carries with it the ability of
the subject to be the protagonist of his health in its various aspects: physically,
mentally and spiritually.
Keywords: silence; health; treatment
Artículo
recibido: 20 marzo 2022
Aceptado
para publicación: 15 abril 2022
Correspondencia: deabreu.fabiano@gmail.com
Conflictos
de Interés: Ninguna que declarar
INTRODUÇÃO
As pessoas querem
falar. Muitas querem tagarelar. A maioria quer ser ouvida, compreendida em suas
vitórias, dores, angústias, feridas. Ficam tentando controlar tudo, numa vã
tentativa de achar, assim, de repente, um sentido para suas vidas. Sem saberem
que provavelmente, a paz que sempre quiseram talvez esteja no silêncio que não
conhecem, nunca experimentaram, nunca fizeram.
O que é possível
ouvir e apreender através do silêncio? O que a neurociência, a antropologia, a psicologia e a psicanálise revelam-nos sobre os benefícios curativos do vazio
das palavras, do vazio dos pensamentos? Do alívio de esvaziar-se de um som
escandaloso de uma mente hiperativa, agitada? Do poder de um sono reparador, de
interromper por alguns instantes uma rotina cansativa, ao silenciar uma boca
cheia de palavras?
Porque
tantos têm medo de ouvir, no
silêncio, um tom ensurdecedor e simplesmente não conseguem lidar com ele? Ver o que o silêncio pode proporcionar? Que medo é esse
do silêncio? Será que Ele, ao
Imperar, pode revelar uma característica inconsciente? Uma característica que
você não quer saber?
E diante do silêncio,
interrompem-no, como quem tivesse receio de ficar perplexo ou sem palavras.
Parafraseando Freud, esconder-se é um privilégio, mas não ser encontrado é uma
catástrofe.
Como podemos nos
comunicar e nos beneficiar através do silêncio? Porque os autistas e os
artistas, na contramão, muitas vezes preferem o silêncio ao barulho, que lhes
incomodam demasiadamente?
Eles certamente têm
outra forma de perceber o mundo. As respostas para todas essas indagações são
objeto de pesquisa do presente artigo. Embasadas técnica e cientificamente,
através de revisão bibliográfica,
feita de forma atenta e concentrada, mas nem sempre silenciosamente.
Apresentar-se-á informações
surpreendentes, que irão ajudar o leitor a dominar a sua mente, antes que suas
emoções o façam perecer, como Narciso, ao olhar uma imagem vazia de
significado.
Essa jornada rumo ao
silêncio começa com uma simples indagação: O que seria o silêncio?
Recorreu-se ao
dicionário e as seguintes respostas foram enunciadas: estado de quem se cala ou
se abstém de fala. Privação,
voluntária
ou não, de falar, publicar, escrever, pronunciar quaisquer palavras ou sons, incluindo
privação de manifestar os próprios pensamentos.
Portanto, pela própria definição,
pode-se inferir que o silêncio
não é
simplesmente o oposto de uma evidência sonora, mas um estado profundo que é
inerente ao esvaziar-se, incluindo o próprio pensamento.
O NÃO-DITO EMBASADO
PELA PSICANÁISE, GESTALT
E ANTROPOLOGIA
Barthes (2003) deixa
implícito que o sujeito deseja o neutro, logo, postularia esse neutro. O autor
pressupõe que o sujeito, a princípio, teria uma tendência a negar o neutro.
Este, sob sua ótica, diria sobre a suspensão de qualquer paradigma, (qualquer
imposição arrogante de sentido, ainda que atrelada a uma edificação subjetiva).
O neutro seria, em primeira instância, o desejo, porém não
se exclui a presença de um sujeito. Conclui-se que um sujeito, sempre desejante
do neutro, poderia ao não o alcançar.
Pollac (1989)
disserta sobre memória, esquecimento e silêncio, elucidando sobre a expressão
“memórias
subterrâneas”, ao analisar a marginalização das minorias, a exclusão
de culturas minoritárias e dominadas. O que certamente não foi sem
conseqüências para a formação de memórias individuais e coletivas destes povos
colonizados e oprimidos. Faz-nos ainda refletir sobre como o que é relatado na
história (memória nacional) contrapõe-se ao real, que seria, pois, a “memória subterrânea”.
Enterrar o
sofrimento, em níveis coletivos ou individuais (traumas), não o faz desaparecer
da história. O autor reflete ainda, sobre sobreviventes do campo de
concentração e sobre a história da minoria judia:
A significação do silêncio sobre o
passado, não remete forçosamente à oposição entre Estado dominador e sociedade civil. Encontramos
com mais freqüência esse problema nas relações entre grupos minoritários e
sociedade englobante. O exemplo
seguinte, completamente diferente, é o dos sobreviventes dos campos de
concentração que, após serem libertados, retornaram à Alemanha ou à Áustria.
Seu silêncio sobre o passado está ligado em primeiro lugar à necessidade de
encontrar um modus vivendi com aqueles que, de perto ou de longe, ao menos sob
a forma de consentimento tácito, assistiram à sua deportação. Não
provocar o sentimento de culpa da maioria torna-se então um reflexo de proteção
da minoria judia. Contudo, essa atitude é ainda reforçada pelo sentimento de
culpa que as próprias vítimas podem ter, oculto no fundo de si mesmas. (POLLAC, 1989)
Interessante observar
que a análise antropológica feita por Pollac (1989), permite uma reflexão
aprofundada sobre o silêncio, que pode significar uma proteção consciente ou
inconsciente, diante de um comportamento opressor dominante; perpassando também
sobre um sentimento de culpa que vítimas de opressão e preconceitos podem carregar, um sentimento oculto.
O oculto, o não dito,
como é de conhecimento entre os psicanalistas, diz sobre questões
inconscientes, que geralmente se referem a desejos ou traumas reprimidos.
Seria a culpa inconsciente, que resulta em um silêncio angustiante, o resultado de uma manipulação
individual ou em massa diante de uma relação de poder implícita?
Seria, sob outro
ponto de vista, a culpa da vítima resultante de um silêncio (grifo nosso) de quem, no fundo, queria falar ou
acreditava que era preciso se posicionar, ainda que isso a colocasse em uma
situação de vulnerabilidade ou risco? Será que a vítima, inconscientemente,
significa o seu silêncio como “covardia”?
Independentemente dos
questionamentos ou respostas possíveis, uma via de acesso deve se tornar
prioridade: a ressignificação das memórias, dos traumas e dos sofrimentos, de
modo que, um silêncio autodestrutivo ou autossabotador seja interrompido para
bem-estar.
O autor (1989)
discorre sobre “uma zona de sombra”, que existe na lembrança como “silêncios,
não ditos” (p.08). Em continuidade, o autor não poderia deixar de mencionar a
angústia como resultante da falta de lugar para a escuta e ressalta o poder do
discurso interior. Um discurso que perpassa pelo “compromisso com o não dito”
(p.6), no que tange ao que o sujeito confessa ou não a si mesmo e ao exterior.
O autor cita minorias
como homossexuais e profissionais do sexo, exemplificando-os como vítimas de uma forma de classificação
social ou à condição de "sub-homens". Todo esse
sofrimento necessitaria de uma ancoragem de uma memória mais geral, a da
humanidade, uma memória que não encontraria um porta-voz ou
enquadramento adequado.
O
estudo acima data de 1989 e considera-se que em pouco mais de três décadas obteve-se avanços no que tange à
luta pela voz dos oprimidos, que, sendo estes, porta-vozes de sua própria
história, ocupam, hoje, espaços sociais antes impensáveis, em um movimento de
autovalorização e
ressignificação.
Sem enquadramento. Vozes que às vezes ecoam tão alto quanto o sofrimento. Vozes
barulhentas, impositivas, causando perplexidade e propagando discurso de ódio.
Usando de extremismos, que deixam claro que preferiam manter oculto tudo o que
não pertence ao seu seleto mundo, tão pequeno, superficial,
cruel, inflexível. Extremistas ensurdecidos com vozes barulhentas que
ameaçam o poder que lhes sempre pertenceu, estruturado histórica e culturalmente.
Sem
hipocrisia, faz-se necessário assumir que ainda enfrentamos preconceito no que
tange às minorias e aos oprimidos, fruto de uma sociedade nada empática, e em
termos freudianos, uma sociedade perversa.
Além do que fora exposto acima, não se pode esquecer que há
algo da ordem do indizível, que a linguagem não consegue exprimir. A
Psicanálise nos aponta a arte como possibilidade.
Propõe-se, no presente artigo, algo ainda mais profundo e
subjetivo. O tratamento para a angústia não encontraria espaço na arte
de se esvaziar-se em silêncio? (expressão e grifo nosso),
sem precisar dizer sequer uma palavra?
O barulho às vezes é
necessário para que se consiga ser visto ou compreendido, já que pela via da
diplomacia, a justiça social não conseguiu ser atingida. Então, o grito poderia
ser entendido como uma alternativa menos danosa que a força física
para quem não quer aceitar o diferente. Outrossim, a sociedade teria que
respeitar a recente força do oprimido ou então engolir "goela abaixo". Este barulho, provavelmente necessário, antecederia ao
silêncio, reparador?
Esvaziar-se do que já
se foi, para construir-se silenciosamente, no momento presente?
Ainda em relação ao
sofrimento X silêncio, far-se-á um paralelo sobre as funções ou os sentidos do
silêncio numa sessão de análise, bem como ele é sentido, pelo analisante.
Nasio (2020) e
colaboradores pontuam que o silêncio está sempre presente numa sessão de
análise, sendo seus efeitos tão decisivos quanto os de uma palavra pronunciada.
O autor enumera silêncios, destacando-os: silêncio do paciente ou do analista;
silêncio crônico ou efêmero;
silêncio de resistência ou de
abertura do inconsciente.
O autor pondera que
dentre todas as manifestações humanas, o silêncio continua sendo aquela que, de
maneira muito pura, melhor exprime a estrutura densa e compacta, sem ruído nem
palavra, de nosso inconsciente próprio.
O fato de o
inconsciente ser estruturado através de uma linguagem, não significa, em
absoluto, a necessidade de vocábulos, ainda conforme o autor e colaboradores.
Propõe-se, portanto, que a estruturação do inconsciente pode
ser feita através de qualquer linguagem, sendo o silêncio uma delas. O silêncio
de uma tomada de consciência, de um saber indizível, de uma ressignificação, ou
ainda, uma desistência. Tentar-se-á escrever de uma forma pedagógica, para
melhor compreensão dos leitores.
Diante de uma
situação real, inesperada, surpreendente; positiva ou negativamente, o sujeito
poderá exprimir sua reação através de um silêncio de perplexidade. Um silêncio
onde não cabe pensamento. Um silêncio de pausa diante do inimaginável.
Quando, em uma sessão
de análise, o sujeito compreende uma situação sob novo olhar, ou seja,
ressignifica essa situação, relacionada a um evento subjetivo, pode compreender
melhor a si próprio. Provavelmente, mais maduro, pronto para deixar o
inconsciente à mostra, pode-se apresentar um silêncio terapêutico. E o sujeito,
finalmente liberto do sintoma, não
precisa de expressão, nem da fala,
nem do corpo, nem da mente, que também falam e por vezes mentem.
O silêncio do
analista propõe o protagonismo do sujeito em seu processo terapêutico,
geralmente representando um corte a uma fala importante sobre seu sintoma. Um
silêncio que respeita o tempo do sujeito, que propõe a análise de seu discurso,
sem, todavia, forçá-lo ou induzi-lo a quaisquer ações, respostas. Afinal, para
a psicanálise, o tempo é lógico e não cronológico. Há uma ética, sem falsos moralismos, no que tange ao
desejo do sujeito.
O silêncio pode ou
não proporcionar um movimento ao sujeito. Permitir com que ele saia desse lugar
de sofrimento. Um movimento que propõe ao sujeito uma re (ação), convidando-lhe
a fazer algo diante Disso (agora conhecido por ele), que se refere aos seus medos
e desejos, mesmo que socialmente sejam encarados como sombrios ou obscuros. E
nessa tomada de decisão, sem necessidade de aprovação, a culpa cede seu lugar à
responsabilização, o que é
liberta (dor). É disso que se trata
o silêncio numa sessão analítica.
O silêncio da
resistência, seja em uma sessão de análise ou na vida, geralmente relaciona-se
sobre um sintoma recalcado, sofrido, o receio de um olhar do outro, julgador,
malicioso, mal compreendido. Um olhar que impede a visão, o autoconhecimento, o
reconhecimento ou a autoaceitação.
O silêncio de uma
desistência pode ser visto em muitos lares, quando alguém desiste realmente de
uma relação. Quando não
há mais desejo de lutar, quando o
amor acabou, quando não
há mais o que falar. Nesses
contextos, o silêncio também representa o fim. E possivelmente o fim de um
sintoma, de um sofrimento. O silêncio como terapia, ao ofertar uma pausa; para
recomeçar, em um novo momento, um novo ciclo.
A Psicologia também
aborda o viés terapêutico do silêncio, citado, no presente estudo, através da
abordagem conhecida como Gestalt terapia, cuja criação remete a Perls; Lore ( 2001).
Conforme os autores
citados, a psicoterapia, à luz da abordagem gestáltica, buscará
processos que transportam o Ser à aproximação com conteúdos
psíquicos, por meio de sentidos como cores, cheiros, sons, sabores; levando-o a
conhecer-se, em sua dimensão total, como pessoa.
A abordagem
gestáltica traz como possibilidade a experiência do silêncio como awareness
(tomada de consciência). Essa experiência pode trazer à luz desejos ou medos
que não se conseguiu expressar vocalmente. O evocativo “o que”,
uma das formas de interação nessa abordagem terapêutica, conduziria à real descrição dos fenômenos e de seus significados.
Já o
enunciado “por que”
poder-se-ia desencadear uma série de respostas “autocausadoras”, não
resultando em conhecimentos que possam auxiliar no entendimento da estrutura do
evento (Polster e Polster, 2001; Cardella, 2002).
O terapeuta
convidaria o cliente a experenciar-se, trazendo notícias de seus processos
corporais, tornando-se, então, presente, de forma espontânea.
Para a Gestalt
terapia o corpo em silêncio é um corpo que fala de inúmeras formas, cabendo ao
psicoterapeuta, embasado tecnicamente, compreender o diálogo trazido pelo
corpo, transmitindo, ao ouvinte, a essência desse diálogo. (Hall e Lindzey,
1984, Ribeiro, 1985)
Dessa forma, pode-se
compreender que cabe ao cliente, no processo terapêutico, buscar compreender e
interpretar o seu silêncio, refletindo, em quais momentos, o silêncio das
palavras e a voz que emana dos órgãos
dos sentidos é de fato terapêutico.
O SILÊNCIO
EM SUAS ESTRUTURAS E FUNÇÕES NEUROBIOLÓGICAS
As
informações a serem descritas constam no site stringfixer (sendo apurada sua
confiabilidade, obtendo resultados positivos; 70%), porém o autor do site não
divulgou seu nome, nem data da publicação do artigo.
A
escolha do site para abordar o tema rede de modo padrão, recentemente divulgado
na neurociência (2001), se deu pela amplitude e variedade de informações sobre
o tema e pela escassez de estudos sobre a temática, sobretudo na língua
portuguesa. A relevância do assunto se dá pela sua relação com a atividade
cerebral e o silêncio.
Conforme informações adquiridas na
neurociência, a rede de modo padrão (DMN) ou rede frontoparietal,
anatomicamente medial, é uma rede cerebral em grande escala, composta, entre
outras estruturas, pelo córtex pré frontal medial, córtex cingulado posterior e
giro cingular.
É
mais conhecido por estar ativo quando uma pessoa não está focada no mundo
exterior ou o cérebro estando em repouso durante a vigília, como em sonhos
acordados ou divagações da mente. A DMN também estaria ativa quando o indivíduo
está pensando em terceiros, em si mesmo, no passado ou no
futuro.
Conhecimentos advindos da década de 70
propõem que o fluxo sanguíneo na parte frontal do cérebro tende a ser maior com
a pessoa em repouso.
Na década de 1990, com o advento da
tomografia por emissão de pósitrons (PET), o site afirma que pesquisadores
começaram a avaliar que quando uma pessoa está envolvida em tarefas de
percepção, linguagem e atenção, as mesmas áreas cerebrais
tornam-se menos ativas em comparação com o repouso passivo. Considerando-as
como áreas em desativação. (grifo nosso).
O artigo discorre sobre funções relacionadas
ao modo de rede padrão:
Memórias de si e dos outros, teoria da mente,
emoções, avaliação e isolamento social, bem como evocação da memória,
planejamento do futuro, compreensão de uma narrativa e memória episódica.
Clinicamente,
a constante ativação da rede de modo padrão é observada em pacientes com
Alzheimer, Transtorno do Espectro Autista, Transtorno depressivo maior, esquizofrenia, entre outros.
Estes transtornos têm em comum um mal
funcionamento das funções atencionais e executivas, que afetam negativamente a
memória, bem como podem apresentar, como comorbidades, ansiedade, pensamento
acelerado, alterações metabólicas e no humor. E dificulta, portanto, o
silenciar, o prestar atenção de forma a focar, produzir, criar...
Propõe-se no presente artigo, uma alternância
do funcionamento cerebral para a rede de modo padrão diminuída, o que demanda,
inicialmente, certo esforço para romper com comportamentos padronizados e
repetitivos. Vigiar o próprio comportamento e as emoções, evitando devaneios,
sem propósito, da mente, seja evocando demasiadamente lembranças ou planejando
sem estratégias eficazes, um futuro que nem se sabe se virá. Há um velho ditado
que diz: “ou você controla seus pensamentos ou eles te controlam”. O estresse
contínuo aumenta a produção do hormônio cortisol, que em excesso, nos mantém
sempre vigilantes, cansados e insones (Rodrigues,2022).
Então, para silenciar, parece que focar é o
remédio. O foco direcionado pode impedir que uma cascata de neurotransmissores
seja gerada, desencadeando, no cérebro, uma onda de emoções em pânico.
CONCLUSÃO
Não se pode mais falar em silêncio. A
expressão mais abrangente seria “os sentidos do silêncio”. Os silêncios de
submissão e/ou opressão não são benéficos, colocando indivíduos na posição de
quem não pode desejar. Ou não podem se expressar, serem quem são, revelar. Este
tipo de silêncio deve ser ouvido pelo terapeuta, analista ou observador de
forma atenta. Pois, através da redução da rede de modo padrão, parece que se
encontra uma via de acesso para um silêncio realmente capaz de propiciar saúde
mental, física e espiritual.
Não se deixe enganar pelos devaneios e
divagações da mente, pois ela nem sempre é leal, ela mente. E quando não mente,
carrega um inconsciente, danado. Que despista, mas ao mesmo tempo, dá a pista.
Parece um jogo? Porque não? É você contra sua
inclinação para os excessos, para suas frágeis pulsões.
Parece
mais claro agora o poder da meditação, da respiração profunda, de um mantra ou
uma técnica usada para mantermos a atenção focada.
Degenere-se ou desvende-se, só depende de
você. Aquiete, preste atenção na inspiração e na expiração. Pare. Descanse.
Durma. Acredite no seu potencial e que você merece o melhor. Pois, caso
contrário, continuará a paralisar, divagar sem rumo, a se autossabotar.
Buscando, em vão, por respostas que nunca virão pela via de acesso mais comum:
a linguagem.
Talvez, não haja segredos, apenas mistérios
para serem revelados. Desapegue, sossegue. Sinta, cheire, beba, coma, respira e
não se apresse. Com moderação. Tire proveito do velho ditado popular: devagar e
sempre. Mais importante que a velocidade é saber a direção.
Use a técnica do ho'oponopono, uma técnica
havaiana antiga para se esvaziar. Silenciar. Não custa tentar. É só dizer com o
coração as seguintes narrativas: Sinto muito; me perdoe; te amo; sou grato. E
você escolhe o que vai dizer em cada narrativa, se libertando de mágoas, do
passado e da ansiedade do futuro.
Meditar também é silenciar. É focar a atenção
naquilo que não é habitual, não sendo centrado em si e nem nos outros. Apenas
focar no canto de um pássaro, numa suave melodia que transmita paz, na própria
respiração ou nas batidas do coração.
Mas, para saber, verdadeiramente, os
benefícios do silenciar, não adianta apenas ler esse artigo. É necessário
render-se, desvendar-se, conhecer-se. Através da prática de um silenciar
profundo e restaura (dor).
Ficar em torno de si mesmo como Narciso,
personagem mitológico, pensar demasiadamente sobre quaisquer coisas ou ainda
pré (ocupar-se) mais do que deveria com o olhar do outro, com a vida alheia,
com a cor da grama do vizinho, pode ser devastador. Ocupar-se do próprio
silêncio, cria uma via de acesso há um
reduto mais profundo, que é aquele onde se forma a intenção. Descobrimos o
nascedouro das nossas intenções, ouvindo o eco interno do que queremos ser e
daquilo que verdadeiramente somos. É nesse espaço que reverbera os sons
internos e no silêncio traduzimos o que
era ideia em ação e evolução no ciclo vital.
REFERÊNCIAS
BARTHES, R. O neutro. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Cardella, B.H.P. A construção do psicoterapeuta –
uma abordagem gestáltica. São Paulo: Summus. (2002).
HALL, C. S., e
Lindzey, G. Teorias da personalidade (Vol 2). M. C. M. Kupfer. Trad e revisão ). São Paulo: EPU.(1984).
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Audouard, Françoise
Dolto, Robert Fliess, Antoine Franzini, Jacques Hassoun, Sophie Morgenstern,
Jacqueline Moulin, J.-D. Nasio, Christian Oddoux, Sylvie le Poulichet, Theodor
Reik, Monique Schneider, Marie-Claude Thomas, François-Daniel Villa, Liliane Zolty. Ed.
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OXFORDLANGRAGES: Dicionário de português da Google.
Recurso Eletrônico. Disponível em: < https://www.google.com.br/search?q= Definição
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Acesso em: 30 abr.2022.
Polster, E. &Polster, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus (2001)
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RODRIGUES, F.A.A et all. (2022). A aplicação da alteração
de estado emocional na performance esportiva. Revista Científica Cognitionis. (DOI): 10.38087/2595.8801.127