DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v6i3.2401
A perspectiva de um teólogo e de um neurocientista em relação a fé
Palavras-chave: teologia; oração; ateu; religião
Correspondencia: deabreu.fabiano@gmail.com
Artículo recibido: 02 mayo 2022. Aceptado para publicación: 25 mayo 2022.
Conflictos de Interés: Ninguna que declarar
Todo el contenido de Ciencia Latina Revista Científica Multidisciplinar, publicados en este sitio están disponibles bajo Licencia Creative Commons .
Como citar: Agrela Rodrigues, F. A. (2022). S A perspectiva de um teólogo e de um neurocientista em relação a fé. Ciencia Latina Revista Científica Multidisciplinar, 6(3), 2525-2531. DOI: https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v6i3.2401
A theologian's and a neuroscientist's perspective on faith
According to the World Health Organization, the power of faith has been studied since the 1980s in the country and studies claim that faith influences mental, physical and biological health. However, everything that is divine, when discussed, is limited by the language itself, which only reflects allusions of what is imagined and found in the mythical and the religious. Therefore, the aim of this study was to understand the influence of faith on religious individuals and on those considered atheists, in relation to brain neurological functions. The research was carried out from a literature survey on the SciELO, PubMed, Science Direct and PsycINFO electronic journals portal. Thus, it is a fact that religion can be a life-preserving factor, helping the individual to treat a pathology such as depression or anxiety, and even preventing suicide.
Keywords: theology; prayer; atheist; religion
1. INTRODUÇÃO
Tudo que é divino, quando colocado em discussão, acaba sendo limitado pela própria linguagem que reflete apenas alusões daquilo que se imagina e se encontra no mítico e no religioso (DORMAN, 2019). O teólogo Karl Rahner acreditava que a Teologia era uma palavra sobre Deus, afinal, na teologia estuda-se diversas religiões como: espiritismo, judaísmo, budismo, cristianismo. Assim, foram unidos blocos de crenças distintas, do pensamento religioso (MUHREL, 2003). Fato é que a teologia possui há séculos, produções acadêmicas e religiosas a frente de qualquer outra sistematização de conhecimento existente e sem ela, não teríamos muitas das áreas do conhecimento humano que possuímos hoje. Basta lembrar da biblioteca de Alexandria (DORMAN, 2019).
Leve-se em consideração que foi graças a mitologia grega, que nasceu a necessidade de explicar as causas do universo desassociadas das batalhas entre deuses e Titãs, que temos a filosofia que é considerada pelo meio acadêmico como a mãe de todas as ciências (KARAKIS, 2019). Ora, se a filosofia é a mãe de todas as ciências ela não seria filha do pensamento mitológico?
O padre Tomás de Aquino faz uma referência a filosofia aristotélica mostrando Deus como o motor que move todo o universo. Apesar disso, a cabala afirma que Deus se ocultou com o fim de que o homem o encontrasse. Também deve-se levar em conta que as primeiras universidades, escolas e academias nasceram dentro do seio da igreja cristã. Os padres eram cultos e versados em letras enquanto a população era em sua maioria composta por analfabetos e foi assim que cursos como teologia, filosofia e direito nasceram (CHARLIER, 2017). Então a religião e a própria teologia não teriam um impacto mais do que significativo para o nascimento da educação? Com certeza que sim.
O nascimento da psicanálise com Sigmund Freud, teve a contribuição significativa da religião e da mitologia pois o seu criador era estudante assíduo de tais áreas do saber além de ser filho de judeus ortodoxo (KRAEPELIN, 2009). Freud se gabava de falar o hebraico melhor do que o alemão além de se declarar um filósofo com a criação da psicanálise. Em sua criação usa termos como: complexo de Édipo e o complexo de Electra. Ou seja, mesmo em sua linha de raciocínio não despreza a terminologia mitológica, porém a utiliza fazendo com que jamais seja esquecido o mítico, religioso e o sagrado (KRAEPELIN, 2009).
Seu discípulo Carl Jung que criou a teoria do inconsciente coletivo acreditava em Deus e era filho de pais protestantes. Essa teoria mostra que se herdamos fatores genéticos podemos herdar memórias. Ele disse que a religião e terapêutica são necessárias para a saúde mental humana. Sendo assim a ideia de Deus e a fé, não só é necessária, mas também está na construção psicológica humana (KRAEPELIN, 2009).
2. OBJETIVO
§ Compreender a influência da fé em indivíduos religiosos e naqueles considerados ateus, em relação as funções neurológicas cerebrais.
3. METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada a partir de um levantamento bibliográfico da literatura no portal de periódicos eletrônicos da SciELO, PubMed e Science Direct, PsycINFO. Sendo utilizado os seguintes termos para realização da busca de dados em português: religião, fé, teologia, neurociência e em inglês: religion, faith, theology, neuroscience.
3.1. Influência da fé na saúde mental
A Organização Mundial da Saúde, é estudado o poder da fé desde os anos 80 no país, afirmando que a fé influência na saúde mental, física e biológica. Segundo o cientista Andrew Newberg, docente na Universidade da Pensilvânia nos Estados Unidos, em seu livro “Como Deus muda o seu cérebro” afirma que quanto mais pensamos em Deus, mais intensamente serão as alterações dos circuitos neurais (NEWBERG, 2009).
Em estudo realizado na Suíça com pacientes esquizofrênicos, após três anos do diagnóstico, demonstrou que os indivíduos, consideravam a prática religiosa como um recurso para suas condições de vidas. Foi observado pelos pesquisadores a habilidade de tais participantes em conseguir regular seus sentimentos ruins e melhora do convívio social, ao contrário do que era visto anteriormente desses indivíduos realizarem práticas religiosas (PARGAMENT, 2013).
Corroborando ao estudo anterior, Almeida et. al. 2014 avaliou um paciente com transtornos mentais, que demonstrou que após seu envolvimento com as práticas religiosas houve uma diminuição de seus delírios e alucinações e nos momentos em que aconteciam o paciente acreditava se tratar das alucinações com cunho religioso. Porém, o estudo concluiu que é necessário, um estudo com uma população maior para que seja esclarecido se realmente há uma influência de cunho religioso nas alucinações de tais indivíduos.
3.2. Neurociência o conceito de fé e as funções cerebrais relacionadas
Newberg et. al. 2015 avaliou uma série de casos para avaliar a atividade cerebral durante a oração islâmica, por meio de tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT) em 3 voluntários enquanto oravam. Foi detectada uma diminuição na atividade nos lobos frontal e parietal. O lobo frontal é responsável por diversas funções, sendo associado ao comportamento intencional e a movimentos corporais, já o lobo parietal é responsável pelo recebimento de informações sensoriais afim de estabelecer um senso de identidade e na maneira em que nos relacionamos com o mundo.
Outros relatos de casos, desenvolvido por Doufesh e colaboradores (2012), com nove muçulmanos, sendo três mulheres e seis homens, avaliou a diferença da densidade espectral de energia (Power SpectralDensity- PSD) da frequência Alfa durante a performance da Dhuha que é uma oração voluntária para os muçulmanos, frente a oração Salá que é obrigatória. O propósito da primeira, é a de expressar gratidão para um novo dia, bem como à boa sorte.
As análises foram realizas em três momentos: 1) sentado em uma cadeira em repouso e com os olhos abertos por 1 minuto, 2) realizando quatro ciclos da oração Dhuha e 3) realizando quatro ciclos dos movimentos da oração sem recitar os versos do Alcorão correspondentes. As orações possuem algumas posições distintas. Com este estudo foi observado um significativo aumento no espectro de sinal Alfa durante a posição prostrada, em que a cabeça toca o chão. Já na posição prostração, é demonstrada um maior estado de calma e concentração e redução da tensão, o que correlaciona a frequência Alfa com estados de mente relaxados.
3.3. O conceito dos ateus e a influência cerebral
O ateísmo, é considerado como um conceito onde os indivíduos não acreditam na existência de Deus, ou qualquer representação divina e espirituosa, bem como as religiões. Um estudo recente avaliou as relações entre sintomas de trauma, enfrentamento e sofrimento psicológico, relacionados à pandemia da covid-19 em 53 indivíduos ateus e religiosos americanos. Foi então demonstrado não haver diferenças estatisticamente significativas em relação a ambos os grupos (Abbott, 2021).
É fato de que a religião pode exercer uma influência poderosa no comportamento humano, incluindo o suicídio, por ser considerado um pecado muito grande em algumas religiões. Sendo assim, um estudo avaliou a influência das diferentes religiões; budismo, tradicionais africanas e ateus. O estudo demonstrou que mesmo com a influência religiosa tais, indivíduos podem cometer suicídio apesar de sua crença. Sendo assim, tanto ateus quanto pessoas praticantes de religiões, quando se encontram doentes, podem cometer tal ato (Alonzo, 2021).
4. Considerações finais
A fé pode transformar, apesar de não ouvirmos as formigas emitirem sons, não é por isso que seja irreal o fato. Sendo assim, é fato que a religião pode ser um fator preservador da vida podendo auxiliar o indivíduo a tratar uma patologia como a depressão ou ansiedade, podendo evitar até mesmo o suicídio, porém essa não é uma regra.
Aqueles que seguem uma determinada religião, desenvolvem sentimentos e sensações de fé, esperança e bem-estar, quando praticados atos relacionados a sua religião. Em contrapartida, os indivíduos considerados ateus, aqueles que não seguem e não acreditam em nenhuma religião, apenas de não terem este apego, não sentem falta de tal, sentem sensações de esperança e bem-estar relacionadas a demais atitudes concretas.
5. REFERENCIAS
DORMAN, D.A. A Theology of Neediness and Evangelism. J Christ Nurs. 2019 v. 36 n.3 págs. 178-179. doi: 10.1097/CNJ.0000000000000623.
MUHREL, E. Do humans own themselves? Questions concerning their self-determination and free disposition of self. Christ Bioeth. 2003 n. 9, v. 2 e3 págs. 303-314. doi: 10.1076/chbi.9.2.303.30290.
KARAKIS, I. Neuroscience and Greek mythology. J Hist Neurosci. n. 28, v. 1 págs. 21-22, 2019 doi: 10.1080/0964704X.2018.1522049
CHARLIER P, Saudamini D, Lippi D, Perciaccante A, Appenzeller O, Bianucci R. The cerebrovascular health of Thomas Aquinas. Lancet Neurol. n. 16 v. 7 e502, 2017. doi: 10.1016/S1474-4422(17)30177-1
BARNES, M.E., Truong, J.M., Grunspan, D.Z., Brownell, S.E. Are scientists biased against Christians? Exploring real and perceived bias against Christians in academic biology. PLoS One. n. 29 v. 15 e0226826, 2020 doi: 10.1371/journal.pone.0226826.
DOUFESH, H., Faisal, T., Lim, K. S., Ibrahim, F. (2012). EEG spectral analysis on Muslim prayers. Applied psychophysiology and biofeedback, v. 37, n. 1 págs.11-18, 2012 doi: 10.1007/s10484-011-9170-1
HAAS, L.F. Aureolus Philippus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim or Paracelsus. J Neurol Neurosurg Psychiatry. n. 54 v. 11 e948 págs. 1493-1541, 1991 doi: 10.1136/jnnp.54.11.948.
KRAEPELIN E, Freud S, Healy D. Kraepelin-fraud syndrome. Med Hypotheses. n. 72 v. 4 págs. 378-80, 2009 doi: 10.1016/j.mehy.2008.12.025.
NEWBERG, A. Como Deus pode mudar sua mente: Um diálogo entre fé e neurociência. ed. Prumo, 2009
NEWBERG, A.B., Wintering, N.A., Yaden, D.B. Waldman, M.R. A case series study of the neurophysiological effects of altered states of mind during intense Islamic prayer. J. Physiol. v.109, n.4, 2015 http://dx.doi.org/10.1016/j.jphysparis.2015.08.001
PARGAMENT, K.I. LOMAX, J.W. Understanding and addressing religion among people with mental illness. World Psych, Londres, v. 12, n. 1, p. 26-32, 2013.
ALMEIDA, M.A., KOENIG, H.G., LUCCHETTI, G., Clinical implications of spirituality to mental health: review of evidence and practical guidelines. Revista Brasileira de Psiquiatria n. 36, págs. 176-182, 2014 doi:10.1590/1516-4446-2013-1255
ABBOTT, D.M., Franks, A.S. Coping with COVID-19: An Examination of the Role of (Non)Religiousness/(Non)Spirituality. J Relig Health. n. 60 v. 4 págs. 2395-2410, 2021 doi:10.1007/s10943-021-01284-9
ALONZO, D., Gearing, R.E. Suicide Across Buddhism, American Indian-Alaskan Native, and African Traditional Religions, Atheism and Agnosticism: An Updated Systematic Review. J Relig Health. n. 60 v. 4 págs. 2527-2546, 2021 doi: 10.1007/s10943-021-01202-z
[1] PhD em neurociências, mestre em psicologia, licenciado em biologia e história; também tecnólogo em antropologia com várias formações nacionais e internacionais em neurociências. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat - La Red de Investigadores Latino-americanos, do comitê científico da Ciência Latina, da Society for Neuroscience, maior sociedade de neurociências do mundo nos Estados Unidos e professor nas universidades; de medicina da UDABOL na Bolívia, Escuela Europea de Negócios na Espanha, FABIC do Brasil, investigador cientista na Universidad Santander de México e membro-sócio da APBE - Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva