Gramaticalização do verbo “garantir” no português falado no município de Portel: um exercício sincrônico/funcional
Resumen
O verbo garantir, usado em contexto de primeira pessoa do singular no presente do indicativo, tem se apresentado com frequência no português falado no município de Portel, não somente como um verbo pleno, que apresenta sinônimos como afiançar, afirmar como certo, servir de garantia, asseverar etc., mas também numa forma modal epistêmica, onde o verbo garantir sofre uma reanálise que mostra um uso funcional indicativo da crença, opinião ou certeza do falante. O verbo “garanto” em seu uso epistêmico indica um grau de subjetividade onde o falante é fonte direta da informação vinculada ao discurso e ao falar de uma situação que mostra probabilidade. O falante projeta seu enunciado para um mundo de possibilidades, hipotético. O que nos motiva para os estudos de gramaticalização é o vasto campo que encontramos para estas pesquisas, pois nos parece ser muito comum, por exemplo, verbos da língua portuguesa passarem por reanálise ou ‘dessematizarem’ em contextos específicos, passando de itens lexicais para categorias gramaticais na língua. Este artigo pretende estudar um uso particularizado do verbo garantir, que parece passar de uma forma menos gramatical para outra mais gramatical, ocorrendo no final de uma sentença e funcionando como uma reafirmação da proposição do enunciado, na variedade falada no município de Portel, na Ilha do Marajó. A metodologia privilegia o discurso espontâneo extraído de um colaborador em momentos rotineiros. Foram selecionadas algumas sentenças construídas com o verbo garantir na flexão de primeira pessoa do singular do presente do indicativo. O objetivo deste exercício de gramaticalização com o verbo garantir é realizar uma análise sincrônica considerando os aspectos morfossintáticos e discursivos desta realização particular da construção verbal nos usos de falantes do município de Portel, no Marajó.